Páginas

24 de outubro de 2019

O que interessa são os "interesses", não as "ideologias"!



Como o que faz mover o mundo são os “interesses”, não as “ideologias”, o que interessa é saber quais são os “interesses” dos partidos políticos, ou daqueles que as ditos representam, não é saber quais são as “ideologias” que afirmam serem as suas.


Seguem-se o artigo "Partidos a esquadro e regra?", da autoria de José Miguel Júdice (originalmente publicado no Jornal de Negócios a 23 de Outubro de 2019) e o comentário ao dito artigo "O que interessa são os “interesses”!", da minha autoria (originalmente publicado neste blogue a 24 de Outubro de 2019).



Partidos a esquadro e regra?


A minha tese é que seria mais sensato que os dirigentes partidários da direita passassem a gostar mais dos seus eleitores e com isso a falarem para o que eles querem e não para o que acham que os eleitores devem querer. Talvez isso reduza a abstenção.

Por José Miguel Júdice no Jornal de Negócios a 23 de outubro de 2019.

Em Portugal há uma tendência cuja genética ainda não descobri: quando se pretende contrariar uma tese ou teoria, raras vezes se refere o autor ou autores da teoria criticada. O mundo não acabará por causa disso, mas torna o debate mais difícil. É que a reação natural de quem defendeu algo diferente costuma ser ficar calado, até pelo receio tão português de se pensar que se responder se estará a pôr nos bicos dos pés.

Vem isto a propósito de um artigo de Adolfo Mesquita Nunes, que responde a uma tese segundo a qual, e cito, "o sistema [político-partidário] tem de rearranjar-se para que cada partido represente uma homogénea e estanque família ideológica", no fundo e à direita, "os liberais...na IL, os nacionalistas no Chega, os conservadores no CDS e os sociais-democratas no PSD".

Admito que não estivesse a pensar em mim quando escreveu. Seja como for, gostosamente enfio a carapuça, até porque admiro o autor. Mas não a enfio até ao ponto de tapar os olhos.

Por isso tenho de afirmar que (i) não acho que "o sistema tem de rearranjar-se", e (ii) não acho que cada partido tenha de representar "uma homogénea e estanque família ideológica".

Por isso nada tenho a dizer contra as razões organizadas (a regra e esquadro…) por Mesquita Nunes para recusar a minha tese. Apenas tenho de revelar que essa não é a minha tese…

E depois deste aviso, vamos ao que interessa. Há 40 anos que os partidos da direita portuguesa têm sido mais capazes de colaborar serenamente entre si do que cada um deles aceitar a sua diversidade interna: as guerras de tendências, as ostracizações de colegas de partido, as "fake news" para os sangrar, as "fatwa" destinadas a destruir a legitimidade dos que pensam diferente da ortodoxia do momento, dariam um texto com dezenas de páginas.

Sendo assim, dois tipos de edifício político parecem possíveis e nenhum deles exige instrumentos geométricos para ser construído: (a) os partidos diluem ainda mais a sua identidade, reforçam o seu atual "patchwork" ideológico e vão continuar todos a lutar por um mesmo eleitorado mítico, ou (b) os partidos assumem uma matriz ideológica básica, admitem as naturais nuances que Mesquita Nunes parece achar que eu recusaria, mas vão dirigir-se preferencialmente a certos e diversos eleitorados.

E parece que tenho razão em concreto: veja-se (i) no PSD a guerra evidente entre "verdadeiros sociais-democratas" e todos os outros apodados de "liberais", e (ii) no CDS a guerra ainda intestina entre "conservadores" e "liberais".

Aliás tudo é ainda pior: conheço ainda razoavelmente bem o PSD para achar que a matriz sociológica conservadora é nela dominante, e curiosamente não vai a combate…

A minha tese é que seria mais sensato que os dirigentes partidários da direita passassem a gostar mais dos seus eleitores e com isso a falarem para o que eles querem e não para o que acham que os eleitores devem querer. Talvez isso reduza a abstenção.

Se isso acontecer, será ainda mais evidente que o PSD é um partido tendencialmente social e de centro-direita e o CDS é um partido tendencialmente conservador e de direita. Agora chegam ao mercado um partido que será provavelmente de direita radical ou extrema, populista e antissistémico (o Chega) e um partido (Iniciativa Liberal) que pretende ocupar o espaço liberal que desde 1974 não foi ocupado (a ponto de alguns politólogos, sabe Deus a razão, acharem que não tem hipótese em Portugal).

A história da direita em Portugal foi sempre a da ilusão dos "liberais" em conquistarem o PSD e/ou o CDS e, não o conseguindo, acabarem irrelevantes. O meu querido e saudoso amigo Francisco Lucas Pires, quer no CDS quer depois no PSD, é um "óbvio ululante" exemplo desta minha tese. Ele foi o mais liberal dos políticos portugueses. E, curiosamente, um dos mais populares no seu tempo… antes de aceitar o presente envenenado de Amaro da Costa para passar a vice-presidente do CDS e ser "normalizado".

Gostaria que o mesmo não acontecesse a Adolfo Mesquita Nunes, a António Pires de Lima e a muitos outros que no CDS e PSD se sentiriam melhor com eles do que com Rui Rio ou Xicão.

Claro que posso estar errado e, no início de 2020, os liberais de cada um dos partidos ganharem aos outros. Pode ser. Mas servirá para alguma coisa?



We have no eternal allies, and we have no perpetual enemies. Our interests are eternal and perpetual, and those interests it is our duty to follow.
Henry Temple, 3rd Viscount Palmerston, speech to the House of Commons (1 March 1848).


O que interessa são os “interesses”!


Como o que faz mover o mundo são os “interesses”, não as “ideologias”, o que interessa é saber quais são os “interesses” das direcções dos partidos políticos, ou daqueles que as ditas direcções representam, não é saber quais são as “ideologias” que essas direcções afirmam serem as suas. 

Por Álvaro Aragão Athayde no blogue coisas & loisas a 24 de Outubro de 2019.

A famosa frase que Henry Temple, 3.º Visconde Palmerston, proferiu no seu discurso na Câmara dos Comuns, a 1 de Março de 1848, 
We have no eternal allies, and we have no perpetual enemies. Our interests are eternal and perpetual, and those interests it is our duty to follow.
ou, traduzindo, 
Nós não temos nem aliados eternos, nem inimigos perpétuos. Os nossos interesses é que são eternos e perpétuos, e é esses interesses que temos o dever de prosseguir.
é válida quer para as pessoas individuais quer para as pessoas colectivas. 

Tal como o Reino Unido não tem, segundo Lord Palmerston, nem aliados eternos, nem inimigos perpétuos, nem nenhum outro estado os tem, mas tem interesses que são eternos e perpétuos, tal como os demais estados os têm, o mesmo acontece com todos nós, pessoas singulares, e o mesmo acontece com as pessoas colectivas que não são estados, como é o caso das agremiações religiosas, das empresas económico-financeiras, dos clubes desportivos e recreativos, dos partidos políticos, das demais pessoas colectivas de direito privado, ou de direito público, e, inclusive, das pessoas colectivas que actualmente não são sequer reconhecidas, como é o caso das linhagens familiares.

Logo o que importa não é saber quais são as “ideologias” que os partidos políticos, ou as suas direcções, afirmam serem as suas.

E menos ainda importa saber quais são as “ideologias” que os comentadores, ou os polítólogos, juram serem as deste, ou daquele, partido político.

O que importa, o que realmente importa, é saber quais são os “interesses” que os partidos políticos, ou suas direcções, consideram ser os seus interesses eternos e perpétuos.

As “ideologias” são camisas, labitas, que se escolhem, vestem, despem, conforme for mais conveniente.

E se não existir uma “ideologia” adequada à circunstância, ao momento, inventa-se uma nova, qual o problema?

É certo que muitas pessoas singulares, e não muitas pessoas colectivas, sacrificam a “satisfação imediata” de muitos dos seus interesses à “satisfação mediata” desses, ou de outros, interesses – algo que uns vêm como altruísmo e outros vêm como parvoísmo – mas o facto é que sacrificar a satisfação imediata de alguns interesses à sua satisfação mediata desses, ou de outros, interesses, não significa que os ditos interesses não existam, que não sejam importantes, ou que não sejam prosseguidos.

Pessoas singulares que investem em filhos em lugar de investirem em carros, ou em viagens a Cancun, estão a cuidar bem, inteligentemente, dos seus próprios interesses. Quando forem velhos os investimentos que fizeram em carros, ou em viagens a Cancun, não lhe serão de utilidade alguma, mas os que fizeram em filhos poderão sê-lo.







Fontes
  1. Esquerda, direita, liberal e conservador”. Juliana Bezerra. diferenca.com. Sem data de publicação. Recuperado a 24 de Outubro de 2019, às 13:08.
  2. Partidos a esquadro e regra?”. José Miguel Júdice. Jornal de Negócios. Publicado a 23 de Outubro de 2019, às 09:30. Recuperado a 23 de Outubro de 2019, às 23:30.
  3. Henry Temple, 3rd Viscount Palmerston”. Wikiquote. This page was last edited on 1 May 2019, at 22:42. Retrieved on 24 October 2019, at 14:26.
  4. E. O. Wilson”. Wikipedia, the free encyclopedia. This page was last edited on 30 September 2019, at 06:21 (UTC). Retrieved on 24 October 2019, at 19:17 (UTC+1).

Etiqueta principal: Politeias.
___________________________________________________________________________

19 de outubro de 2019

“Weaponizing History” ou “Da História como Arma”

Um dos relevos internos do Arco de Tito, em Roma, mostrando a Menorá do Templo de Herodes I, o Idumeo, em Jerusalém, destruído no ano 70.
Ao que dizem essa Menorá terá sido vista pela última vez na Toledo Visigótica, não se sabendo se foi derretida, se foi enterrada, se foi arrebatada, como Elias o foi.


A história foi transformada numa arma (history has been weaponized), arma que é usada para conquistar mentes, não para conquistar terras.

Mas a conquista de terras continua a ser o objectivo último a atingir, o que mudou foi o método usado para alcançar esse objectivo último.

Se se conquistarem, ou confundirem, as mentes dos que povoam as terras a serem conquistadas é possível:
  • Conseguir que os mesmos se submetam voluntariamente.
  • Conseguir que os mesmos fiquem tão confusos, tão divididos, tão animicamente derrotados, que sejam incapazes de reagir a um ataque.

De que estão, sempre estiveram, do lado errado da história?

E há melhor método do que convencê-los de que são um lixo histórico?

Junto dois artigos sobre o tema.



Washington as a Farmer at Mount Vernon(Primary Title). Junius Brutus Stearns, American, 1810 - 1885 (Artist). Date: 1851.

Weaponizing History

By readerjohn at War Correspondence ن on August 26, 2019

[H]istory is increasingly employed as a simple bludgeon, which picks its targets mechanically—often based on little more than a popular cliché—and strikes.
The best example may be the evergreen argumentum ad Hitlerum … The detention centers on America’s southern border should be called “concentration camps,” according to Rep. Alexandria Ocasio-Cortez. When questioned, the young, irrepressible Democrat advised Americans: “This is an opportunity for us to talk about how we learn from our history.” But that history isn’t ours. By invoking such an emotionally laden term, she was playing on a potent theme, but in a way that underscored the limited range of her historical reference, as well as the public’s.
A more disturbing example is the pell-mell rush to pass judgment against heroes of the past and tear down or rename the monuments to them … Are we really so faint of heart that we can no longer bear to allow the honoring of great men of the past who fail in some respects to meet our current specifications?
… [T]he transformation of history into a weapon depends upon a brutal simplification of the historical record. Such is the approach of the New York Times’s audacious “1619 Project,” which argues “that nearly everything that has made America exceptional grew out of slavery.”
The weaponizing of history corresponds invariably with a remarkable hostility to history. Its practitioners are content to slice a single fact out of a web of details, then repeat that fact with the stubbornness of protesters who have memorized a chant.
… Once history becomes a club, it quickly loses its credibility as history. The grossly exaggerated claims of the Times’s “1619 Project” are likely to bring on just such discredit.
… Our task is to recover the humane insight of Herbert Butterfield, who taught that the historian should be a “recording angel” rather than a “hanging judge”—let alone a summary executioner.

Wilfred M. McClay, The Weaponization of History.

Although McClay’s examples are from the Left, this is a game anyone can play, and we have been. Mark Bauerlein of First Things (which has been making high-stakes wagers with its credibility lately), for instance, very recently interviewed the old-but-still-irrepressible David Horowitz, who flung around “communist” with reckless abandon and referred to Dostoyevsy in The Brothers Karamazov writing a “damning portrait of the Roman Church” and its indulgences.

Entropy lives! (And kills.)



Engaging Africa: Washington and the Fall of Portugal's Colonial Empire.
Witney W. Schneidman. University Press Of America (2004).

Salazar e a lobotomia dos povos

E não é possível continuar a tratar hoje sociedades inteiras, para mais envelhecidas, como se se tratasse de um bando infantil, irresponsável, incapaz de pensar por si mesmo.

Por Gabriel Mithá Ribeiro no Observador a 19 de Outubro de 2019

Não existe dignidade humana sem memória, tal como não existe consciência sem memória. Ambas sustentam a moral e, em particular, a moral social, isto é, os princípios que orientam e regulam a vida quotidiana sem os quais as sociedades não são viáveis.
Todavia, antes de tudo o resto está o pressuposto de a memória apenas ser verdadeiramente humana quando é ambivalente e complexa e, para que assim seja, as sociedades devem permitir e incentivar o alargamento dos campos de significação, o inverso do afunilamento da memória em determinados núcleos ou determinados sentidos impostos por tutelas políticas, culturais, religiosas, institucionais.
Os que protegem os indivíduos de se auto confrontarem com a complexidade e ambivalência das suas memórias individuais ou coletivas – por exemplo, impondo que se preserve apenas a dimensão negativa das memórias de um dado ciclo histórico e interditando a dimensão contrária, ou o inverso – podem propalar a sua luta no caminho da virtude, porém o que estará em causa é um caso em que o manifesto (o acidente) contraria o latente (a substância), o doublespeak magistralmente tipificado por George Orwell.
Esse doublespeak é o instrumento que impõe, pela sua natureza, formas agressivas de violência contra a dignidade mais elementar da condição humana, uma vez que fica apenas admitida meia-memória, meia-consciência, meio-ser humano. É quase só a isso que fica reduzida a condenação da existência, em Portugal, de um Museu de Salazar ou a imposição de condicionamentos apriorísticos, sempre pela esquerda, dos conteúdos de um Museu Interpretativo do Estado Novo.
Tal violência psicológica imposta por uma elite circunscrita a toda uma sociedade, ou conjunto de sociedades, fica ainda mais ostensiva num contexto em que o Parlamento Europeu, no passado dia 19 de setembro, equiparou o comunismo ao nazismo. Ainda que tal condenação chegue com décadas de atraso, ela força a que se repense o lugar histórico do Estado Novo na identidade portuguesa, ou na identidade dos povos do antigo império ultramarino.
Que se saiba, não existem suportes teóricos, conceptuais ou evidências históricas que alguma vez possam equiparar Salazar e o seu regime a Hitler e ao nazismo, ou a Estaline e ao comunismo, e foi sobretudo o comunismo o alvo da repressão política durante o salazarismo. Isso é bem mais do que um mero detalhe, trata-se de matéria substantiva.
Jamais estará em causa o branqueamento de uma indiscutível ditadura e da sua violência, a de Salazar, todavia isso é tão importante quanto a necessidade de recusar a falsificação da natureza dessa mesma ditadura, atitude que se arrasta desde 1974, assim como importa recusar a sua desinserção do contexto histórico do avanço do comunismo.
Se os resistentes comunistas foram inegáveis vítimas do regime, a situação não difere do sofrimento de milhões de indivíduos comuns que, em África e em Portugal, se viram arrastados na enxurrada de uma descolonização para a qual não foram consultados. Até agora, as mortes e as perdas irreparáveis (morais e materiais) dos últimos continuam a ser tratadas como lixo humano escondido debaixo do tapete.
Essa tipologia de relação patológica com o passado histórico prolonga no presente consequências sociais desumanas.
Veja-se como académicos, escritores, músicos, artistas, políticos, entre outros da elite de esquerda há décadas impõem ao senso comum, de forma obsessiva e por diversas vias, olhares que obliteram certas dimensões da memória social. Do alto do seu narcisismo, as mentes tutelares de esquerda determinam que aquela época histórica é boa, aquela outra é má; naquele período histórico só permitimos que se procure o negativo, mas naquele outro só admitimos a preservação da memória do que foi positivo; este ditador e a sua violência são legítimos, porém aquele ditador e a sua violência têm de ser diabolizados.
Tal gestão da memória social e, portanto, da condição humana torna impossível a racionalização dessa mesma memória social, o que impede a maturidade moral, intelectual e identitária das sociedades por elas mesmas. É o que acontece a qualquer indivíduo a quem os que o tutelam inibem ou interditam a liberdade da sua relação íntima com as suas próprias memórias. Na matéria, não existe descontinuidade entre o indivíduo e o coletivo, isto é, o caminho para o desequilíbrio mental é substantivamente o mesmo.
Salvo raríssimas exceções, sabemos que a vida vivida torna impossível dissociar o favorável do desfavorável, sendo que um e outro se explicam entre si no seu próprio contexto. Não podemos exigir o mesmo amor ao próximo como a si mesmo a um padre na sua paróquia de todos os dias e a um militar em situação de confronto armado. É por isso que truncar um dos extremos da memória coloca em causa a capacidade do sujeito (individual ou coletivo) de lidar de forma saudável com a sua própria consciência.
E não é possível continuar a tratar hoje sociedades inteiras, para mais envelhecidas, como se se tratasse de um bando infantil, irresponsável, incapaz de pensar por si mesmo.
Dada a relevância do Estado Novo (1926/1933-1974) para a identidade atual dos portugueses ou, no mesmo ciclo histórico, da colonização portuguesa para os povos africanos saídos do antigo império, truncar o lado positivo desse legado histórico para impor no presente a fixação do olhar no lado negativo constitui não apenas a imposição do desvio funcional depressivo da memória, como ainda um atropelo grosseiro à mais elementar dignidade humana.
A propósito, Carlos Amaral Dias, psicanalista português, escreveu: «[Wilfred] Bion [psicanalista britânico] diz que um paciente chega a análise com seis factos [problemas], cada um com uma versão, e está verdadeiramente em análise no momento em que passa a ter seis versões para cada facto – expandiu o campo da significação» (Freud para além de Freud, 2000, p.147). Ou seja, a sanidade mental da espécie é tanto mais reforçada quanto mais as sociedades expandem os campos de significação que atribuem ao seu passado, o que no exemplo aqui equacionado remete para o Estado Novo incluindo a colonização portuguesa em África.
Assim sendo, por que carga d’água um eventual Museu de Salazar tem de estar centrado em aspetos negativos da sua época, inegáveis, mas que, como qualquer época, nunca se resumiu a tal dimensão. É fácil antecipar que os iluminados que impõem essa representação do passado imporão, no futuro, que um eventual Museu da III República Portuguesa (iniciada em 1974) tenha de ser centrado em aspetos positivos inegáveis, porém os negativos também o são. Guerras civis devastadoras deixadas na África pós-colonial, três bancarrotas, mortes por incúria do estado e dos seus governantes, degradação das instituições (justiça, ensino, família, segurança, obras públicas, entre outras) – nada disso existiu na atual III República? É por isso que vamos denegrir a época histórica da democracia?
Portugal é apenas uma variante, no Ocidente, de um programa progressista-esquerdista de eugenia da memória social, a versão cultural da lobotomia que deveria integrar, tal como a lobotomia neurocirúrgica, o cardápio de crimes contra a integridade mental (e física) do ser humano.
Não temos todos a obrigação moral e cívica de recusar este destino ou, no mínimo, de o questionarmos?

Fontes
  1. Arco de Tito”. Wikipédia, a enciclopédia livre. Esta página foi editada pela última vez às 00h57min de 23 de março de 2019. Recuperada às 18h14min de 19 de outubro de 2019.
  2. The Weaponization of History”. Wilfred M. McClay. Wall Street Journal. Published on August 26, 2019. Retrieved on October 19, 2019.
  3. Weaponizing History”. readerjohn. War Correspondence ن. Published on August 26, 2019. Retrieved on October 19, 2019.
  4. Engaging Africa: Washington and the Fall of Portugal's Colonial Empire. Witney W. Schneidman. University Press Of America (January 29, 2004). ISBN-13: 978-0761828129. Retrieved on October 19, 2019.
  5. Salazar e a lobotomia dos povos”. Gabriel Mithá Ribeiro. Observador. Publicado a 19 de Outubro de 2019, às 00:14. Recuperado a 19 de Outubro de 2019, às 22:21.

Etiqueta principal: Weaponizing History.
___________________________________________________________________________

15 de outubro de 2019

Estudantes, Vacas e Cabras


Estudantes de Coimbra
apoiam decisão da Reitoria
de eliminar carne de vaca das cantinas


A Associação Académica de Coimbra (AAC) apoia a iniciativa da Universidade de Coimbra de eliminar a carne de vaca das cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020, disse hoje à agência Lusa o presidente da direção.

Daniel Azenha considera que se trata de uma “medida altamente arrojada, que a AAC apoia”.

“As alterações climáticas são para nós uma preocupação. Esta medida não vai resolver o problema, mas é importante na consciencialização do meio académico”, frisou o líder estudantil.

O reitor da Universidade de Coimbra (UC) anunciou na terça-feira que vai eliminar o consumo de carne de vaca nas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020, por razões ambientais.

Segundo o reitor da universidade, Amílcar Falcão, a eliminação do consumo de carne nas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020 será o primeiro passo para, até 2030, tornar a UC “a primeira universidade portuguesa neutra em carbono”.

“Vivemos um tempo de emergência climática e temos de colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”, sublinhou, na sua intervenção na cerimónia de acolhimento, perante centenas de alunos.

A carne de vaca será substituída “por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 que existe ao nível da produção de carne animal”.

Por ano, cerca de 20 toneladas de carne de vaca são consumidas nas 14 cantinas universitárias da UC.

O presidente da AAC considera que a sociedade não pode “continuar a assobiar para o lado” e que a medida tomada pela UC é o “primeiro passo de muitas iniciativas” para reduzir a pegada ecológica dentro da instituição.

Daniel Azenha desvaloriza as criticas de algumas organizações agrícolas e associações de produtores, considerando que a medida não os vai afetar na produção.

“Criticas vão existir sempre, mas já chega. Chegámos a um limite em que é preciso atuar”, salientou o dirigente estudantil.

Várias organizações, como a Confederação Agrícola de Portugal, a Associação dos Produtores de Leite de Portugal, Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri) e a Associação Portuguesa dos Industriais de Curtumes (APIC) criticaram a decisão da UC de eliminar a carne de vaca dos menus das cantinas universitárias.




Estudantes, Vacas e Cabras


Primeira Cabra

— Estou preocupada, mana!

— Os Estudantes vão deixar de comer Vacas, que será de nós?


Segunda Cabra

— Preocupada?

— Para nós é óptimo, mana!

— Teremos menos concorrência!!!



Fontes
  1. Estudantes de Coimbra apoiam decisão da Reitoria de eliminar carne de vaca das cantinas”. jdLux. Jornal do Luxemburgo. Publicado a 19 de Setembro de 2019. Recuperado a 15 de Outubro de 2019.
  2. Cabras”. Pedro Coimbra. Devaneios do Oriente. Publicado a 15 de Agosto de 2016, à(s) 09:49 UTC+08. Recuperado a 15 de Outubro de 2019, à(s) 10:28 UTC+01.
  3. “Estudantes, Vacas e Cabras”. Antigo Estudante de Coimbra. Old Boys Network. Recebido a 15 de Outubro de 2019, à(s) 09:44 UTC+01.

Etiqueta principal: Política Académica.
___________________________________________________________________________

12 de outubro de 2019

Antepassados Carnais e Culturais dos Brasileiros

as 12 dioceses
na nova divisão tetrárquica do Império Romano
implantada pelo Imperador Diocleciano por volta de 300 dC


Pergunta

Resposta
— A minha resposta, há outras.

Esqueça os Genes, o carnal, concentre-se nos Memes, o cultural, caro Leonardo Cavalcanti.

O carnal é o equivalente, nos humanos, ao Hardware, nos computadores, e o cultural é o equivalente, nos humanos, ao Software, nos computadores.

Mas, como certamente sabe, actualmente existe uma única espécie de humanos no planeta, os Homo sapiens sapiens, logo as diferenças entre os diversos grupos de humanos radica muito mais no cultural do que no carnal.

E quanto à vossa cultura, à Cultura Brasileira, ela é Íbero-Fenícia-Greco-Púnica-Romano-Árabe, Hispânica, não Galo-Romano-Germânica, Europeia.


Comentários
1. 
Leonardo Cavalcanti
É por que a gente não curte muito esse negócio de "hispânico", faz lembrar um mexicanos baixinhos cruzando a fronteira dos EUA.

1.1. 
Álvaro Aragão Athayde
Então use Ibérico, não Hispânico, caro Leonardo Cavalcanti.

Mas talvez seja melhor usar Luso e designar a cultura por Cultura Lusística, à semelhança do que se faz com a Cultura Helenística.

Ainda no que concerne ao Hispânico, caro Leonardo Cavalcanti:
  1. Isabel I, de Castela e Fernando II, de Aragão, intitularam-se, abusivamente, Reis de Espanha.
  2. João II, de Portugal, protestou mas os Católicos não desistiram da soberba pretensão.
  3. Cronos, o Tempo, aceitou a tese d'os Católicos e hoje quando falamos em Hispanofalantes todos pensam que nos referimos aos povos que falam Castelhano, não aos que falam Basco, Catalão, Galego, Ladino ou Português, que também são Línguas Hispânicas.
  4. E como o que Cronos, o Tempo, aceitou está aceite… use Luso, Lusofalante, Lusófono, Lusíada, Lusístico.
1.1.1. 
Leonardo Cavalcanti 
Gosto mais de luso mesmo.

1.1.1.1. 
Álvaro Aragão Athayde
Então use!
x
Use mas note o seguinte, caro Leonardo Cavalcanti:
  1. Luso é, tal como Heleno, o nome do mítico antepassado epónimo.
  2. Os Mazombos não eram Reinóis como os Mascates, eram Filhos da Terra, e, de igual modo, os Brasileiros não são Portugueses.
  3. Os actuais Brasileiros, os actuais Portugueses , os actuais Angolanos, etc., não são Lusos, são Lusodescendentes, filhos, netos, bisnetos, etc., dos Lusos que Luis Vaz de Camões cantou no seu poema épico Os Lusíadas.
  4. Quando falamos dos Gregos, e da Cultura Grega, falamos dos Helenos e da Cultura Helénica, mas quando falamos dos Mundo que Alexandre Criou falamos do Mundo Helenístico e da Cultura Helenística.
  5. Daí que eu tenha inventado as expressões Mundo Lusístico e da Cultura Helenística.
  6. É que não só a língua que é comum, sabe? 
  7. É a língua, é a culinária, é a música, é uma "tradição trovadoresca" na qual se inserem, entre outros, Caetano Veloso e Zeca Afonso.
  8. É uma específica "forma de ver o mundo e a vida" que nos aparece em adágio, memes, do tipo: "Atenção que estamos todos no mesmo barco!", "Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.", "Não pior cego é aquele que não quer ver.", "Vão-se os anéis, ficam os dedos.", etc., são imensos! E há que junta-lhe as lendas, das Mouras Encantadas ao Saci Pererê.
  9. Logo não chega falarmos em Lusofonia.
Referências
  1. A fronda dos Mazombos, de Evaldo Cabral de Mello.
  2. Filhos da Terra, de António Manuel Hespanha.


Fonte da ilustração
  • Diocleciano”. Wikipédia, a enciclopédia livre. Esta página foi editada pela última vez às 20h29min de 23 de setembro de 2019. Recuperada às 21h29min de 11 de outubro de 2019.


Etiqueta principal: História.

___________________________________________________________________________

11 de outubro de 2019

Não sei nem quero saber.

Na cervejaria o engravatadinho e o desengravatadinho conversam.


Hierarquia das Necessidades, de Maslow.


Jacques Brel chante Les Bourgeois.



Fontes
  1. Old Boy Network.
  2. "Hierarquia de necessidades de Maslow". Wikipédia, a enciclopédia livre. Esta página foi editada pela última vez às 02h21min de 12 de julho de 2019. Recuperada às 21h49min de 11 de outubro de 2019.
  3. "Jacques Brel : Les Bourgeois". alainlebest1. YouTube. Publicado 11/05/2007. Recuperado 11/10/2019.


Etiqueta principal: Política à Portuguesa.
_____________________________________________________________________________

7 de outubro de 2019

De Portugal, da “Descolonização Exemplar” e dos PALPs

Figura 1 - Simulambuco, Cabinda, República de Angola.


Pergunta:

Resposta:


Não vou responder directamente à sua pergunta, caro Joao Vicente, mas vou-lhe dar umas dicas.

Já teve notícia do Tratado de Simulambuco, assinado na localidade de Simulambuco, a 1 de Fevereiro de 1885, pelo representante de Portugal, Guilherme Augusto de Brito Capello, então capitão tenente da Armada e comandante da corveta “Rainha de Portugal”, e pelos príncipes, chefes e oficiais do reino de Negoio, Cacongo e Loango?


Figura 2 - Reinos de Loango, Cacongo, Negoio, Congo, Angola, Matamba e Benguela cerca de 1770. Angola e Benguela eram reinos da Coroa de Portugal. Os restantes eram independentes mas, normalmente, aliados de Portugal.

Pelo Tratado de Simulambuco os Barões de Cabinda colocaram-se sob protecção do Rei de Portugal, na época Dom Luís I, e furtaram-se a serem "comidos" pelos Belgas, ou pelos Franceses.

O Muatiânvua fez, aliás, o mesmo.

A presença de Portugal em África poupou aos povos das dita "Colónias Portuguesas" o serem disputados pelas Grandes Potências: Inglaterra e França, primeiro, as duas anteriores e a Alemanha, depois.

Portugal era uma Pequena Potência, que garantia a Ordem e a Liberdade de Comércio nas suas colónias, bens intangíveis de as Grandes Potências beneficiavam… sem gastarem uma libra, um franco, um marco.

No fim da Guerra dos Trinta e Um Anos (1914–1945) a Alemanha estava derrotada, e ocupada, a França derrotada, mas não ocupada, a Inglaterra vitoriosa, mas na bancarrota, e as novas Grandes Potências – EUA e URSS – resolveram que também queriam ter Fazendas em África.

Portugal aguentou, aguentou, aguentou, e, em 1974–75, retirou.

E quando Portugal retirou os territórios entraram a ser disputados entre os EUA e a URSS, primeiro, entre a América, a China e a Rússia, depois.

E a disputa foi sangrenta!

Depois temos a propaganda:
  1. Salazar era mau, pior que um lacrau.
  2. O Estado Novo era Fascista, Nazi mesmo.
  3. Os Portugueses era Colonialistas, Escravistas, Racistas, Mata-Pretos.
  4. E por aí fora.
Em termos práticos Portugal serviu de escudo aos territórios e às suas populações durante mais ou menos um século.

Foram tudo rosas?

Não foram!

Mas se comparar com o que o Rei Leopoldo II, e os Belgas, fizeram no Congo, ou com o Genocídio dos Hererós e Namaquas na Damaralândia… foi o céu!



Fontes das ilustrações
  1. Tratado de Simulambuco, Parte 2”. João Cláudio Macosso. YouTube. Publicada a 29 de Março de 2019. Recuperada a 05 de Outubro de 2019. 
  2. Kingdom of Kongo”. GlobalSecurity.org. Sem data de publicação. Recuperada a 07 de Outubro de 2019. 


Etiqueta principal: História.
___________________________________________________________________________