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26 de dezembro de 2020

Identidades e Poder

 


Um artigo de Nelson Faria, da Sociedade de Jesus, e um comentário meu.


Quem semeia identidades, colhe tempestades

Os interesses identitários estão a arrastar-nos para um estado de tempestade social. A necessária correção de trajetória advirá através da redescoberta do bem comum, e do restabelecer da confiança mútua.

Por P. Nelson Faria, sj em Ponto SJ a 21 de Dezembro de 2020.

Alegro-me com o momento atual de atenção generalizada à discriminação e às injustiças que assolam a nossa sociedade. Mas não resisto a franzir o sobrolho quando me encontro diante de comentários como “és homem, não entendes”, “por seres branco não compreendes”, ou ainda “se discordas és homófobo”. Naturalmente, pelo ódio e exclusão que já despoletam, perturbo-me mais quando escuto “volta para a tua terra”, “o lugar da mulher é na cozinha” ou “homossexualidade é perversão”. Contudo, creio que em todas elas encontramos um excesso de sentimento e um défice de razão.

Tem-se generalizado um tipo de discurso no espaço público em que o que releva não é a opinião, os valores e o caráter de alguém, mas sim a cor da sua pele, a sua orientação sexual, o seu género, ou a tradição religiosa a que pertence. Esta pulsão para identificar o sujeito com um coletivo é acompanhada por uma tendência em reduzir a complexidade das nossas relações em sociedade e toda a nossa história partilhada, a dois papéis sociais “todo-explicativos”: privilegiados e oprimidos. Isto é, em função do coletivo em que somos incluídos, somos opressores ou vítimas, e seremos julgados como tal.

Há uma degradação da nossa capacidade de pensar e sonhar juntos.

Abundam narrativas de vitimização em que o “nós” se restringe à “identidade de pertença”, seja ela ser homem ou mulher, ser nacional ou estrangeiro, ser branco ou negro, heterossexual ou LGBT+. Aparentemente, parece que nos esquecemos que, além das “identidades de pertença” – centradas no género, ideologia, nacionalidade, orientação sexual, ou sectarismos religiosos – existem também “comunidades de pertença” – como família, bairro, cidade, nação e, no seio da Igreja católica, paróquias. Nestas, a primeira pessoa do plural – “nós” – pode ser conjugada de forma a incluir outros que não se encontram dentro do meu campo de afinidades ideológicas, identitárias, étnicas ou religiosas.

Regresso ao ponto de partida: que da previsão constitucional que proíbe a discriminação em função da nacionalidade, sexo, raça, religião e orientação sexual, tenhamos passado a um estado de alerta social, é um grande feito e devemos louvá-lo. E muito há ainda por fazer para passar de um estado de alerta à efetiva correção das desigualdades. Contudo, na forma como debatemos, parece evidente que há uma degradação da nossa capacidade de pensar e sonhar juntos.

O semear constante dos interesses identitários no espaço público está a arrastar-nos para um estado de tempestade social em que as distintas identidades de pertença se fragmentam e se enquistam. Uma correção de trajetória é crucial, e creio que o poderemos fazer redescobrindo o bem comum e restabelecendo a confiança mútua.

Temos de ousar habitar um campo social em que outros existem, e em que o “nós” político é mais rico que os interesses da minha identidade de pertença.

Comecemos pelo bem comum. A deslocalização do centro da nossa atenção das comunidades em direção às identidades de pertença faz com que a atividade política negligencie o todo em função de fragmentos da sociedade. Este movimento de substituição tem um impacto claro na forma como analisamos a realidade: se o fragmento dita a forma como vejo o todo, o deslize em confundir “interesse de um segmento” com “interesse de todos” é previsível e, temo, inevitável.

Sendo indiscutível que há situações de injustiça que reclamam ações específicas e direcionadas, estas devem ser gizadas a partir de um pensamento que possibilite, ao mesmo tempo, a reparação da injustiça e a proposição de um caminho comum de realização pessoal e comunitário. O reconhecimento do “eu” é fundamental e deve ser preservado, mas quando sonhamos o destino dos nossos bairros, cidades, regiões e nações, quando discutimos temas como família e justiça social, temos de aprender a conjugar a primeira pessoa do plural.

Temos de ousar habitar um campo social em que outros existem, e em que o “nós” político é mais rico que os interesses da minha identidade de pertença. Devemos desejar integrar comunidades além do cluster identitário, e compreender que identidade é uma forma de fazer parte do todo. Urge que nos deixemos nortear pela vontade de construir um lugar onde talvez não estejamos de acordo em todas as matérias, mas em que possamos respeitosamente viver com o diferente, sem lhe negar dignidade nem horizonte de futuro.

Este retorcer da realidade lança-nos numa guerra de todos contra todos, pois a visão de fundo é a de que há inimigos partilhados, mas não um desiderato comum.

E isto traz-nos até ao segundo elemento da nossa correção de trajetória: o restabelecer da confiança mútua. A divisão redutora da sociedade e da nossa história a dois simples papéis – privilegiado ou oprimido – em função da nacionalidade, sexo, raça, religião e orientação sexual, torce a realidade. Dois exemplos: exigir uma distribuição da riqueza justa não nos pode levar a considerar todos os empresários como “exploradores”; que existam casos de marginalidade entre pessoas que não nasceram em Portugal, não justifica que todos os estrangeiros – ou uma nacionalidade específica – sejam apodados de criminosos. A narrativa redutora arrasta-nos inevitavelmente para o conflito.

Este retorcer da realidade lança-nos numa guerra de todos contra todos, pois a visão de fundo é a de que há inimigos partilhados, mas não um desiderato comum. O outro não deve ser o rival com quem nos digladiamos na arena, mas alguém com quem faço caminho, como numa corrida em que o pé esquerdo de um está atado ao pé direito do seguinte: só alcançaremos a meta ao pôr-nos de acordo sobre o objetivo comum e acertando passo.

Restabelecer a confiança mútua é exigente, pois implica uma conversão dos nossos hábitos de raciocínio. Há muitas razões para a rivalidade e para a suspeita, algumas delas baseadas na biografia de cada um de nós. Mas há que começar por reconhecer a nossa pertença mútua e a imprescindibilidade da colaboração. O ponto de partida não pode ser o conflito, mas a confiança.

Estabelecer relações de confiança mútua, em que se possa conjugar a primeira pessoa do plural de forma verdadeiramente inclusiva, apontando um bem comum, será tarefa inacabada, em constante devir e atualização. Sendo exigente e árduo, é também o único caminho que vale a pena seguir

Fotografia de Fares Hamouche – Unsplash

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.

Original aqui.


Identidades e Poder

O título do artigo, “Quem semeia identidades, colhe tempestades”, chamou-me a atenção: um Jesuíta a pegar na questão da Política de Identidades, deixa-me cá ir ler!

Mas, confesso-o humildemente, a primeira oração “Alegro-me com o momento atual de atenção generalizada à discriminação e às injustiças que assolam a nossa sociedade.” desacorçoou-me – lá vinham as pieguices dos padrecas! – mas li o artigo todo.

Lido o artigo que se me oferece dizer?

Pareceu-me que o autor ainda não percebeu:
  1. Que a Política de Identidades é uma variação do antiquíssimo Dividir para conquistar. Dividir para reinar.
  2. Que para o grupo, ou grupos, que estão tentando tomar o poder a nível planetário o bem comum coincide com o seu próprio bem.
  3. Que o conflito que o articulista parece estar interessado em evitar não é evitável porque já está em curso, já se combate. Já se combate de armas na mão.
  4. Que orações como aquela com que abre o artigo não lhe granjeiam simpatia mas desprezo: o desprezo que os fortes têm pelos fracos.
  5. Que a Constituição da República Portuguesa não garante nada a ninguém porque quem está tentando tomar o poder a cumpre, ou a incumpre, quando lhe convém, sem punição.

Sei que é inadequado pedir a um Brâmane que pegue em armas, essa é a função dos Xátrias, mas é adequado pedir-lhe que identifique as questões e que, clara e verdadeiramente, explique o que se passa, o que está em causa.


Seja como fôr, e pesem embora as criticas que fiz, acho que valeu, e vale, muito a pena ler o artigo.




Etiqueta principal: Política de Identidades.

19 de dezembro de 2020

Jesus ⁉️

Lobo disfarçado de Cordeiro


Recebi hoje o vídeo abaixo acompanhado da seguinte mensagem 

Sei que isto pode parecer blasfemo o que pode incomodar alguns membros deste grupo.
Mas vale mesmo a pena. 
Só tenho pena de não saber quem é o comediante.



Jesus


É certo se trata de uma caricatura 

Caricatura é um desenho de um personagem da vida real, tal como políticos e artistas. Porém, a caricatura enfatiza e exagera as características da pessoa de uma forma humorística, assim como em algumas circunstâncias acentua gestos, vícios e hábitos particulares em cada indivíduo. Ser caricato é ser objeto de comicidade, ironia ou ter algo peculiar na face ou no corpo, levados ao exagero, à sátira jocosa ou como crítica de costumes.

mas o caricaturista não inventa as características do caricaturado. Enfatiza-as, exagera-as, mas não a inventa. E todos sabemos que existem pessoas que se dizem Cristãs e que partilham com a monja porteira as característica e concepções caricaturadas.


Mas será que a mensagem de Jesus foi 

Ou me amas ou vais para as chamas eternas!

Será?


Se foi…
Como é possível que tal mensagem tenha ganho o número de adeptos que ganhou?


Se não foi…
Como é possível se tenha chegado a “isto”?


E tendo-se chegado a “isto” espanta que quem tenha dois dedos de testa fuja a sete pés desta divindade aterrorizadora e dos seus adeptos e servidores?




Etiqueta Principal: Pseudo-Cristianismo.

11 de dezembro de 2020

O Covide ia a caminho da Tugulândia …




Permitam-me o desabafo …

Permitam-me o desabafo. Hoje vai sair testamento.

Não deve haver frustração maior que não conseguir fazer algo, não tanto por se estar esgotado, mas sobretudo por se depender de outros, colegas, que estão tanto ou mais esgotados que nós.

Não imaginam o que tenho ouvido e lido de alguns pais, e pior do que isso, de responsáveis de estabelecimentos de ensino.

Nunca tive ilusões.

No mundo real, feito de dificuldades, e não de relatórios muito bonitos para inglês ver, e político mostrar para cima para segurar o seu lugar, onde os utentes precisam de coisas tão prosaicas como o teste para o seu filho realizar, ou a declaração de isolamento profilático do filho, que justifica tanto a falta deste, como a do progenitor, é muito fácil passar de bestial a besta.

Toda a gente tem o direito à indignação. De pedir justificações. Mas isso não lhe dá o direito à falta de educação, à ignorância, ou até mesmo à estupidez pura e simples.

Nós, delegados de saúde, nem precisávamos de nos justificar. Primeiro, porque estamos de bem com a nossa consciência, e segundo, porque por muitas explicações que dêmos, há pessoas que não querem ouvir. Como a colega enfermeira que, indignada, não quis estar à espera na fila como todos os outros utentes, e me disse que era uma vergonha o tempo de espera. Ela, que devia saber, melhor que os outros, o que têm sido estes tempos difíceis, sem recursos humanos suficientes para tanto trabalho. Escusado será dizer que virei costas à colega enfermeira, porque ainda tolero ignorância e arrogância a quem não é profissional de saúde, mas não a quem o é. Fi-lo, em consciência, sem ter chegado a explicar-lhe que eu nem era culpado da situação que tanto a indignava, nem eu, nem os meus colegas, e que muito provavelmente, por aquilo que me tinha acabado de descrever, pelo menos parcialmente, nem era da nossa responsabilidade, nem da nossa jurisdição.

Há duas ou três coisas que vos quero aqui dizer para poderem perceber o estado a que isto chegou.

Para que compreendam a razão por que, hoje, me sinto frustrado.

Existe uma linha telefónica, a SNS 24, que de março até hoje, só tem feito asneiras atrás de asneiras. Para que fique claro, quem está comodamente atrás do telefone, não são profissionais da área da saúde pública. Muito menos são delegados de saúde. Muitos deles foram literalmente atirados aos lobos, e seguem cegamente um algoritmo muito bonito que não abarca a enorme variedade de situações específicas com que uma autoridade de saúde se confronta diariamente, sem normas e orientações claras da DGS, obrigando a raciocinar, adaptar, e decidir com rapidez, bom senso, e sobretudo prudência. É por isso que existem Autoridades de Saúde. De cada vez que fazem um erro, ou tomam uma decisão, têm que a justificar, mas alguém que está atrás de um telefone, nunca responderá pelos seus erros, porque a SPMS nunca disponibilizou as gravações dos telefonemas quando tal lhe foi solicitado. Talvez porque soubessem que não ia correr bem. É por essas e por outras que aquilo que a SNS 24 diz e faz não se escreve, e que aquilo que a Autoridade de Saúde decide se sobrepõe sempre a qualquer determinação da SNS 24. Porque a SNS 24 não é Autoridade de Saúde, e porque a Autoridade de Saúde dá sempre a cara e responde pelos seus actos, ao contrário da SNS 24.

Outro problema tem sido, desde há meses, o facto de inúmeros profissionais de lares, assim como alunos, serem oriundos de outros países, sobretudo do Brasil e dos PALOP. Sem número de utente, número de segurança social, NIF e ou morada, muitas vezes torna-se difícil, se não impossível, prescrever testes COVID. Mais grave do que isso, é a perspectiva assustadora de profissionais essenciais em funções importantes, muitos deles com condições socio-económicas complicadas, baixa literacia, e sem estarem devidamente inscritos no SNS. Sim, porque da mesma maneira que não conseguimos emitir testes, não será possível prescrever medicamentos ou outros exames complementares de diagnóstico. Assustador.

Pior do que isso é perceber que a Saúde Escolar é uma anedota. Se a Lei consagra, e bem, o direito dos filhos dos migrantes a uma educação condigna, permitindo a sua matrícula, então deveria estar acautelado que estes alunos tivessem os seus números todos atribuídos, caso contrário, não conseguimos emitir os tão necessários testes. Apesar de já termos reiteradamente explicado esta situação aos agrupamentos de escolas, por vezes ainda há pais a exigir os testes que não conseguimos emitir, ou pior do que isso, as próprias escolas a pedir os testes que sabem muito bem que não conseguimos prescrever. Mais uma vez, um aluno que não está devidamente inscrito no SNS, não poderá fazer o seu teste COVID, e não poderá ser devidamente acompanhado e vigiado do ponto de vista da sua saúde. Se amanhã tiver um traumatismo em contexto escolar, eu quero ver como é que vai ser... Definitivamente, há gente em vários níveis hierárquicos de decisão, que anda a brincar com o fogo, ou a fazer de conta que não se passa nada, sendo mais fácil colocar a culpa na saúde, e nomeadamente nos delegados de saúde. Não imaginam o tempo perdido, pelas administrativas e nós médicos prescritores, a tentar resolver a necessidade de emissão de testes a alunos migrantes. A resolução do problema está a montante, convençam-se disso. Colocar o ónus da sua resolução exclusivamente na saúde, quando parte do problema decorre de questões cuja tutela é da educação, é tirar a água do capote, é não ir ao cerne da questão.

E a terminar, last but not the least, o assunto que está na moda, que é dar pancada no delegado de saúde, por não emitir os testes nem as declarações de isolamento profilático, no devido tempo. Esse incompetente, irresponsável, insensível do Delegado de Saúde...

Para que percebam, em cada unidade de saúde pública existem vários profissionais, assistentes técnicos e operacionais, técnicos de saúde ambiental, enfermeiros, e médicos de saúde pública. Um médico de Saúde Publica pode, ou não, exercer também as funções de Autoridade de Saúde. Se as exerce, é Delegado de Saúde, a nível local. Cada um deles exerce as funções de Autoridade de Saúde de forma totalmente independente e autónoma. De entre os vários Delegados de Saúde da unidade de saúde pública, há um que coordena a unidade, o Delegado de Saúde Coordenador. Mas para que fique claro na cabeça de muita gente, a decisão de cada delegado de saúde não tem de ser aprovada pelo delegado de saúde coordenador. Cada um tem autonomia na sua decisão, e uma eventual diferença de parecer passa pela troca de impressões e discussão técnica. É por isso que é ridículo quando alguns dizem que a opinião do chefe, só por si, conta mais. Pesa, é certo, ou não tivesse a experiência que justifica que seja chefe, mas nunca pode desautorizar a decisão tecnicamente correcta de um colega cujo exercício de funções é autónomo, de forma a assegurar, a qualquer momento, o cumprimento da Lei, na defesa da Saúde Pública.

Cada unidade de saude publica tem vários profissionais, cujo número nunca é suficiente para as necessidades. Numa unidade como a de Loures-Odivelas, já era assim antes da pandemia. Imaginem agora, em período pandémico. Mesmo os muitos profissionais de várias outras unidades funcionais, que foram uma grande e preciosa ajuda, nunca foram e nunca poderiam ser suficientes para dar resposta a tantas solicitações, nomeadamente milhares de inquéritos epidemiológicos, dos quais, muitos deles, dão origem a dezenas de outros inquéritos a familiares, amigos, e colegas.

Numa unidade de saúde pública, os Delegados de Saúde são sempre poucos para as necessidades. Médicos não se inventam facilmente, e há actos que apenas podem ser realizados por estes, como prescrever testes. Para além disso, há documentos que apenas podem ser emitidos pelos Delegados de Saúde. Mas isto não quer dizer que todo o processo passe exclusivamente pelo Delegado de Saúde, e que apenas dependa deste. Para que ele possa prescrever um teste, é preciso que as assistentes técnicas e operacionais inscrevam os utentes, ou seja, que façam previamente o RAC (registo administrativo de controlo), sem o qual o médico não pode fazer nada. Do mesmo modo, a emissão da declaração de isolamento profilatico (DIP) implica todo um processo árduo de registo e validação prévios, antes de se redigir e emitir o documento que há-de ser carimbado e assinado pelo delegado de saúde.

Dito isto, há várias turmas, de varias escolas, em relação às quais já foi dada indicação para fazer os RAC e passar as DIP, mas que as assistentes técnicas e operacionais, poucas e esgotadas, como nós médicos e enfermeiros, ainda não conseguiram fazer.

Portanto, se o período de isolamento profilatico dos vossos filhos já acabou ou está a acabar, e a SMS com a prescrição do teste ainda não vos chegou ao vosso telemóvel, e a se a DIP ainda não foi emitida, provavelmente a culpa não será do Delegado de Saúde.

Mais grave: perante uma situação destas, em que o Delegado de Saúde tem as mãos atadas, por falta de meios aos quais ele é totalmente alheio, e aos quais as direcções e a tutela fecharam os olhos ou não deram solução antecipadamente, estão a ocorrer situações de difícil gestão em várias escolas, cujas direcções e pais de alunos querem ver resolvida. Mas isso não dá às escolas a legitimidade para agir à revelia das autoridades de saúde, em matéria que não é da sua competência. E se há situações em que a ignorância dos parceiros é tolerável e compreensível, outras há em que já não o é, quando os directores das escolas foram entretanto devidamente informados e confrontados com a gravidade e perigo das suas acções. Para alguns deles, se for necessário, não deixará de ser feito o que urge ser feito. Porque eu não acho que sou o maior. Apenas sou o Delegado de Saúde, e tenho de me preocupar com a saúde dos vossos filhos, mas também com a saúde dos filhos dos outros. Saúde Pública é isso tudo: sacrifício e serviço público, em prol da comunidade.

Que façam de mim saco de boxe.

Por muito que a minha vontade fosse deitar a toalha ao chão, cá estarei para cumprir as minhas funções.

Porque, apesar de todas as dificuldades, nesta pandemia recebemos palavras de alento e de apoio de muitos de vós, e talvez até tenhamos feito amizades para a vida.

Faço o que faço por todos, mesmo os que talvez não merecessem, mas confesso que é a pensar em vocês (e vocês sabem quem são) que continuo a tentar fazer mais e melhor.

E apesar de tanta dificuldade, de tanto obstáculo e incompreensão,

Este vírus não é mais forte do que nós.

Referência
https://m.facebook.com/groups/EsteVirusNaoEMaisForteDoQueNos/permalink/443293350012091/

Recebido
Whats App [17:48, 10/12/2020]



O Covide ia a caminho da Tugulândia …

O Covide ia a caminho da Tugulândia quando encontrou um alentejano dormindo debaixo de um chaparro.

Como o Covide fazia imenso barulho o alentejano acordou e perguntou-lhe:

Aonde vais que tanto barulho fazes?

O Covide respondeu-lhe:

Vou à Tugolândia, matar zero vírgula seis por cento dos tugas.

Mortos os tugas, o Covide voltou para sua casa e, indo no seu caminho, reencontrou o mesmo alentejano debaixo do mesmo chaparro, só que bem acordado.

Muito zangado o alentejano  interpelou o Covide:
Mentiste-me! Disseste-me que matarias zero vírgula seis por cento e mataste mais, muitos mais. Há meses que não consigo descansar!!!

O Covide respondeu-lhe:

Não menti não. Só matei zero vírgula seis por cento. Os restantes mataram-nos lá os chefes deles.

— Adaptação de um conto da tradição sufi.






Etiqueta principal: Política à Portuguesa.

10 de dezembro de 2020

Black Friday

 

Cruzamento do Polo Norte
Luanda no Tempo do Colono



Black Friday, ou Conversas de Kotas


O Primeiro Kota recebeu o vídeo infra de outros Kotas e partilhou-o, sem comentários, com o Segundo Kota.

A partilha deu origem à conversa reproduzida abaixo do vídeo.




Segundo Kota
Então o Black Friday, agora, é contra os pretos? 
Se calhar há pretos q não gostam de o ser…! Como aquele jogador do Paris Sain Germain q, se fosse louro, tb achava q era racismo o arbitro dizer: “Aquele louro.”
Só pode ser complexo!
Há psiquiatras, minha gente!

Primeiro Kota
Há pretos que não gostam de o ser sim, que se detestam. 
E há também outros que foram maltratados e estão ressentidos.
Agora temos de ver que cultura e que pretos estão em causa.
No EUA há racismo descoberto contra pretos que não são pretos.
Em França há racismo encoberto contra pretos que são pretos.
Em Portugal e no Brasil preto rico, ou doutor, é branco. 
Em Angola depende, em Moçambique não sei.
Para os Franceses, os Ingleses, os Americanos, bem como para os pretos por eles educados, a ideia de que “preto rico, ou doutor, é branco” é inconcebível. Coisa de mentes pervertidas, diabólicas.

Segundo Kota
Não entrando na discussão das categorias dos pretos e falando de Angola, estás-te a referir a quê, qd dizes q a negritude depende… depende de quê?

Primeiro Kota
Depende da cultura.

Em Angola tens:
1.
Os Pretos Tribais, em pretéritos séculos chamados de Pretos Descalços, que não falavam o Português, só uma língua Banto
2.
Os Pretos Calçados, mais recentemente chamados de Assimilados, que falavam o Português e uma língua Banto.
3.
Os Mestiços – do Preto Velho ao Branco de Benguela – que falavam o Português e, raramente, uma língua Banto.
4.
Os Brancos de Segunda – de primeira geração, segunda geração, terceira geração, etc. – que falavam o Português e, raramente, uma língua Banto.
5.
Os Velhos Colonos – que não tinham nascido em Angola mas para lá tinham emigrado e, muitas vezes, cafrealizado – que falavam o Português e, raramente, uma língua Banto.

Os Mulatos e os Brancos de Segunda eram Filhos da Terra, por oposição aos Filhos do Reino, uma categoria que existiu, e existe, do Japão ao Maranhão.

Os Filhos da Terra educados sempre estiveram, e estão, no patamar em que os Filhos do Reino estavam, e estão.

Tens um exemplo recente em Francisca Van Dunem, actual Ministra da Justiça, e um exemplo antigo em Alexandre de Gusmão, Escrivão da Puridade de Dom João V.

As Colonizações Holandesa, Britânica, Francesa, Alemã, não tiveram nada de semelhante, nem sequer com os ‘Colonials’, o Britânicos Brancos nascidos no Ultramar (‘Overseas’).

Os Espanhóis misturam-se mas mantiveram sempre a primazia dos Nascidos nas Europas, par várias razões a menor das quais não terá sido os ‘Estatutos de Limpieza de Sangre’ que vigoraram em todo o Império Espanhol mas nunca no Reino de Portugal e no seu Império. 

Nem no tempo dos Filipes os ‘Estatutos de Limpieza de Sangre’ que vigoraram no Reino de Portugal e no seu Império!

A situação em Angola é uma situação que suponho única por duas razões:
1.
A Elite no Poder é constituída por Mestiços e Brancos de Segunda.
2.
A Guerra Colonial e as duas Guerras Civis extinguiram praticamente os Pretos Descalços, ou Pretos Tribais, actualmente já só há, ou quase só há, Pretos Calçados, Mestiços, Brancos de Segunda e Velhos Colonos.

E isso nota-se bem nos desprezo com que os angolanos se referem aos Zairenses e aos Sul-Africanos, que apelidam de Pretos, dessa forma tornando claro que não se consideram a si próprios como Pretos. 

Não se consideram a si próprios como Pretos Descalços, Pretos Burros, Pretos Selvagens.

Segundo Kota
Então não depende…
Bem me parecia!
😘


Quando partilhou o vídeo supra o Primeiro Kota partilhou também o vídeo infra, que o Segundo Kota comentou escrevendo:
Já o 2.° vídeo tem muita piada...!
Mas não havia uma rábula de um dos humoristas portugueses, daqueles clássicos, q é muito parecida?
Mas q está muito bem apanhada, está!
😘








Etiqueta principal: Angola.
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