Páginas

23 de setembro de 2020

Castelhanos e Portugueses


 

Os Castelhanos são Quixotes

Investem contra os gigantes e contra os moinhos, que não distinguem lá muito bem uns dos outros.


Os Portugueses são Panças

Deitam-se à sombra dos moinhos esperando que os gigantes também se deitem para, com pouco esforço, os decapitarem.



Imagem em




Etiqueta principal: Natureza dos Povos.

19 de setembro de 2020

A Questão Colonial: Um prolegómeno.

Um mapa que é todo um programa: “Portugal não é um país pequeno”.
Estava em todas as escolas do país.
E fora organizado por Henrique Galvão, que mais tarde se tornaria um temível opositor de Salazar (porquê?).


Muito se debateu e se debate, em Portugal e no seu Império, ou Antigo Império, ou CPLP, a Questão Colonial, ou a Questão do Ultramar, como preferirem, e eu gostaria de colocar uma questão, uma questão preliminar:

O Além-Mar, as Colónias, o Ultramar, 
como preferirem, 
faziam, ou não, parte integrante da Pátria?

Norton de Matos e Salazar achavam que sim. Cunha Leal e Marcello Caetano achavam que não. 


Os primeiros, como achavam que sim, achavam que era tão traição à pátria, abandonar, vender, trocar, Goa, quando o seria abandonar, vender, trocar, o Algarve


Os segundos, como achavam que não, estavam abertos à hipótese de abandonar, vender, trocar, Goa, mas não à de abandonar, vender, trocar, o Algarve.


Esta é a questão preliminar que coloco:

Parece-me que existiram, e existem, duas concepções de Portugal.

Para uns Portugal era, e é, só o Rectângulo Ibérico. Um território actualmente designado por Continente, mas que já foi designado por Metrópole e por Reino.

Para outros Portugal era, e é, esse mesmo Rectângulo e muito mais.

Esta questão decorre:
  • Da leitura, ainda não terminada, dos dois livros que José António Saraiva recentemente publicou.
  • Da leitura, já terminada, de um ensaio publicado por Vasco Pulido Valente em 2003. 
  • Da constatação de que ascensão da China, do Irão, da Rússia, e a descensão dos Estados Unidos da América e da União Europeia, colocaram em causa os pressupostos em que se baseou a fundação da actual Terceira Republica Portuguesa.





Fonte (da imagem) e Referências

  1. A guerra colonial na grande estratégia de Salazar”. Fernando Martins. Observador. Publicado a 05 de Outubro de 2014, às 14:12.
  2. Marcello Caetano : as desventuras da razão. Vasco Pulido Valente. Gótica. Publicado em Novembro de 2002.
  3. Salazar - A Queda de uma Cadeira que Não Existia. José António Saraiva. Gradiva. Publicado em Junho de 2020.
  4. Salazar e Caetano - O Tempo em Que Ambos Acreditavam Chefiar o Governo. José António Saraiva. Gradiva. Publicado em Agosto de 2020.







Etiqueta principal: Questão Colonial.

18 de setembro de 2020

A camisa-de-onze-varas

ACORDAI
Música: Fernando Lopes-Graça
Letra: José Gomes Ferreira


Acordai
acordai
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis
vinde no clamor
das almas viris
arrancar a flor
que dorme na raíz

Acordai
acordai
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras do mar
o mundo e os corações

Acordai
acendei
de almas e de sóis
este mar sem cais
nem luz de faróis
e acordai depois
das lutas finais
os nossos heróis
que dormem nos covais
Acordai!




Andando eu a arrumar livros e papéis encontrei, descobri, um texto de que já me não lembrava, um texto que escrevi e publiquei  em 2012, já lá vão 8 (oito) anos. 

Rascunhei-o nos dias 28 e 29 de Abril – versão v.0, manuscripta, terminada às 04:25 de 28, versão v.1, computatuscripta, terminada à 15:43 do mesmo dia, versão v.2, computatuscripta, terminada às 02:20 de 29 –, finalizei-o na Véspera de São João – versão v.2.F, computatuscripta, a final, a que disponibilizei na Dropboxterminada, às 21:35 de 23 de Junho de 2012 – e publiquei-o nessa mesma noite no Facebook, no meu perfil Álvaro Aragão Athayde. A que horas o publiquei não sei precisar porque o Facebook me descriou esse perfil (Um blogue? Porquê?).




Acordai!


Nós, portugueses, estamos metidos numa camisa-de-onze-varas…

Creio bem que já não há quem afirme o contrário!

E, estando-o, a nossa preocupação fundamental é, deverá ser, como é que vamos sair desta?

Como vamos nós portugueses superar esta tão badalada crise?

A primeira e fundamental questão é pois, em minha opinião, a questão de saber se queremos realmente superar a crise e, querendo-o, em que termos o queremos fazer.

Ou seja, a questão fundamental é O QUE É QUE NÓS QUEREMOS?

Eu, por mim, pessoal e familiarmente falando, quero sobreviver, continuando a ser quem sou.

Portanto, e concretizando:
  • Quero continuar a viver, quero continuar a falar português, quero continuar a poder comer joaquinzinhos e a beber vinho verde, quero continuar a dançar a chula e a cantar o fado, a dizer piropos e a fumar Definitivos, a afirmar que Camões é o máximo mas que Vieira não lhe fica atrás, a ler, no original, Herculano, Eça, Castro Alves, Jorge Amado, a declamar Bocage, Pessoa, Gedeão.
  • E quero ter filhos, netos e bisnetos que sigam nesta mesma linha.

Simples e consensual dir-me-ão...

Infelizmente não!

E não porque entre nós há quem não queira sobreviver, os suicidas, e quem queira sobreviver mas mudando de cultura, os arrependidos.

Os suicidas não se afirmam, infelizmente, como suicidas. Os suicidas defendem e realizam,
em nome de grandes princípios, politicas que desencorajam, ou impedem, a natural reprodução humana. E fazem-no, fundamentalmente, desencorajando ou impedindo as mulheres de terem filhos.

Notem que eu não tenho nada contra a libertação da mulher, nem contra a igualdade de género, tenho, isso sim, contra a utilização destas bandeiras com o objectivo de reduzir a natalidade e, por essa via, promover a extinção do grupo.

Se não houver filhos não há netos e, como todos envelhecemos e acabamos por morrer, o não haver filhos nem netos acarreta que iremos diminuindo, diminuindo, e, quando morrer o último, acaba-se.

Morreu o bicho, acabou a peçonha!

Os arrependidos, que também não se afirmam como arrependidos, defendem e realizam, igualmente em nome de altíssimos ideais, políticas culturais que têm em vista, por um lado, desencorajar ou impedir as manifestações que no seu entender são retrógradas ou impróprias e, por outro, encorajar e realizar as que consideram correctas e progressistas.

Quem se não lembra do que aconteceu com o fado nos idos do PREC?

O fado foi oficialmente declarado, pelos autodenominados progressistas, como sendo uma manifestação fascista!

Era a teoria dos três efes: Fado, Fátima e Futebol. As três manifestações máximas do fascismo. As três a serem proscritas, perseguidas, eliminadas para todo o sempre.

Tudo para o bem e o progresso do povo.

Hoje, como é sabido, o fado foi proposto a Património da Humanidade, o futebol é motivo de orgulho nacional e Fátima lá continua...

Os arrependidos também nos costumam brindar com largas laudas ao progresso, ao desenvolvimento, à necessidade de imitarmos o que de verdadeiramente extraordinário se faz nos países que consideram desenvolvidos e progressistas.

Notem que, como no caso anterior, nada tenho nada contra o desenvolvimento, nem contra o progresso. Mas, também como no caso anterior, sou contra facto de estas bandeiras serem usadas para nos levar a macaquear outros países, e a importar, de forma mais ou menos acrítica, toda e qualquer novidade, supostamente extraordinária, que por lá surja!

Recusando eu o partido dos portugueses suicidas e também o partido dos portugueses arrependidos, declaro-me, oficialmente, aqui e agora, militante do partido dos portugueses entusiastas.

Eu quero ser português! Eu gosto de ser português!

Eu quero comer carne de porco à alentejana, beber cartaxol, dançar o vira, cantar o Zeca, declamar a Natália, ler o Mia Couto!

O meu partido é, como diria um certo militante do Partido Comunista Português, o partido do nosso povo!

Bom, já estou a ver muito camarada com os cabelos em pé!

E estão-no porque, supostamente, o meu discurso é um discurso direitista, ultranacionalista, fascista mesmo...

A esses camaradas só lhes digo uma palavra: ACORDAI !

Fernando Lopes-Graça
Acordai!

Acordai e olhai em volta.

O desenvolvimento, o internacionalismo, o futuro, o progresso, já não passam por Milão, por Viena, por Paris, ou por Berlim. Há anos que já não passam...

O desenvolvimento, o internacionalismo, o futuro, o progresso, passam hoje por Brasília, Moscovo, Deli, Pequim, Pretória.

Passam, ainda, por Washington, Tóquio, Londres e suas filhas, ou irmãs: Camberra, Otava, Wellington.

Passarão, dentro de não muito tempo, por Bogotá, Caracas, Luanda, Maputo, México, Teerão.

O Mundo mudou... A Europa já era!

E a isso acresce que a Europa está novamente em guerra intestina. Alemanha, França, Itália disputam-se o comando do efémero Império do bárbaro Carlos Magno.

As Espanhas em geral, Portugal em particular, nunca integraram tal império. Estávamos, à época, em outro campeonato. E em outro campeonato estivemos até há muito pouco tempo.

A Grã-Bretanha também nunca integrou o bárbaro Império... e já começou a desacoplar. Docemente, que a nave é grande...

A minha posição não é pois fascista, nem ultranacionalista, nem direitista sequer. A minha posição é, simplesmente, realista.

Sou português, quero continuar a sê-lo, quero que os meus filhos e netos o sejam. E não quero que nos vejamos envolvidos na disputa da herança de Carlos Magno.

Estes são, a meu ver, os reais interesses do nosso povo.

Repito pois a palavra que acima disse, palavra que o Fernando Lopes Graça melhor e antes já disse: ACORDAI !




Fontes






Etiqueta principal: Fascismo Pós-Moderno.

6 de setembro de 2020

Cidadania, Sectarismo e Bom Senso



A propósito da disciplina de Educação Para a Cidadania, ou Cidadania e Desenvolvimento, as fontes variam, e de dois alunos que, chumbados por faltas à dita disciplina, passaram, primeiro, e chumbaram, depois (por terem sido "despassados"), vai por aí uma grande polémica metendo comunicado públicos, abaixo assinados, artigos nos jornais, entrevistas nas televisões, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Constituição da República Portuguesa, leis várias, a Liberdade de Educação dos pais, ou das famílias, o Direito à Objecção de Consciência dos ditos pais, ou famílias (caso não concordem com os conteúdos das disciplinas, em geral, desta em particular), polémica, e assunto, sobre os quais pretendo também dizer umas coisinhas.

Entretanto, e dado que Isabel Stilwell já publicou no Jornal de Negócios um artigo sobre este tema, artigo que muito me agradou e com o qual concordo a quase 100%, vou começar por transcrever o dito artigo.


Eu também nunca teria ido à escola

Felizmente, os meus pais acreditavam em si próprios. No seu exemplo, e nos nossos neurónios. Acreditavam na força dos argumentos com que defendiam os seus valores, na fundamentação das suas convicções, e na nossa capacidade para aprender a esgrimir as nossas, mesmo em ambientes hostis.

Por Isabel Stilwell no Jornal de Negócios a 01 de Setembro de 2020 às 19:39

A notícia anda pelos jornais, pelas redes sociais com cartas abertas e petições, mas o essencial conta-se em poucas linhas: um pai impediu os dois filhos de 12 e 15 anos de frequentarem as aulas de Cidadania e Desenvolvimento, disciplina obrigatória. Faltas que a lei considera obrigarem o aluno a chumbar o ano. Neste caso dois, por uma série de peripécias, entre as quais o facto de a família ter recusado as tentativas da escola/agrupamento/ CPCJ/Ministério da Educação para encontrar uma solução. Foi-lhe proposto que substituíssem a frequência das aulas por trabalhos de projeto escolhendo, por exemplo, o tema da literacia financeira ou a declaração dos Direitos do Homem, mas o pai recusou, porque defende que o que está em causa é a disciplina em si, e o direito dos pais à “objeção de consciência”. Numa entrevista à revista Sábado afirma: “Não tem nada a ver com ideologia de género ou sexo. A mesma questão coloca-se em relação à solidariedade ou ao ambiente. São competências que entendemos que são competências dos pais, independentemente de estarmos a falar de ideologia de género, ambiente ou literacia financeira.”

O Ministério da Educação não teve outro remédio senão ser intransigente: sendo assim os alunos têm de chumbar, disse num despacho que uma providência cautelar entreposta pela família suspendeu. A guerra nos tribunais começou, e promete ser longa. Enquanto isto, toda a gente tem uma opinião. E eu não sou exceção.

Se o meu pai tivesse sido como este senhor, nunca me teria mandado à escola, ou pelo menos frequentar a disciplina de História, porque como historiador e inglês que era, discordava violentamente da forma como na escola portuguesa nos era ensinado o episódio do Ultimato. E tinha, sem dúvida nenhuma, recusado que eu continuasse no liceu nos anos quentes do pós-25 de Abril em que a ideologia entrava por todas as disciplinas, independentemente do nome. Católico convicto, não nos teria deixado pôr um pé numa sala de aula onde se dissesse que a “religião era o ópio do povo”. E se o meu pai fosse de uma etnia ou crença religiosa que defendesse que a escola não era para meninas, lá ficava eu em casa, porque a competência da minha mãe para os bordados era insuperável. Se alinhasse pelos criacionistas nunca teria estudado nem Ciências, nem Biologia, e caso fosse primo da Dona Branca, teria insistido em ser ele a “dar-me” literacia financeira.

Mas, felizmente, os meus pais acreditavam em si próprios. No seu exemplo, e nos nossos neurónios. Acreditavam na força dos argumentos com que defendiam os seus valores, na fundamentação das suas convicções, e na nossa capacidade para aprender a esgrimir as nossas, mesmo em ambientes hostis. Acreditavam, até, na nossa liberdade de escolher uma opinião diferente da sua. E tudo isto fora do horário escolar.

Porque sim, o que mais me confunde no histerismo de alguns pais — e nos movimentos e políticos que fazem destes casos bandeira — é a ideia que têm dos seus próprios filhos e dos adolescentes em geral, imaginando que precisam de ser defendidos ao limite (inclusivamente faltando às aulas) das “ideias perigosas”. Ideias que, num sopro, imaginam poder deitar por terra tudo aquilo que lhes ensinaram e que veem em casa, sejam sobre “sexo” ou sobre o “escândalo” de se entoar um cântico de missa na aula de música. Confunde-me que não desejem que os seus filhos, com o seu apoio, evidentemente, se treinem na escola a saber defender os seus pontos de vista. Sinceramente revelam muito pouca confiança nas suas “competências” para educar.

Porque se é verdade que o Estado não pode programar a educação de acordo com certa ideologia, filosofia ou estética, de modo a criar um pensamento único — e contra isso todos os protestos são bem-vindos — isso não significa que as ideologias, a filosofia ou a estética sejam postas fora dos conteúdos escolares. O que importa é que o sejam de uma forma aberta e plural de modo a fomentar o pensamento crítico. E o pensamento crítico só se forma se for exposto ao contraditório.

Nota: Não deixe de ler o Polígrafo sobre o “alerta” do deputado Nuno Melo, que nem acertou no nome da disciplina, chamando-a de “Sexualidade, Género e Interculturalidade”, as três palavrinhas que garantidamente inflamam os pais (às vezes com razão). [Nuno Melo: "Alunos chumbam porque não frequentam aulas de 'Sexualidade, Género e Interculturalidade'". Confirma-se?]



Tentações de Cristo
Por Botticelli, 1481-82, na Capela Sistina, no Vaticano.


Cidadania, Sectarismo e Bom Senso
católico do grego καθολικος (universal)
diabo do grego διάβολος (aquele que separa)
Mateus 4, 8-10
Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, 
mostrando-lhe todos os reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe: 
«Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.» 
Respondeu-lhe Jesus: 
«Vai-te, Satanás, pois está escrito: 
“Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.”»

um
Subscrevo a quase 100% o artigo de Isabel Stilwell. E só não o subscrevo a 100% porque não subscrevo a “dentadinha” no deputado Nuno Melo.

dois 
Que a disciplina de Educação Para a Cidadania, ou Cidadania e Desenvolvimento, as fontes variam, é de índole político-ideológica é, mas a disciplina de Organização Política e Administrativa da Nação, obrigatória entre 1936 e 1974, também o era, e não me consta que pais republicanos, socialistas, comunistas, tivessem invocado fosse o que fosse para evitar que os seus filhos a frequentassem.

três 
O que mais me impressiona na polémica é o sectarismo e falta de bom senso que a mesma revela. A ideia é tribalizar Portugal? Recuar aos saudosos tempos da República Afonsista, da Guerra dos Dois Irmãos, das Invasões Francesas?




Fontes e referências
  1. Cidadania e Educação: Seus reflexos na formação.”. Instituto Vida Cidadã. Sem data de publicação. Recuperado a 05 de Setembro de 2020 às 20:07 UTC+1.
  2. Eu também nunca teria ido à escola”. Isabel Stilwell. Jornal de Negócios. Publicado a 01 de Setembro de 2020 às 19:39.
  3. Tentação de Cristo”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 21h36min de 9 de abril de 2020.
  4. católico”. Wikcionário. Esta página foi editada pela última vez às 02h25min de 30 de abril de 2017.
  5. diabo”. Wikcionário. Esta página foi editada pela última vez às 08h09min de 30 de abril de 2020.
  6. Bíblia Sagrada”. Difusora Bíblica. Publicada a 13 de Maio de 2001.
  7. Cidadania”. Wikipédia. Esta página foi editada pela última vez às 13h12min de 24 de junho de 2020.
  8. Educação para a Cidadania”. Direção-Geral da Educação (DGE). Sem data de publicação. Recuperado a 06 de Setembro de 2020 às 08:27 UTC+1.






Etiqueta principalPolítica à Portuguesa.