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2 de julho de 2019

Raças Humanas e Racismo

Um líbio (berbere), um núbio (sudanês oriental), um sírio (semita) e um egípcio,
representados por um artista desconhecido
num mural da tumba do Faraó Seti I, que reinou de 1290 a 1279 aC.



A transcrição de um artigo de Miguel Mealha Estrada, publicado no Observador a 24 de Junho de 2019, a transcrição do meu comentário ao dito artigo, algumas imagens, as fontes e referências.



A ignorância e o abuso de “raça” 
no extremismo da política inimiga da Ciência e do Humanismo

Por Miguel Mealha Estrada no Observador a 24 de Junho de 2019, às 00:46.

As pequenas diferenças que se notam no Homo sapiens são fatores adaptativos à área geográfica onde vivem, que influencia a cor dos olhos, a pigmentação da pele, a altura, entre outros poucos elementos

Num mar de desinformação científica, o qual inclui a genética, assistimos cada vez mais à proliferação da iliteracia científica, muita com intuitos nefastos com o propósito de consolidar o populismo que cimenta as políticas extremistas, alimentando os mais vulneráveis com respostas falsas, não científicas e exponencialmente perigosas.

Mas, ideologias à parte, vamos dar uma olhada à realidade e ver o que nos diz a ciência. Como irão ver, o assunto é extremamente complexo.

Se olharmos para a história da taxonomia do conceito de ‘raça’, entramos num oceano de disparidades pseudocientíficas (embora tenhamos em conta o rudimentar conhecimento científico da altura, e por tal temos de dar um desconto). Já no começo da ciência europeia moderna, podemos atribuir no século XVIII o início da arte da taxonomia botânica, animal e humana ao botânico e médico Carl Linnaeus. Foi provavelmente o pai da taxonomia do mundo vegetal e animal.

Contudo ainda nos dias de hoje temos cientistas que abusam e deturpam a ciência perante as suas convicções ideológicas e políticas. Existem cientistas que são aliados à extrema-direita, deturpando a ciência à medida da sua crença. Mas talvez o pior sejam os cientistas bem-intencionados (felizmente cada vez menos) que continuam a usar uma terminologia taxonómica que sugere o conceito de ‘raças’, pelo único propósito de se referirem a um grupo, confundindo ainda mais a ciência.

Mas afinal o conceito de raça existe?

A realidade é que é absolutamente inútil tentar dividir a nossa espécie Homo sapiens em termos de raça. Tem sido demonstrado cada vez mais que subdividir o Homo sapiens em diferentes unidades raciais, numa análise objetivamente científica, é uma tarefa falaciosa e completamente inútil.

Mas porquê? Bom, aqui entra a complexidade da coisa.

A biologia molecular comparativa continua o seu estudo em foco geográfico para determinar diferenças entre populações, e não fazer algum atentado à taxonomia de ‘raça’. Isto é ciência.

Sem dúvida nenhuma que ainda existe debate dentro da ciência em relação às diferentes possibilidades de taxonomias entre populações e nos métodos científicos para atingir consenso. Isto é saudável, pois existe a necessidade, para compreender e estudar os nossos ecossistemas e biodiversidade, de uma linguagem que denomine um certo tipo de conhecimento.

Contudo o que os cientistas reconhecem que tais métodos não são aplicáveis para a classificação de variantes dentro das próprias espécies, que são as unidades fundamentais de análise quando examinamos e estudamos a estrutura da vida.

Homo sapiens é o recém-chegado da nossa linhagem evolutiva. Em termos evolutivos, fisicamente as variações na nossa espécie são na realidade uma minoria em relação à totalidade do genoma, e só podem ser compreendidas através do prisma do nosso processo evolutivo e geográfico.

A variação entre espécies é extremamente crucial para a sobrevivência e adaptação da nossa espécie. Relembremo-nos que a evolução não se foca de maneira nenhuma com uma finalidade de atingir uma perfeição, e nem sempre se conforma ao fenómeno de adaptação para evoluir como se pensava. Já Charles Darwin sublinhava que o essencial à evolução não é propriamente adaptação, mas sim o conceito de variação, tanto entre espécies, como muito importantemente, intra-espécies. E porque é a variação numa espécie essencial à sobrevivência e evolução dessa espécie? Simplesmente porque a variação consegue oferecer a melhor solução a algum problema adaptativo. Se há um problema evolutivo, por exemplo, a nível de doença, se não existisse variação que pudesse oferecer a melhor resposta a esse problema, o problema ficaria com as ferramentas genéticas que existissem, muito provavelmente guiando-nos à extinção.

Vamos agora dar uma breve olhada em algumas problemáticas na replicação do ADN, pois é essencial compreender este aspeto. É precisamente este aspeto de replicação que é extremamente importante em como atua o conceito de variação entre espécies e se elimina cientificamente do vocabulário o termo de ‘raça’.

O ADN é a peça central à reprodução de organismos, que também nos elucida em relação à grande diversidade em que a vida no planeta evolveu. Contudo a nota preliminar e importante é termos a noção que a replicação do ADN não é sempre exata. Na realidade alguns defeitos e erros podem ocorrer e até com alguma frequência. Estes defeitos e erros têm a denominação de mutações.

Vários fatores podem gerar este fenómeno. Vamos ver por exemplo o caso Seleção Natural: esta irá dar atenção a uma nova variante ou mutação em 3 sentidos diferentes. Pode ver a mutação como benéfica, em que então irá ficar em favor (e propagar) essa mesma nova mutação; pode ver essa mesma mutação como patogénica, e pelos seus mecanismos eliminar essa mesma mutação da população; ou poderá considerar essa mutação como neutra, à qual não dará importância.

Aqui entramos na área complicada na taxonomia da temática de ‘raça’. Qualquer subdivisão de uma espécie em subespécies não é geneticamente e em termos taxonómicos viável, pois não existem hipóteses de objetivamente e cientificamente em determinar a identificação de diferenciação de subespécies. Neste prisma o processo de reprodução não tem implicação, ou qualquer outro critério pois não passa de semântica subjetiva.

Na realidade, as pequenas diferenças que se notam no Homo sapiens são fatores adaptativos à área geográfica onde habitam, que influencia a cor dos olhos, a pigmentação da pele ou a altura entre outros poucos elementos.

A cultura também exerce um peso em certas diferenciações — contudo a falta dela, especialmente a científica, exerce um peso maior, quando a beleza da biologia e ciência cai nas mãos dos ignorantes, que usam a complexidade da biodiversidade para alimentar crenças populistas. Mais uma vez faz-se um apelo ao governo para que insista na educação científica da população, pois a falta dela certamente alimenta o extremismo, a ignorância, a intolerância e um atalho ao supermercado do pronto-a-pensar.

É desta ignorância que se alimenta a extrema-direita, pois é fácil compreender o mundo com a ignorância. Saber dá mais trabalho, mas compensa.

O conceito de ‘raça’ é um constructo social. Só existe uma espécie: Homo sapiens.

Especialista em Neurodesenvolvimento




Uma ilustração do final do século XIX, de Ireland from One or Two Neglected Points of View por H. Strickland Constable, mostra uma alegada semelhança entre as características Irlandesa Ibérica e Negra em contraste com as superiores características Anglo-Teutónica.
A legenda que acompanha a figura reza o seguinte: Acredita-se que os ibéricos tenham sido originalmente uma raça Africana que, há milhares de anos e através da Espanha, se espalharam pela Europa Ocidental. Seus restos mortais são encontrados em túmulos, ou locais de enterramento, em diversas partes desses países. Os crânios são do tipo de baixo prognatismo. Eles vieram para a Irlanda e misturaram-se com os nativos do Sul e do Oeste, que se supõe terem sido de tipo inferir e descendentes de selvagens da Idade da Pedra, que, em consequência do isolamento do resto do mundo, nunca tinham sido superados na saudável luta pela vida, e assim abriu o caminho, de acordo com as leis da natureza, às raças superiores.



Raças Humanas e Racismo

Por Álvaro Aragão Athayde no Observador a 25 de Junho de 2019, às 07:47.

Negar a existência de Raças Humanas é, tal como negar a existência do Movimento do Sol, total falta de senso comum… e de bom senso.

O Movimento do Sol é aparente?

É, sabemos-lo hoje, mas há não muitos anos.

Mas o facto de o Movimento do Sol ser aparente não nos impede de ver o Sol surgir a Oriente, cruzar o céu e desaparecer a Ocidente.

Existe uma espécie Homo sapiens sapiens e todos os Homo sapiens actualmente vivos são dessa espécie?

É, sabemos-lo hoje e, curiosamente, sabemos-lo há muitos séculos.

E sabemos-lo há muitos séculos tal como sabemos há muitos séculos que cães e gatos, ou burros e cavalos, são de espécies diferentes.

Animais da mesma espécie cruzam-se e têm crias férteis, animais de espécies diferentes não se cruzam ou, caso se cruzem, têm crias não férteis.

Mas isso acarreta que um Banto seja igual a um Chinês, ou u Esquimó a um Siciliano?

Todos sabemos que não!

Os problemas criados pelas teorias de Joseph Arthur de Gobineau, um Francês, e Francis Galton, um Inglês, não se resolvem via negação da realidade dos factos.



Fontes
  1. Raças humanas”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 13h29min de 15 de junho de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019. &Controvérsia racial do Antigo Egito”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 16h24min de 27 de março de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019.
  2. A ignorância e o abuso de “raça” no extremismo da política inimiga da Ciência e do Humanismo”. Miguel Mealha Estrada. Observador. Publicado a 24 de Junho de 2019, às 00:46. Recuperado a 02 de Julho de 2019, às 16:57. 
  3. Raça”. Wikiquote. Esta página foi editada pela última vez às 03h01min de 10 de agosto de 2015. Recuperada às 19h20min de 02 de julho de 2019. &Racismo científico”. Wikipedia. Esta página se editó por última vez el 1 jul 2019 a las 11:33. Recuperada el 01 jul 2019 a las 19:20. &Racism”. Wikipedia. This page was last edited on 28 June 2019, at 13:15 (UTC). Retrieved on 02 July 2019, at 18:20  (UTC).

Referências
  1. Raças humanas”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 13h29min de 15 de junho de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019.
  2. Maldición de Ham”. Wikipedia. Esta página se editó por última vez el 9 feb 2019 a las 05:12. Recuperada el 02 jul 2019 a las 22:00.
  3. Racismo científico”. Wikipedia. Esta página se editó por última vez el 1 jul 2019 a las 11:33. Recuperada el 01 jul 2019 a las 19:20.
  4. Racism”. Wikipedia. This page was last edited on 28 June 2019, at 13:15 (UTC). Retrieved on 02 July 2019, at 18:20  (UTC).
  5. Racisme antiblanc”. Wikipédia. La dernière modification de cette page a été faite le 30 juin 2019 à 20:23. Récupéré le 02 juillet 2019 à 21:54.
  6. Controvérsia racial do Antigo Egito”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 16h24min de 27 de março de 2019. Recuperada às 10h09min de 02 de julho de 2019.
  7. Arthur de Gobineau”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 19h05min de 1 de junho de 2019. Recuperada às 20h01min de 02 de julho de 2019.
  8. Francis Galton”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 16h46min de 28 de junho de 2019. Recuperada às 20h03min de 02 de julho de 2019.
  9. Joaquim Pedro de Oliveira Martins”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 18h25min de 15 de maio de 2019. Recuperada às 20h05min de 02 de julho de 2019.
  10. Eugenia”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 20h06min de 25 de junho de 2019. Recuperada às 21h34min de 02 de julho de 2019.
  11. Movimento eugenista”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 01h54min de 26 de abril de 2019. Recuperada às 21h36min de 02 de julho de 2019.
  12. Galton Institute”. Wikipedia. This page was last edited on 14 April 2019, at 11:34 (UTC). Retrieved on 02 July 2019, at 20:43 (UTC).
  13. O deplorável racismo de Oliveira Martins, neurastenia oitocentista e o mito ariano”. Joaquim Magalhães de Castro. Facebook de “Nova Portugalidade”. Publicado a 19 de Fevereiro de 2018, às 12:54. Publicado a 19 de Fevereiro de 2018, às 12:54. Recuperado a 02 de Julho de 2019, às 20:14.
  14. O Brasil e as Colónias Portuguezas (5,º edição, augmentada). J. P. Oliveira Martins. Parceria Antonio Maria Pereira. Lisboa. 1920. Recuperado a 02 de Julho de 2019, às 20:25.


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