Um líbio (berbere), um núbio (sudanês oriental), um sírio (semita) e um egípcio, representados por um artista desconhecido num mural da tumba do Faraó Seti I, que reinou de 1290 a 1279 aC. |
A transcrição de um artigo de Miguel Mealha Estrada, publicado no Observador a 24 de Junho de 2019, a transcrição do meu comentário ao dito artigo, algumas imagens, as fontes e referências.
A ignorância e o abuso de “raça”
no extremismo da política inimiga da Ciência e do Humanismo
Por Miguel Mealha Estrada no Observador a 24 de Junho de 2019, às 00:46.
As pequenas diferenças que se notam no Homo sapiens são fatores adaptativos à área geográfica onde vivem, que influencia a cor dos olhos, a pigmentação da pele, a altura, entre outros poucos elementos
Num mar de desinformação científica, o qual inclui a genética, assistimos cada vez mais à proliferação da iliteracia científica, muita com intuitos nefastos com o propósito de consolidar o populismo que cimenta as políticas extremistas, alimentando os mais vulneráveis com respostas falsas, não científicas e exponencialmente perigosas.
Mas, ideologias à parte, vamos dar uma olhada à realidade e ver o que nos diz a ciência. Como irão ver, o assunto é extremamente complexo.
Se olharmos para a história da taxonomia do conceito de ‘raça’, entramos num oceano de disparidades pseudocientíficas (embora tenhamos em conta o rudimentar conhecimento científico da altura, e por tal temos de dar um desconto). Já no começo da ciência europeia moderna, podemos atribuir no século XVIII o início da arte da taxonomia botânica, animal e humana ao botânico e médico Carl Linnaeus. Foi provavelmente o pai da taxonomia do mundo vegetal e animal.
Contudo ainda nos dias de hoje temos cientistas que abusam e deturpam a ciência perante as suas convicções ideológicas e políticas. Existem cientistas que são aliados à extrema-direita, deturpando a ciência à medida da sua crença. Mas talvez o pior sejam os cientistas bem-intencionados (felizmente cada vez menos) que continuam a usar uma terminologia taxonómica que sugere o conceito de ‘raças’, pelo único propósito de se referirem a um grupo, confundindo ainda mais a ciência.
Mas afinal o conceito de raça existe?
A realidade é que é absolutamente inútil tentar dividir a nossa espécie Homo sapiens em termos de raça. Tem sido demonstrado cada vez mais que subdividir o Homo sapiens em diferentes unidades raciais, numa análise objetivamente científica, é uma tarefa falaciosa e completamente inútil.
Mas porquê? Bom, aqui entra a complexidade da coisa.
A biologia molecular comparativa continua o seu estudo em foco geográfico para determinar diferenças entre populações, e não fazer algum atentado à taxonomia de ‘raça’. Isto é ciência.
Sem dúvida nenhuma que ainda existe debate dentro da ciência em relação às diferentes possibilidades de taxonomias entre populações e nos métodos científicos para atingir consenso. Isto é saudável, pois existe a necessidade, para compreender e estudar os nossos ecossistemas e biodiversidade, de uma linguagem que denomine um certo tipo de conhecimento.
Contudo o que os cientistas reconhecem que tais métodos não são aplicáveis para a classificação de variantes dentro das próprias espécies, que são as unidades fundamentais de análise quando examinamos e estudamos a estrutura da vida.
O Homo sapiens é o recém-chegado da nossa linhagem evolutiva. Em termos evolutivos, fisicamente as variações na nossa espécie são na realidade uma minoria em relação à totalidade do genoma, e só podem ser compreendidas através do prisma do nosso processo evolutivo e geográfico.
A variação entre espécies é extremamente crucial para a sobrevivência e adaptação da nossa espécie. Relembremo-nos que a evolução não se foca de maneira nenhuma com uma finalidade de atingir uma perfeição, e nem sempre se conforma ao fenómeno de adaptação para evoluir como se pensava. Já Charles Darwin sublinhava que o essencial à evolução não é propriamente adaptação, mas sim o conceito de variação, tanto entre espécies, como muito importantemente, intra-espécies. E porque é a variação numa espécie essencial à sobrevivência e evolução dessa espécie? Simplesmente porque a variação consegue oferecer a melhor solução a algum problema adaptativo. Se há um problema evolutivo, por exemplo, a nível de doença, se não existisse variação que pudesse oferecer a melhor resposta a esse problema, o problema ficaria com as ferramentas genéticas que existissem, muito provavelmente guiando-nos à extinção.
Vamos agora dar uma breve olhada em algumas problemáticas na replicação do ADN, pois é essencial compreender este aspeto. É precisamente este aspeto de replicação que é extremamente importante em como atua o conceito de variação entre espécies e se elimina cientificamente do vocabulário o termo de ‘raça’.
O ADN é a peça central à reprodução de organismos, que também nos elucida em relação à grande diversidade em que a vida no planeta evolveu. Contudo a nota preliminar e importante é termos a noção que a replicação do ADN não é sempre exata. Na realidade alguns defeitos e erros podem ocorrer e até com alguma frequência. Estes defeitos e erros têm a denominação de mutações.
Vários fatores podem gerar este fenómeno. Vamos ver por exemplo o caso Seleção Natural: esta irá dar atenção a uma nova variante ou mutação em 3 sentidos diferentes. Pode ver a mutação como benéfica, em que então irá ficar em favor (e propagar) essa mesma nova mutação; pode ver essa mesma mutação como patogénica, e pelos seus mecanismos eliminar essa mesma mutação da população; ou poderá considerar essa mutação como neutra, à qual não dará importância.
Aqui entramos na área complicada na taxonomia da temática de ‘raça’. Qualquer subdivisão de uma espécie em subespécies não é geneticamente e em termos taxonómicos viável, pois não existem hipóteses de objetivamente e cientificamente em determinar a identificação de diferenciação de subespécies. Neste prisma o processo de reprodução não tem implicação, ou qualquer outro critério pois não passa de semântica subjetiva.
Na realidade, as pequenas diferenças que se notam no Homo sapiens são fatores adaptativos à área geográfica onde habitam, que influencia a cor dos olhos, a pigmentação da pele ou a altura entre outros poucos elementos.
A cultura também exerce um peso em certas diferenciações — contudo a falta dela, especialmente a científica, exerce um peso maior, quando a beleza da biologia e ciência cai nas mãos dos ignorantes, que usam a complexidade da biodiversidade para alimentar crenças populistas. Mais uma vez faz-se um apelo ao governo para que insista na educação científica da população, pois a falta dela certamente alimenta o extremismo, a ignorância, a intolerância e um atalho ao supermercado do pronto-a-pensar.
É desta ignorância que se alimenta a extrema-direita, pois é fácil compreender o mundo com a ignorância. Saber dá mais trabalho, mas compensa.
O conceito de ‘raça’ é um constructo social. Só existe uma espécie: Homo sapiens.
Especialista em Neurodesenvolvimento
Por Álvaro Aragão Athayde no Observador a 25 de Junho de 2019, às 07:47.
Negar a existência de Raças Humanas é, tal como negar a existência do Movimento do Sol, total falta de senso comum… e de bom senso.
O Movimento do Sol é aparente?
É, sabemos-lo hoje, mas há não muitos anos.
Mas o facto de o Movimento do Sol ser aparente não nos impede de ver o Sol surgir a Oriente, cruzar o céu e desaparecer a Ocidente.
Existe uma espécie Homo sapiens sapiens e todos os Homo sapiens actualmente vivos são dessa espécie?
É, sabemos-lo hoje e, curiosamente, sabemos-lo há muitos séculos.
E sabemos-lo há muitos séculos tal como sabemos há muitos séculos que cães e gatos, ou burros e cavalos, são de espécies diferentes.
Animais da mesma espécie cruzam-se e têm crias férteis, animais de espécies diferentes não se cruzam ou, caso se cruzem, têm crias não férteis.
Mas isso acarreta que um Banto seja igual a um Chinês, ou u Esquimó a um Siciliano?
Todos sabemos que não!
Os problemas criados pelas teorias de Joseph Arthur de Gobineau, um Francês, e Francis Galton, um Inglês, não se resolvem via negação da realidade dos factos.
Fontes
- “Raças humanas”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 13h29min de 15 de junho de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019. & “Controvérsia racial do Antigo Egito”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 16h24min de 27 de março de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019.
- “A ignorância e o abuso de “raça” no extremismo da política inimiga da Ciência e do Humanismo”. Miguel Mealha Estrada. Observador. Publicado a 24 de Junho de 2019, às 00:46. Recuperado a 02 de Julho de 2019, às 16:57.
- “Raça”. Wikiquote. Esta página foi editada pela última vez às 03h01min de 10 de agosto de 2015. Recuperada às 19h20min de 02 de julho de 2019. & “Racismo científico”. Wikipedia. Esta página se editó por última vez el 1 jul 2019 a las 11:33. Recuperada el 01 jul 2019 a las 19:20. & “Racism”. Wikipedia. This page was last edited on 28 June 2019, at 13:15 (UTC). Retrieved on 02 July 2019, at 18:20 (UTC).
Referências
- “Raças humanas”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 13h29min de 15 de junho de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019.
- “Maldición de Ham”. Wikipedia. Esta página se editó por última vez el 9 feb 2019 a las 05:12. Recuperada el 02 jul 2019 a las 22:00.
- “Racismo científico”. Wikipedia. Esta página se editó por última vez el 1 jul 2019 a las 11:33. Recuperada el 01 jul 2019 a las 19:20.
- “Racism”. Wikipedia. This page was last edited on 28 June 2019, at 13:15 (UTC). Retrieved on 02 July 2019, at 18:20 (UTC).
- “Racisme antiblanc”. Wikipédia. La dernière modification de cette page a été faite le 30 juin 2019 à 20:23. Récupéré le 02 juillet 2019 à 21:54.
- “Controvérsia racial do Antigo Egito”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 16h24min de 27 de março de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019.
- “Arthur de Gobineau”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 19h05min de 1 de junho de 2019. Recuperada às 20h01min de 02 de julho de 2019.
- “Francis Galton”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 16h46min de 28 de junho de 2019. Recuperada às 20h03min de 02 de julho de 2019.
- “Joaquim Pedro de Oliveira Martins”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 18h25min de 15 de maio de 2019. Recuperada às 20h05min de 02 de julho de 2019.
- “Eugenia”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 20h06min de 25 de junho de 2019. Recuperada às 21h34min de 02 de julho de 2019.
- “Movimento eugenista”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 01h54min de 26 de abril de 2019. Recuperada às 21h36min de 02 de julho de 2019.
- “Galton Institute”. Wikipedia. This page was last edited on 14 April 2019, at 11:34 (UTC). Retrieved on 02 July 2019, at 20:43 (UTC).
- “O deplorável racismo de Oliveira Martins, neurastenia oitocentista e o mito ariano”. Joaquim Magalhães de Castro. Facebook de “Nova Portugalidade”. Publicado a 19 de Fevereiro de 2018, às 12:54. Publicado a 19 de Fevereiro de 2018, às 12:54. Recuperado a 02 de Julho de 2019, às 20:14.
- O Brasil e as Colónias Portuguezas (5,º edição, augmentada). J. P. Oliveira Martins. Parceria Antonio Maria Pereira. Lisboa. 1920. Recuperado a 02 de Julho de 2019, às 20:25.
Etiqueta principal: Racismo.
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