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25 de fevereiro de 2021

O racismo do “activista político anti-racista” Mamadou Ba

Vamos aos cotas (kotas)…


A propósito da novela do “activismo anti-racista” do racista “activista político anti-racista” Mamadou Ba enviaram-me umas “coisinhas” e solicitaram-me que me pronunciasse.

Lá me pronunciei e aqui reproduzo as “coisinhas” que recebi e o meu pronunciamento.


Cromoidiotices

Na minha cidade natal, Malanje, além das cores do arco-íris, todos aprendíamos quase sem querer uma escala cromática referente à cor da pele daqueles que andavam à nossa volta. Era assim: preto tal e qual, preto fulo, mulato, cabrito, pardo, branco de segunda e branco tal e qual.

José Mena Abrantes • Rede Angola • 15.02.2014 • 16h22  original

Na minha cidade natal, Malanje, além das cores do arco-íris, todos aprendíamos quase sem querer uma escala cromática referente à cor da pele daqueles que andavam à nossa volta. Era assim: preto tal e qual, preto fulo, mulato, cabrito, pardo, branco de segunda e branco tal e qual.

Preto tal e qual era o filho de dois pretos tal e qual. Mulato era o filho do preto tal e qual com o branco tal e qual. O filho do mulato com o preto tal e qual era o preto fulo. Cabrito era o filho do mulato com o branco tal e qual. Cabrito com o branco tal e qual gerava o pardo. Sendo este já normalmente bem claro, filho dele com um branco tal e qual já dava origem ao branco de segunda.

Aqueles que já não se percebia muito bem onde se situavam eram agrupados sob o rótulo de “fronteiras perdidas”. O percurso de preto tal e qual para o branco tal e qual, com todas as suas variantes e matizes intermédias, era considerado melhoria da raça. O percurso inverso era considerado atraso da raça.

Por muito ténues que essas nuances possam parecer, elas eram altamente compreensíveis para a mentalidade reinante no período colonial e quase ninguém na cidade desconhecia, por exemplo, que eu era branco de segunda. Bem, alguns ainda confundiam as coisas e muitas vezes fui recebido na principal pastelaria da cidade ao som do provocador ‘méééé…’ feito pelo empregado recém-chegado das berças, convencido que eu era cabrito como a minha avó materna.

Com a proclamação da Independência, muitos de nós achámos que essa questão da cor da pele deixaria de ter qualquer importância, até porque os dirigentes do país libertado haviam inscrito entre os seus princípios maiores a ausência de qualquer discriminação de qualquer natureza. E assim convivemos civilizadamente durante alguns anos, tratando-nos por camaradas, aparentemente alheios ao rigor e esforço visual necessários para distinguir tantos e tão variados tons na epiderme dos nossos parceiros humanos.

Eis senão quando no horizonte de uma nova imprensa, dita independente, surgiram alguns mentecaptos apostados em definir (pre)conceitos mais conformes à sua mentalidade. Eles assumiam-se como os mais puros e genuínos representantes de uma “angolanidade” por eles inventada e, fingindo que isso nada tinha a ver com a cor da pele, hierarquizaram os angolanos em “autóctones” (os superiores) e “extra-africanos” (os inferiores), classificação essa que nos fazia regredir muito para além de tempos tidos como ultrapassados.

Quando julgávamos que mais nada nos podia surpreender a esse nível, uma insólita manchete foi publicada com grande relevo num semanário: “O dilema de Angola: pretos ao poder porque… os negros já lá estão!” (Folha 8, 15/6/2013). Ficámos sem perceber lá muito bem o que era aquilo. Sabíamos já, claro, que as almas bem pensantes que negam ser racistas evitam chamar pretos às pessoas pretas, preferindo defender sem qualquer sustentação científica uma diferença subtil segundo a qual “preto é cor, negro é raça”.

Essa não era, porém, a lógica do autor do tal texto. Para ele, negros são “os novos dirigentes instalados no poder, formados nas academias ocidentais, que renegam a sua cultura, língua, costumes, alimentação, religião e tradição”, e pretos “os que estão relegados para a mais ignóbil pobreza, miséria extrema, discriminação, etc.” (sic).

Para tentar esclarecer a suposta diferença entre duas cores iguais (ou antes, de duas “não cores”, já que ambos os termos se referem à ausência de qualquer cor), o articulista chega ao extremo de precisar o que cada um desses “descolorados” prefere comer: os negros “preferem cozido à portuguesa e comem funge apenas uma vez por semana, porque senão dormem”, e os pretos “comem pirão todos os dias e várias vezes ao dia e não dormem, pelo contrário, trabalham vigorosamente” (sic).

Se julgam que exagero e as coisas ficam por aqui, não se iludam, porque os mulatos que até agora conhecemos, e que são e sempre foram apenas mulatos, afinal podem aspirar também a outro estado. “Os mulatos patrióticos consideram-se pretos”, garante o tal editorial. Com tão delirante caleidoscópio, admito a minha derrota e prefiro decretar a minha total cegueira para todas as cores existentes.

E eu que cheguei a julgar atrasada e arrevesada a mentalidade colonial.




O meu pronunciamento


Li este artigo do Malangino José Mena Abrantes faz anos!

Chama Brancos de Segunda aos que conheci como Brancos de Benguela, mas fora isso 'tá tudo bastante bem.

Li, também faz anos, declarações de outro Malangino, João Cardona Gomes Cravinho, que contava ao estarrecido entrevistador que o avô, um Velho Colono, afirmava que não existiam filhos ilegítimos mas que podiam existir pais ilegítimos, como era o caso de David Livingstone, que se tinha farto de fazer filhos nas pretas mas nunca tinha perfilhado nem educado nenhum porque, segundo ele, David Livingstone, os ditos filhos eram filhos da Tentação, do Pecado, de Satanás.

O pai do Mamadou Ba deve ter sido um David Livingstone francês, pelo que temos de o compreender e aos problemas psicológicos que o afectam.

Temos de o compreender mas não temos de o aturar e, menos ainda, de lhe pagar para que bolse sobre nós o ódio que tem ao pai.

Curiosamente Joseph Arthur de Gobineau, mais conhecido por Conde de Gobineau, o Grande Apóstolo do Racismo Branco que tanto influenciou a Intelectualidade Portuguesa, muito particularmente Joaquim Pedro de Oliveira Martins, sofria de mal semelhante àquele de que Mamadou Ba e todos os filhos de David Livingstone sofrem, só que Arthur de Gobineau não odiava o pai, um branco tal e qual, mas a mãe, uma parda antilhana.

E há mais casos bem conhecidos e documentados de quem odeie os demais porque se odeia a si próprio.







Etiqueta principal: Racismo Negro.

23 de fevereiro de 2021

A “Bazuca” e a Escravidão por Dívida


Orçamento e Escravidão por Dívida


Uma imagem, um artigo, dois comentários.


artigo

O Jogo do Rapa

O governo já aprovou. Os “aliados” também. Ainda há margem para negociação e ajuste, mas o essencial está ali. Seguiu para o Parlamento, com cedências e compromissos assumidos. Como é hábito. Quem sempre protestou contra o facto de as negociações orçamentais serem feitas “nas costas dos deputados” está agora silencioso. É normal: as negociações parlamentares são precedidas ou seguidas de discussões a dois ou três, mais ou menos discretas. Só se queixa quem não faz parte dessas conversas.

António Barreto • Diário de Notícias • 16 de Outubro de 2016 - 00:00 • Original

Mais do que nunca, o Orçamento é objecto de luta intensa. As razões são evidentes. Primeiro, há o confronto entre governo e oposição. O dinheiro é pouco, a Europa está a ver, as agências de rating também, o endividamento continua a crescer, a economia estagna e o investimento reduz. Ora, as promessas de acabar com a austeridade e iniciar um novo ciclo de prosperidade eram muitas. Sem resultados visíveis. O que é preocupante.

Segundo, há a luta entre aliados. Os partidos que apoiam o governo têm de satisfazer clientes, não podem ficar de mãos a abanar. Entre estes, as negociações são mais duras do que as convencionais entre situação e oposição. O PCP e o Bloco têm de mostrar alguma coisa: taxas e sobretaxas, aumentos de pensões e de subsídios sociais. Seja o que for, mas que permita justificar a “paz social” que se vive nas escolas, nos hospitais, na administração e nos transportes públicos. O PCP e o Bloco abandonaram a rua, mas é preciso que tal não se perceba.

O Orçamento é a folha de contabilidade de mais de metade da economia portuguesa: competir por fatias de orçamento é lutar pela divisão de poder, pelos interesses das classes e pelos ganhos e perdas. Como pouca coisa vive fora do Orçamento, é o prato essencial. A maior parte dos grupos económicos depende das encomendas do Estado, dos investimentos públicos e dos fundos europeus. As obras também. Tal como o novo emprego. Subsídios, bolsas, pensões e benefícios dependem do Estado. As discussões que se conhecem e de que a imprensa se fez eco são relativas aos pagamentos ao Estado ou do Estado. Não há praticamente quem queira debater a economia, a actividade das empresas, os planos de investimento, as prioridades industriais e de serviços ou as condições de crédito à actividade económica. Nada disso parece ter qualquer importância! Como também não foram marcantes as discussões sobre o Serviço Nacional de Saúde ou o sistema público de educação. Na verdade, a discussão aproximou-se muito daquele antigo Jogo do Rapa, em que o pião ditava a sorte de cada jogador: Rapa, Deixa, Tira e Põe!

Como toda a gente sabe que a prosperidade não é possível para breve, que vai ser necessário fazer sacrifícios, que as ameaças de sanções e de cortes de fundos são reais e que o investimento continua a não dar sinais de vida, o que é mais interessante é ver que ninguém, da situação e da oposição, quer ficar na fotografia. Muito pelo contrário, a agitação é toda para culpar os outros do que vai correr mal.

O problema é que quanto maior for a economia no Orçamento, ou dele dependente, menores são o crescimento e a eficácia. Como menor é o investimento privado. É verdade que aumenta a capacidade de decisão política e que assim se consolida o velho lugar-comum do primado da política, isto é, da subordinação da economia à política. Convém no entanto recordar que alguns dos maiores desastres da humanidade, como a colectivização forçada soviética, a revolução cultural chinesa e a economia de guerra nazi são boas ilustrações desse princípio. Cá em Portugal, a ditadura, a Censura, a guerra em África, o analfabetismo persistente, o condicionamento industrial e a nacionalização de empresas são também, à nossa escala, bons exemplos da “política no posto de comando”. É bom recordar!


primeiro comentário

Escravidão por Dívida

Uma questão radical:

Será que o objectivo do Governo, ou de quem nele manda,
não é mesmo levar Portugal a um novo resgate?

Quem beneficiaria se Portugal fosse de novo resgatado?


segundo comentário

Política Primeiro

A “política no posto de comando” a “política primeiro”, «politique d'abord» no original, foi, e é, característico do Maurrasianismo (de Charles Maurras), do Nacionalismo Integral e do Integralismo Lusitano,  não do Marxismo (de Karl Marxe do Socialismo Científico, quer na sua versão Social-democrata quer na sua versão Comunista.

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Bazuca e Escravidão por Dívida


Quanto está acima da linha acima foi publicado no meu descriado Facebook Profile Álvaro Aragão Athayde em 

numa data que não sei precisar, mas certamente posterior 16 de Outubro de 2016, a data do artigo de António Barreto que transcrevi e re-transcrevo.

O Facebook Profile foi descriado, quanto lá tinha sido publicado desapareceu, mas a minha pasta que continha as imagens e o rascunho não desapareceu, e foi a partir desse rascunho e dessas imagens que me foi possível reconstruir o que então publiquei e agora republico.

Na dita pasta estava ainda um gráfico sobre a Evolução Histórica da Dívida Pública de Portugal, gráfico que então não publiquei mas que agora vou publicar:

Dívida Pública Portuguesa 1850-2012
Do semanário “Expresso”, mas não consegui recuperar a hiperligação para o original.


Entretanto, e ao procurar a dita hiperligação, encontrei mais gráficos sobre a mesma questão, Evolução Histórica da Dívida Pública de Portugal:

Dívida Pública Portuguesa 1850-2010
O Ser, a Aldrabice e a Propaganda

Dívida Pública Portuguesa 1850-2018
A grande mentira


Lembrei-me da publicação “Orçamento e Escravidão por Dívida” e fui recuperá-la por causa da Bazuca que ai vem e tanto entusiasma o tanta gente.

A Bazuca é Dívida!

A Bazuca é Dívida, mais Dívida!!!

Parte dessa Dívida já foi contraída pela Comissão Europeia em nome dos Estados da União Europeia – logo de Portugal… também –, a restante será contraída pelos Portugueses – Estado, Empresas, Particulares – se para a contraírem tiverem crédito junto das competentes instituições: bancos, capitalistas, emprestadores, financiadores, como preferirem chamar-lhes







Etiqueta principal: Escravidão por Dívida.

22 de fevereiro de 2021

“Quinta dos Animais” ou “O Triunfo dos Porcos”

 


Li esta obra há muitos anos, há tantos anos que já nem sei, e não é que ao voltar a ser autorizada a venda de livros pelo nosso governo tive a grata surpresa de verificar que a Porto Editora a tinha reeditado em Janeiro de 2021?

Comprei-a como é evidente, até porque o exemplar que tinha lido também estava perdido há muitos anos, há tantos anos que também já nem sei.

Comprei-a, relia-a e recomendo vivamente a sua leitura, a todos. A Todos!

A Civis, Militares e Religiosos.

A Brancos, Pretos, Amarelos, Vermelhos e Riscados

A Esquerdistas, Direitistas, Centristas, Conservadores e Progressistas.

A Monárquicos, Republicanos, Católicos, Maçons, Democratas, Socialistas, Comunistas, Anarco-Sindicalistas, Nacional-Sindicalistas e etc. por aí fora.

Lede. Lede a fábula da Quinta dos Animais. Lede!







Etiqueta principal: Fascismo Pós-Moderno.

19 de fevereiro de 2021

Makuta Nkondo fala, e quem fala assim não é gago!


Makuta Nkondo fala, e quem fala assim não é gago.

Tomara tivéssemos no Puto deputados que assim falassem!


Makuta Nkondo transforma 
a “assembleia num festival exótico de gargalhadas”

Tenho muito apreço, respeito, admiração e consideração pelo mais velho Makuta Nkondo. Pela sua forma clara de colocar às questões e levantar outras tão pertinentes e até mesmo arrojadas sem dobrar a sua própria língua e sem qualquer receio de meter o seu próprio dedo na ferida.

Fernando Vumby • Angola 24 Horas • Sexta, 21 Fevereiro 2020 17:59 • Original aqui

Mesmo com a situação política angolana cheia de reviravoltas, pimpas, truques, protestos e causando dores de cabeça a muitos angolanos. Este homem é o único que não perde o seu tom de Bakongo puro sem papas e língua afiada.

Apesar da situação real ser tão séria, ninguém lhe consegue tirar o seu lado humorístico, como quem já não consegue chorar e assim prefere massacrar-se a si mesmo e os outros com gargalhadas.

Será que lhe levam a sério?

Ele mesmo diz que naquela assembleia estão todos por boleia que cada um apanhou e sendo que ele, da CASA-CE. Enquanto outros ainda, os do MPLA por exemplo por trungungo, manipulações e lei da força como já nos habituaram.

O mais velho sempre que abre a sua boca raramente a assembleia nacional não se transforma numa sala de comédia, onde ele é o artista principal que anima todos. E quase mata de gargalhadas até o Nandó, já reparei várias vezes que tem sido, quem mais se ri quando o mais velho Makuta Nkondo toma a palavra.

Quando até deveriam chorar ou se suicidarem de vergonha por tanta verdade que ele lhes diz na cara, e nenhum deles o consegue contrariar de forma credível e convincente. Das duas uma, ou não o têm levado a sério ou a mensagem deixada por ele com o seu humor e sotaque de puro Bakongo, tem mesmo arrastado muitos deles para uma séria reflexão

E para não chorarem por falta de lágrimas, remorso e vergonha na cara já só preferem dar umas gargalhadas, numa assembleia habitada por uma série de pessoas e personagens política para todos os gostos.

O homem pode mesmo até falar das mentiras sobre o 4 de fevereiro.

Dos falsos nacionalistas, das guerras transformadas em fontes de lucros para alguns corruptos, ainda assim em vez de lágrimas são gargalhadas?

Continuarei



Grande Entrevista, com Makuta Nkondo

PTV Online • YouTube • 14/05/2018 e 18/05/2018

A entrevista tem três anos e nove meses mas segue sendo actual.










Etiqueta principal: Política Angolana.

16 de fevereiro de 2021

Como você define Portugal? O que é Portugal?



No Quora aparecem por vezes questões muito interessantes, questões cujas repostas vale a pena ler, questões a que vale a pena responder.



Pergunta curiosa e nada simples de responder, caro Leonardo Cavalcanti.

Em minha opinião Portugal é três coisas e meia:
  • É um Estado Hispânico, como Espanha e Marrocos o são;
  • É uma Nação Hispânica, como Castela e a Catalunha o são;
  • É uma Língua, uma Cultura, uma Mundividência e … 
  • … cá vai a meia, é um Império Cultural.

A esse Império Cultural chamo Cultura LusÍstica, um neologismo que criei à imagem e semelhança da expressão Cultura Helenistica: Heleno, o antepassado epónimo, Cultura Helenística; Luso, o antepassado epónimo, Cultura Lusística.

E é com base nesta noção de Cultura Lusística que me atrevo a afirmar que o Padre António Vieira não era nem português nem brasileiro porque era as duas coisas, era Lusístico. E não só António Vieira, diga-se.

Sei bem que está minha ideia chocará muitos Nativistas Brasileiros, Portugueses e, já agora, Angolanos, Cabo-verdianos, etc., mas fazer o quê?






Etiqueta principal: Portugal.

11 de fevereiro de 2021

Imbróglios angolanos: Quem é que é angolano afinal?



Foi nesta igreja que, no hoje pré-histórico ano de 1947, foi baptizada minha mulher, descendente de Francisco Sousa Ganho (Olhão, Algarve, Portugal1829 – Moçâmedes, Moçâmedes, Angola, 1895), um do fundadores de Porto Alexandre.

E porque fui eu lembra-me disso?

Por causa do Incidente no Cafunfo, das notáveis declarações que, a propósito do dito, Susete Antão expendeu no programa Política no Feminino, emitido pela Televisão Pública de Angola (TPA) no dia 6 de Fevereiro de 2021, e das ainda mais notáveis reacções às ditas opiniões.

Mas vamos aos factos primeiro, depois aos meus comentários.



Política no Feminino. Tema: Cafunfo

Suzete Antão é a branca à esquerda da apresentadora, que se volta para ela no minuto 1:29:56. 

As demais são mestiças, todas, incluindo a mais escura.

O programa foi para o ar no sábado, e na segunda-feira Graça Campos, também mestiço, publicou dois artigos no Correio Angolense, que transcreverei.



Trabalho inacabado

Graça Campos • Correio Angolense • Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2021 • Original


A nossa meio compatriota Susete Antão, a quem o MPLA incumbiu de classificar os angolanos por percentagens, não completou o frete. 

No raciocínio que defendeu sexta-feira no Política no Feminino, Susete Antão  deixou claro que o líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior,  não é 100% angolano porque também é titular de nacionalidade portuguesa – é público que o homem já renunciou à nacionalidade lusa.

Ela própria também meia angolana, já que metade da costela é portuguesa, Susete Antão não explicou em que percentagem os mestiços, descendentes directos de brancos portugueses e outros, são angolanos.

Para a completa clarificação do assunto, faz-se urgente que a nossa meia compatriota, que anda fugida de Portugal, explique em que percentagem auxiliares do Titular do Poder Executivo como Carolina Cerqueira (ministra de Estado para os Assuntos Sociais), Francisco Queirós (ministro da Justiça e dos Direitos Humanos), Marcy Lopes (ministro da Administração e Reforma do Estado), Luísa Grilo (ministra da Educação), Teresa Dias (ministra da Administração Pública, Emprego e Segurança Social), Diamantino de Azevedo (ministro dos Recursos Minerais e Petróleos), Manuel Tavares (ministro das Obras Públicas e Ordenamento do Território) são angolanos e portugueses. O mesmo é extensivo para os oficiais generais das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional.

De acordo com os critérios da meia compatriota, os únicos casos que não se prestam a dúvidas serão os dos ministros da Energia e Águas e do Comércio e Indústria. João Baptista Borges e Victor Fernandes têm dupla nacionalidade: lusa e angolana. Portanto, são metade aqui e metade lá.

Como o Bureau Político bem diz no seu comunicado, “queremos” saber quem são os “cidadãos estrangeiros” que, “sem escrúpulos executam uma agenda política contrária aos interesses de Angola e dos angolanos”.

Para a plena divisão de águas, é preciso que Susete Antão e quem a industriou terminem o que (mal) começaram.

Os cidadãos precisam de ter certezas sobre os seus governantes. Precisam de saber em quê percentagem ministro tal é 100% angolano, ministro y é 53% português,  e ministro x é 25% zairense, etc. etc.

Quando demanda um serviço público, o cidadão tem de saber por quem será atendido. Se por um igual, um meio angolano, um maioritariamente português e por aí adiante. Para facilitar a tarefa, é melhor que a sem hora Susete Antão comece já a providenciar adesivos e pulseiras que classifiquem os angolanos por percentagem da sua originalidade.



《Meio angolanos》–  a última criação do MPLA

A nova categoria de cidadãos, uma “homenagem” a ADC, prova que o líder da UNITA está a ser uma incômoda pedra no sapato dos “camaradas”

Graça Campos • Correio Angolense • Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2021 • Original


Em 1975, quando “desembarcou” nas cidades, que muitos dos seus membros desconheciam por completo, o MPLA trouxe um discurso inovador. Em oposição aos seus dois inimigos, UNITA e FNLA, que eram movimentos de matriz tribalista e racista, o regionalismo e por aí adiante. Marido de uma branca portuguesa e pai de filhos mestiços, Agostinho Neto liderou a luta contra o que então eram consideradas taras do colonialismo. Em várias oportunidades, Neto citou o seu próprio caso pessoal para justificar a sua rejeição ao racismo e outros comportamentos indecentes.

Quem já cá andava naqueles tempos, há de lembrar-se que todos os comícios do MPLA terminavam, invariavelmente, com um exaltado ABAIXO O IMPERIALISMO! E terminavam com ruidosos e inflamados ABAIXO O RACISMO, ABAIXO O TRIBALISMO e ABAIXO O REGIONALISMO!

Com José Eduardo, que desposou em primeiras núpcias a caucasiana Tatiana Kukanova, o MPLA manteve o discurso antirracista, antitribalista e antirregionalista. Com actos concretos, José Eduardo dos Santos mostrou que também era avesso à xenofobia, irmã gémea do racismo. Ele teve no Governo, nas Forças Armadas e no seu próprio gabinete descendentes de estrangeiros, nomeadamente são-tomenses e cabo-verdianos. Assunção dos Anjos, descendente de são-tomenses, foi director do seu gabinete; Aldemiro da Conceição, descendente de são-tomense, foi quase tudo na Presidência de JES (assessor de imprensa, chefe do Gabinete de Quadros, etc., etc.); Licínio Tavares, descendente de são-tomenses, ficou à testa do Ministério dos Transportes durante “séculos”; João Baptista de Matos, descendente de cabo-verdianos, foi o mais notável cabo de guerra de Angola e foi sob o seu comando que as FAA partiram a espinha dorsal da UNITA, quando lhe tomaram as praças principais, Bailundo e Andulo, nomeadamente; Francisco Furtado, descendente de cabo-verdianos, foi CEMG das FAA; António Furtado, descendente de cabo-verdianos, foi governador do Banco Nacional de Angola; Ângelo da Veiga, descendente de cabo-verdianos, foi ministro do Interior.

A falta de soluções para as carentes carências das populações tem vindo, a introduzir, lentamente, no léxico político angolano conceitos e expressões prenunciadores do desabamento de todo o edifício antirracista, antitribalista, antirregionalista e antixenófobo que o MPLA se esforçou, e muito, por construir ao longo dos anos.

O discurso pró-racista e pró-xenófobo foi inicialmente introduzido nas redes sociais por presumíveis militantes do MPLA e tinha um alvo concreto: o actual presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior.

Mas aquilo que parecia ser apenas linguagem de roqueiros desesperados, de pessoas fanatizadas, foi ganhando “status” e na sexta-feira passada foi oficialmente absorvida pela direção do MPLA.

Ao mencionar, no seu comunicado, “líderes políticos sem escrúpulos, que afinal são cidadãos estrangeiros”, o MPLA subscreveu publicamente o discurso xenófobo.


Depois de, basicamente, haver fracassado, de modo clamoroso, em todos compromissos que assumiu com os angolanos, vemos, agora, rendido ao discurso soez e rasteiro da xenofobia. 

Depois de, basicamente, haver fracassado, de modo clamoroso, em todos compromissos que assumiu com os angolanos, vemos, agora, rendido ao discurso soez e rasteiro da xenofobia. 

Encorajado pelo comunicado do BP do MPLA daquela mesma sexta-feira, uma estreante do programa Política no Feminino, da Televisão Pública de Angola, permitiu-se criar uma nova categoria de angolanos: meio angolanos. E ilustrou o conceito com o líder da UNITA, que, na opinião dessa iluminada, não é 100% angolano. 

De acordo com a criadora do novo conceito, Adalberto da Costa Júnior não é 100% angolano porque também foi detentor de cidadania lusa. Sintomaticamente, a “inventora” do conceito de meio angolano é ela própria também uma meia angolana, pois, embora tenha nascido em Angola, viveu e cresceu em Portugal, de onde só fugiu por causa de um cabeludo  processo judicial que tem à perna.

Na sexta-feira, tivemos na TPA um exemplo concreto do roto que aponta o dedo ao esfarrapado. Uma cidadã de tez branca, descendente de portugueses, a negar a Adalberto Costa Jr. a condição de ser integralmente angolano!

A adesão do MPLA a esse discurso xenófobo significa que ele procura, ingloriamente, que todos os angolanos cerrem fileiras contra o líder da UNITA. O MPLA procura que todos os angolanos transfiram para Adalberto da Costa Jr. o mesmo ódio, a mesma raiva, o mesmo desprezo que tinham de e por  Jonas Savimbi.

Esse é um exercício inglório: Savimbi era odiado porque era o líder de uma guerra que não poupava ninguém; Savimbi foi odiado porque semeou a dor e o luto em muitas famílias angolanas; Jonas Savimbi foi execrado porque praticou ou mandou prática actos demoníacos. É de todo impossível transferir para Adalberto Costa Jr. as “virtudes” que fizeram de Savimbi um verdadeiro monstro.

Os jovens angolanos que hoje estão na faixa etária dos 20 e 30 anos – e que representam  cerca de metade de eleitores – não identificam Adalberto Costa Jr. com a guerra; nunca o viram fardado e com arma a tiracolo. 

A juventude hoje não vê em AC Jr. o “líder sem escrúpulos”, que “executa uma agenda política contrária  aos interesses Angola e dos angolanos”

Os jovens hoje vêm Adalberto da Costa Jr. alguém que tem um discurso contrário às tergiversações e lugares comuns do MPLA. Um discurso oco e sem consequências.

Nesta altura do campeonato um discurso vindo do MPLA que “exorta aos seus militantes, simpatizantes e amigos do Partido, aos angolanos de Cabinda ao Cunene, a defenderem a unidade e reconciliação nacional e a se manterem confiantes nas medidas que o Executivo angolano liderado pelo Camarada Presidente João Lourenço vem tomando em prol do desenvolvimento político, económico e social do país” comove quem?

Quem neste momento toma a peito a ladainha do MPLA de que  “Queremos uma Angola onde impere um verdadeiro Estado Democrático de Direito, onde prevaleça o primado da lei, onde se respeitem as instituições do Estado, onde se respeitem os símbolos nacionais e os mais nobres valores da cultura e da história do país”

Como diz a Lei de Murfy, com o MPLA “Nada está tão mau que não possa piorar”

A assunção do discurso xenófobo é a prova de que a casa desabou.

Como sempre reclamou para si a condição de “força dirigente da Nação”, o MPLA não pode levar a mal que os angolanos lhe sigam o exemplo e queiram identificar, entre os governantes, quem, afinal, “são cidadãos estrangeiros e por isso executam uma agenda política contrária aos interesses de Angola e dos angolanos”.

É lícito incluir entre os “estrangeiros sem escrúpulos”, por terem dupla nacionalidade, os ministros da Energia e Águas e do Comércio e Indústria? À luz dos novos conceitos, como devemos olhar para João Baptista Borges e Victor Fernandes? 

É preciso clarificar discurso. O MPLA, que, empurrado pelo desespero, agora subscreve discursos que antes abominava, que abra o jogo.

O “meio angolano” pode ou não ser governante neste país? Quem não é 100% angolano, fugida da justiça, pode ir à televisão pública dizer quem é mais ou menos angolano?

É preciso clarificar discurso. O MPLA, que, empurrado pelo desespero, subescreve, agora, discursos que antes abominava, que abra o jogo.

O “meio angolano” pode ou não ser governante neste país? Quem não é 100% angolano, fugida da justiça, pode ir à televisão pública dizer quem é mais ou menos angolano? 

E, por fim, porque razão o MPLA se tornou tão mau a fazer um comunicado e a fazer leituras sobre a situação do país? 

Em definitivo, o MPLA dos ladrões que afundaram este país, foi substituído por um MPLA medíocre do ponto de vista intelectual.

Qualquer tolice e disparate vai parar aos seus comunicados e qualquer arrivista e oportunista é cooptada para falar por si. 

Naquele secretariado do Bureau Político está reunida a “nata” da fraqueza intelectual. 

MPLA, quem te viu e quem te vê…



Imbróglios angolanos:
Quem é que é angolano afinal?



Em 1957, tinha eu dez anos e frequentava o primeiro ano do liceu, no Salvador Correia, em Luanda, tinha Mocidade Portuguesa aos sábados à tarde, na parada do liceu.

A parada do liceu era por trás do ginásio, do lado do Rádio Clube de Angola, do lado da Rua do Dr. Luiz Carriço, actualmente Rua Salvador Allende, e, como a Mocidade era na época, obrigatória, lá ia eu para a Mocidade marchar. 

Marchar, fazer ordem unida. 

Esquerda, volver, direita volver, marcar passo, em freente marche! 

Um, dois, esquerdo, direito. 

Um, dois, esquerdo, direito. 

E quem dava as ordens?

O Comandante de Falange.

E o Comandante de Falange era branco?

Não, era mestiço.

E como se chamava o Comandante de Falange?

Henrique Teles Carreira (1933-2000), mais conhecido por Iko Carreira.

Mas já me despistei, não era disto que eu queria falar!

Eu queria falar do imbróglio do Quem é que é angolano afinal?

Um preto do mato, que nem fala nem entende o portugês, é angolano?

E se não for do mato, for da cidade, mas não falar nem entender o português?

E se, sendo do mato ou da cidade, falar e entender o português?

E se for um mucancala, o povo a quem os pretos roubaram a terra?

E se for um mestiço?

E se for um cabeça-de-pungo?

E se for um macópio, ou um xicoronho?

O que é preocupante no discurso da branca de segunda Susete Antão, discurso que Graça Campos afirma ter sido encomendado pelo Bureau Político do MPLA-Lourenço-Bornito, é a Carcamanização de Angola, o Discurso Racista que caracterizou as Colonizações Holandesa, Britânica e Alemã, em África e não só.

E é preocupante porque, mostra-o a história, após a palavra vem a acção.







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1 de fevereiro de 2021

Que probabilidade tenho de não morrer… 97,724% !!!


Suponhamos que me constipo, que fico com alguma dificuldade em respirar normalmente, que me assusto, Será covid?, que faço o teste e que dá positivo.

Que probabilidade tenho de morrer… de COVID-19?

Alguma terei… mas qual?

Como sou meio alérgico a médicos e a hospitais, resolvo calcular a dita probabilidade antes de ir a correr para o banco de urgências mais próximo.

Para efectuar o cálculo necessito de dois valores:

  1. O da confiabilidade do teste.
  2. O da probabilidade de uma pessoa morrer de COVID-19.

Para a confiabilidade do teste o melhor que encontrei foi um artigo da Deutsche Welle onde se afirma, cito: 

De acordo com as fabricantes, os testes (rápidos de antígenos) deverão ter 97% de precisão – mas isso só se aplica em condições ideais de laboratório. Em condições reais, a sensibilidade do teste estaria entre 80% e 90% – o que é bom, mas, ao mesmo tempo, isso significa que cerca de 20% dos infectados não são detectados e seguem adiante com a sensação enganosa de que o teste deu negativo, podendo infectar centenas de outras pessoas.

Afirma-se isto e dá-se a entender que os demais testes têm uma confiabilidade superior à dos testes rápidos de antígenos.

Não dispondo de mais informação decidi arbitrar ao teste que tinha realizado uma confiabilidade de 95%, isto é, de 0,95, menos 2% do que os fabricantes afirmam e mais 5% do que o máximo em condições reais.

Para a probabilidade de uma pessoa morrer de COVID-19 tomei como estimador o número de óbitos por cem habitantes, valor que pode ser calculado a partir dos dados em Worldometers.info

De 15-02-2020 a 31-01-2021 foram imputados, em Portugal, 12.482 (doze mil quatrocentos e oitenta e dois) óbitos ao COVID-19, sendo a população do país, em 2020, de 10.196.709 habitantes.

Logo, dividindo 12.482 por 10.196.709, obtenho um estimativa da dita probabilidade, 

  • 12.482 ÷ 10.196.709 = 0,001.224.120.449.059
  • aproximadamente 0,122 por cento.

Isto feito posso aplicar a fórmula que sumariza o Teorema de Bayes 

Usando os seguintes valores 

P(B|A) = 0,95
  P(A) = 0,001.224.120.449.059
  P(B) = 0,95 x 0,001.224.120.449.059 + 0,05 x 0,998.775.879.550.941
       = 0,001.162.914.426.606 + 0,049.938.793.977.547
       = 0,051.101.708.404.153

e efectuando o cálculo 

P(A|B) = [P(B|A) x P(A)] ÷ P(B)
       = (0,95 x 0,001.224.120.449.059) ÷ 0,051.101.708.404.153
       = 0,001.162.914.426.606 ÷ 0,051.101.708.404.153
       = 0,022.756.860.052.677
       = 2,275.686.005.267.665 por cento
       ≈ 2,276%

concluo que, sabendo que testei positivo ao COVID-19, tenho uma probabilidade de pouco mais de dois por cento de morrer do dito e uma probabilidade de pouco menos de noventa e oito por cento de não morrer do dito.


Tenho 97,724% de probabilidade de não morrer… de COVID-19!

Bem bom!!!








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