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26 de fevereiro de 2019

Fidalguia Socialista, Republicana e Laica… Nobreza?




Como todos sabemos:

  1. A palavra “Fidalguia” designa o conjunto dos fidalgos e a palavra “fidalgo” designa os filhos-de-algo, isto é, os filhos de pessoas que são algo, que são importantes, que são poderosas.
  2. A palavra “Nobreza” designa o conjunto dos nobres e a palavra “nobre” designa, não os filhos-de-algo, isto é, os filhos de pessoas que são algo, que são importantes, que são poderosas, mas as pessoas que possuem um determinado conjunto de qualidades tidas por próprias dos nobres, por exemplo: bondade; coragem; desprendimento; distinção; estoicismo; excelência; generosidade; gentileza; honra; integridade; lealdade; lhaneza; mérito; serenidade; virtude.
  3. A palavra “Aristocracia” (derivada do Grego “ἀριστοκρατία”, transliteração latina (t.l.) “aristokratía”, de “ἄριστος”, t.l. “aristos”, que significa o melhor, e “κράτος”, t.l. “kratos”, que significa poder, força) é uma forma de governo que coloca o poder nas mãos dos melhores.
  4. Há quem considere que a palavra “fidalgo” é sinónima da palavra “nobre”, que a palavra “Fidalguia” é sinónima da palavra “Nobreza” e que a  palavra “Aristocracia” é uma forma de governo que coloca o poder nas mãos dos fidalgos, ou dos nobres, sejam, ou não, eles os melhores.

Entretanto, e como também todos sabemos:

  1. Os filhos de pessoas que são algo, que são importantes, que são poderosas, podem, ou não, possuir o conjunto de qualidades tidas por próprias dos nobres e, caso as não possuam, são depreciativa e jocosamente designados pela palavra “fidalgote”, não pela palavra “fidalgo”, ou pela palavra “senhorito”, não pela palavra “senhor”.
  2. Os Ingleses afirmam que “it takes three generations to make a gentleman”, em português “leva três gerações para fazer um cavalheiro”, um fidalgo, e os Portugueses, quando afirmam que “avô pobre, pai rico, filho nobre, neto pobre” demonstram bem serem mais exigentes que os Ingleses no que a fidalguias concerne.

E, perguntará o leitor, a que propósito vem tudo isto?

Vem a propósito de um artigo de João Miguel Tavares hoje publicado, artigo que abaixo transcrevo.


O país dos filhinhos do papá existe mesmo – e é feio

Em Portugal, são demasiados casos, demasiados exemplos, demasiados filhos, demasiados amigos, para que tantos “filhos de” e “filhas de” sejam os mais competentes do país em tantos lugares distintos.

Por João Miguel Tavares no Público a 26 de Fevereiro de 2019, às 06:15

As inúmeras reacções a desculpar o problema dos cruzamentos familiares no actual governo, inclusivamente por parte de pessoas que tenho por sérias e inteligentes, demonstram bem o caminho que este país ainda tem de trilhar para adquirir uma cultura cívica minimamente decente. A ingenuidade (para utilizar uma palavra simpática) com que o argumento da competência foi invocado para justificar as opções de António Costa – a saber: não interessa se são filhos, pais, irmãos, maridos ou mulheres, o que interessa é se são competentes ou não – deixa-me absolutamente estupefacto, porque é demasiado básico, vulgar e terceiro-mundista. O problema não está, nem nunca esteve, na competência das pessoas envolvidas. Está, como sempre esteve, na sua proximidade.

Quem reflecte sobre relações e hierarquias sociais já compreendeu, há milénios, que a proximidade familiar pode atrapalhar a tomada das melhores decisões, devido a interesses secundários que se intrometem. Não é por acaso que as sociedades mais desenvolvidas do planeta são aquelas em que as instituições melhor resistem às tentações endogâmicas. O conceito de conflito de interesses não depende da inteligência, da competência ou da seriedade dos envolvidos – ele precede tudo isso. E precede-o não só para evitar que relações íntimas se cruzem com as decisões políticas, mas também porque a nomeação de amigos ou familiares para cargos poderosos e de difícil acesso transmite uma péssima imagem para uma sociedade que se quer meritocrática. O que diz é isto: não basta seres bom; precisas ser bem.

Não deveria ser necessário migrar da província para a capital, ou viver fora de grandes centros urbanos, para perceber o quanto a sociedade portuguesa é sufocada por um pequena elite que se vai perpetuando nos lugares mais elevados de poder, e que à boa maneira aristocrática consegue que os privilégios passem de pais para filhos ou circulem entre grupos de amigos próximos. A promoção dos “filhos de”, como muito bem sabe quem lá anda, é constante nas faculdades de Medicina, nos hospitais, nas faculdades de Direito, nos escritórios de advogados. Ainda há poucos dias foi noticiado que o PS propôs para o Tribunal Constitucional a jurista Mariana Canotilho. Filha de quem? Do professor José Gomes Canotilho, claro está.

Isso não significa, como é óbvio, que Mariana Canotilho não possa ser extremamente competente como juíza. Tal como Mariana Vieira da Silva poderá certamente vir a revelar-se muito competente como ministra. Só que, em Portugal, são demasiados casos, demasiados exemplos, demasiados filhos, demasiados amigos, para que tantos “filhos de” e “filhas de” sejam os mais competentes do país em tantos lugares distintos. Tamanha excelência geneticamente concentrada não só é coisa estatisticamente improvável, por melhores que sejam os papás e a educação que deram aos seus meninos, como, ainda que fossem, de facto, as pessoas mais competentes de Portugal, o problema que acima assinalei persistiria: o miúdo nascido numa família modesta do Alandroal iria sempre sentir que o seu elevador iria ficar encravado nos andares mais altos do país, por falta de lubrificação social. E com razão.

O que acabo de dizer deveria ser perfeitamente pacífico e consensual. Os problemas da endogamia portuguesa estão detectados há muito, e há vasta literatura sobre o tema. Se já nem isto causa um genuíno sobressalto cívico, então o país ainda está mais sonâmbulo do que eu pensava.

Jornalista

Estes artigo está aberto e comentado


Fontes
  1. “Sou socialista, republicano e laico” in “Mário Soares”. Wikiquote. Esta página foi editada pela última vez às 21h42min de 7 de janeiro de 2017. Página visitada a 26 de Fevereiro de 2019, às 14:48.
  2. The Gentleman and the Lady” in MELANIE, Lilia. "English 40.4: The Nineteenth Century British Novel". Brooklyn College English Department. No publication date. Retrieved on February 26, 2019 at 17:21.
  3. it takes three generations to make a gentleman” in “Proverbs new dictionary”. Academic Dictionaries and Encyclopedias. No publication date. Retrieved on February 26, 2019 at 18:33.
  4. DEY, Atanu. “The Cycle of Wealth and Poverty”. Atanu Dey on India's Development. Published on August 23, 2015. Retrieved on February 26, 2019 at 18:40.
  5. TAVARES, João Miguel. “O país dos filhinhos do papá existe mesmo – e é feio”. Público. Publicado a a 26 de Fevereiro de 2019, às 06:15.

Referências



Etiqueta principal: Política.
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21 de fevereiro de 2019

Nação Valente — Sérgio Godinho






Letra
Sérgio Godinho

Música
Hélder Gonçalves


não quero pôr-te numa gaiola

de mão estendida por esmola

não quero ter-te acorrentada

sofrendo por tudo e por nada

quero-te viva

afirmativa

não quero ter-te endividada

com só promessas por morada

não quero ver-te assim carente

perdão pedindo para a sua gente

há-de haver outra solução

para esta tão valente nação

há que ir em frente

nação valente

fronteiras antigas

fronteiras abertas

quero um país de ideias libertas

as mágoas da vida

e da vida as ofertas

fronteiras antigas

fronteiras abertas

não ver-te assim cobrada

na contramão dessa auto-estrada

nem quero ter-te adormecida

nos braços do que chamas vida

quero-te viva

afirmativa

não quero ter-te ziguezagueando

porquê e como? perguntando

assume a parte que já te coube

esquece e lembra o que ontem houve

há de haver outra perspectiva

para usarmos a alegria em vida

há-de haver outra solução

para esta tão valente nação

há que ir em frente

nação valente

fronteiras antigas

fronteiras abertas

quero um país de ideias libertas

as mágoas da vida

e da vida as ofertas

fronteiras antigas

fronteiras abertas



Fontes
  1. Sérgio Godinho - Nação Valente (videoLETRA)”, Sérgio Godinho e Hélder Gonçalves, YouTube: Sérgio Godinho TV. Publicado a 24 de de Janeiro de 2018. Recuperado a 21 de Fevereiro de 2019, às 11:52.
  2. Uma canção nova de Sérgio Godinho por dia: “Nação Valente””. Miguel A. Lopes/Lusa. Observador. Publicado a 24 de de Janeiro de 2018, às 12:23. Recuperado a 21 de Fevereiro de 2019, às 11:57.
Etiqueta principal: Música.
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20 de fevereiro de 2019

Centenário da Criação do Liceu Salvador Correia (ii)

PROGRAMA

Centenário da Criação Assinalado na UCCLA


Terá lugar no dia 23 de fevereiro, a Sessão Comemorativa do Centenário da Criação do Liceu Salvador Correia 1919 - 2019, a partir das 15 horas, no auditório da UCCLA, numa iniciativa da AAALSC-P (Associação dos Antigos Alunos do Liceu Salvador Correia - Portugal).

A sessão contará com a intervenção de antigos alunos do Liceu.

Programa


15:00
Dr. Vitor Ramalho
  • Mensagem de acolhimento e de boas vindas aos presentes
15:30
Eurico Neto
  • Breve descrição histórica da criação do Liceu
  • As três instalações onde funcionou
  • Os primeiros alunos e professores
  • Apresentação dos oradores
16:00
Manuel S. Fonseca
  • Evocação pessoalíssima e nostálgica;
  • Uma nostalgia pontuada a pequenas histórias e episódios;
  • Uma nostalgia plenamente consciente das contradições coloniais;
  • A beleza arquitectónica e a grandeza do todo com os campos, as barrocas nas traseiras, conferindo uma liberdade física enorme;
  • A biblioteca, a frequência mista de rapazes e raparigas;
  • A alegria do pensamento e da escrita: a descoberta do pensamento e do gosto pela filosofia e o gosto pela escrita nas aulas de literatura.

16:45Intervalo

17:15
Nicolau Santos
  • Evocação do Liceu Salvador Correia, através da declamação de três poemas de sua autoria: "Bilhete de Identidade"; "Salvador Correia"; "O meu país já não existe".
x
18:00
Justino Pinto de Andrade
  • Um sobrevoo ao processo de criação do ensino em Angola, destacando o papel dos Padres Jesuítas.
  • Destacar figuras históricas de Portugal na criação do ensino oficial em Angola, como, por exemplo, Inocêncio de Sousa Coutinho (correligionário do Marquês de Pombal que o envia para Angola como Governador) que funda o ensino técnico muito centrado na arte militar. Outros Governadores também nesta linha do ensino técnico de vertente militar. O papel de José Augusto Alves Roçadas na criação do Instituto Politécnico de Luanda (escola e ensino secundário). Chegado aí, entro na reivindicação da criação do Liceu de Luanda e o papel de Filomeno da Câmara.
  • A decisão da criação do Liceu Central de Luanda, por proposta de António Ferro.
  • Porquê Liceu Salvador Correia de Sá e Benevides?
  • Termino apresentando um resumo do perfil histórico de Salvador Correia de Sá, cujo nome foi dado ao nosso Querido Liceu.

19:00Encerramento da sessão, com os presentes a entoar o Hino dos Alunos do Liceu.




Morada
  • Avenida da Índia, n.º 110 (entre a Cordoaria Nacional e o Museu Nacional dos Coches), em Lisboa 
  • Autocarros: 714, 727 e 751 - Altinho, e 728 e 729 - Belém 
  • Comboio: Estação de Belém 
  • Elétrico: 15E - Altinho 
  • Coordenadas GPS: 38°41’46.9″N 9°11’52.4″W

Fontes
  1. Centenário da criação do Liceu Salvador Correia assinalado na UCCLAUnião das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), 05 de Fevereiro de 2019.
  2. Mensagem de correio electrónico de um membro da direcção da AAALSC-P (Associação dos Antigos Alunos do Liceu Salvador Correia - Portugal) com o Programa.

Etiqueta principal: História.
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18 de fevereiro de 2019

Portugal, a Magna Carta e os Barões Ladrões




Este, castigador foi rigoroso 
De latrocínios, mortes e adultérios: 
Fazer nos maus cruezas, fero e iroso, 
Eram os seus mais certos refrigérios. 
As cidades guardando justiçoso 
De todos os soberbos vitupérios, 
Mais ladrões castigando à morte deu, 
Que o vagabundo Aleides ou Teseu.

Do justo e duro Pedro nasce o brando, 
(Vede da natureza o desconcerto!) 
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando, 
Que todo o Reino pôs em muito aperto: 
Que, vindo o Castelhano devastando 
As terras sem defesa, esteve perto 
De destruir-se o Reino totalmente; 
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.



Porque não funciona em Portugal a Magna Carta?

Porque a Magna Carta é filha da derrota do Rei pelos Barões e em Portugal nunca os Barões derrotaram o Rei.

E não só em Portugal nunca os Barões derrotaram o Rei como em Portugal sempre o Povo se aliou ao Rei, e o Rei ao Povo, para pôr fim aos desmandos dos Barões Ladrões.



Fontes
  1. Os Lusíadas (Canto III - estância/estrofe 137)”, Luís de Camões, OsLusíadas.org. Sem data de publicação. Recuperado a 18 de Fevereiro de 2019, às 07:45.
  2. Os Lusíadas (Canto III - estância/estrofe 138)”, Luís de Camões, OsLusíadas.org. Sem data de publicação. Recuperado a 18 de Fevereiro de 2019, às 07:47. 
  3. Luís de Camões: O fraco rei faz fraca a forte gente.”. Pensador. Sem data de publicação. Recuperado a 18 de Fevereiro de 2019, às 07:49.


Etiqueta principal: Política.
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15 de fevereiro de 2019

Valha-nos São Cipriano !



Dois artigos, ambos abertos, 
  1. ADSE vs grupos privados”, da autoria de Eugénio Rosa, publicado no Jornal Tornado a 18 de Dezembro de 2018,
  2. Não são os privados o problema da ADSE”, da autoria de Bruno Faria Lopes, publicada no Jornal de Negócios a 14 de Fevereiro de 2019, às 21:50,
e uma nota curta, também aberta, 
  1. Estamos todos pendurados”, da autoria de Manuel Falcão, publicada no Jornal de Negócios a 15 de Fevereiro de 2019, às 10:36.
Como as publicações estão abertas e, parece-me, não carecem de comentário, limito-me a publicar o destaque de cada uma delas.



ADSE vs grupos privados


Os grandes grupos privados da saúde multiplicam os ataques e as ameaças à ADSE na comunicação social, apenas porque esta quer controlar a despesa e fazer cumprir as convenções assinadas com estes grupos.

Por Eugénio Rosa no Jornal Tornado a 18 de Dezembro de 2018.

Ler aqui.



Não são os privados o problema da ADSE


A política encontrou uma forma fácil de traduzir o conflito negocial entre a ADSE e os grupos privados de saúde: a culpa é dos “privados que só pensam no lucro”.

Por de Bruno Faria Lopes no Jornal de Negócios a 14 de Fevereiro de 2019, às 21:50

Ler aqui.



Estamos todos pendurados


O conflito entre a ADSE e os hospitais privados levanta uma situação curiosa. O Estado quer preços e condições especiais quando usa serviços privados.

Por Manuel Falcão no Jornal de Negócios a 15 de Fevereiro de 2019, às 10:36

Ler aqui.



Origem da imagem
  • O primeiro artigo.

Referências
  1. Quem foi São Cipriano, o mago?”, Felipe Aquino, Editora Cléofas, 20 de Novembro de 2018.
  2. Eugénio Rosa indicado para vogal da ADSE”. Raquel Martins, Público, 15 de Fevereiro de 2018, 18:19 (actualizado a 15 de Fevereiro de 2018, 19:07).


Etiqueta principal: Ideologia.
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14 de fevereiro de 2019

Globalismo e Internacionalismo




Denário do Imperador Tibério, a Moeda do Tributo.



O actual Globalismo dos EUA, e da UE, 
e o pretérito Internacionalismo da URSS, 
são avatares da mesma divindade.

Por isso, não nos devemos espantar se, 
quando acossados, 
os fiéis dessa divindade puserem de lado o que os divide 
e geringonçarem as geringonças necessárias 
à sua defesa e à defesa da sua fé.



Fontes



Referências
  1. Denário”, Wikipédia, a enciclopédia livre. Página editada pela última vez às 06h24min de 21 de julho de 2018. Recuperada a 14 de Fevereiro de 2019, às 14:32.
  2. Avatar”, Wikipédia, a enciclopédia livre. Página editada pela última vez às 06h24min de 21 de julho de 2018. Recuperada a 14 de Fevereiro de 2019, às 14:38.


Etiqueta principal: Ideologia.
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13 de fevereiro de 2019

Condecorações de CR7




Marcelo pediu ao Conselho das Ordens para avaliar se Ronaldo pode manter condecorações nacionais?

Ó Sr Presidente, agora tive de rir!

O Ronaldo?

Tem mesmo a certeza???

Vou lembrar-te que: 
  • Armando Vara - Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
  • Carlos Cruz - A Medalha de Grande-oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
  • Henrique Granadeiro - A Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo.
  • Hélder Bataglia - Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
  • João Teixeira - Comenda da Ordem do Mérito.
  • Jardim Gonçalves - A Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
  • Jorge Ritto - O Grande-colar da Ordem do Infante D. Henrique.
  • José Sócrates - A Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
  • Lino Maia - Grau de Grande-oficial da Ordem do Mérito 
  • Macário Correia - Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
  • Manuel Espírito Santo - A Grã-cruz da Ordem do Mérito Empresarial.
  • Valentim Loureiro - Comendador da Ordem do Mérito.
  • Miguel Horta e Costa - A Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
  • Zeinal Bava - Grã-cruz da Ordem do Mérito Empresarial.


Está tudo dito!



Fontes
  1. Condecoraçōes de CR7”, Old Boys Network, 13 de Fevereiro de 2019, às 11:16.
  2. Marcelo pediu ao Conselho das Ordens para avaliar se Ronaldo pode manter condecorações nacionais”, Sol, 23 de Janeiro 2019.


Etiqueta principal: Curtas.
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11 de fevereiro de 2019

Fernando Pessoa, o escravocrata racista

Luzia Moniz (imagem Angop)



Um artigo de Luzia Moniz, publicado no Jornal de Angola e republicado por G. Patissa no blogue Angola, Debates & Ideias, e um comentário de Álvaro Aragão Athayde, publicado no referido blogue.



CPLP escolhe
escravocrata racista para projecto juvenil

Aos 28 anos escreveu: “A escravatura é lógica e legítima; um zulu (negro da África do Sul) ou um landim (moçambicano) não representa coisa alguma de útil neste mundo. Civilizá-lo, quer religiosamente, quer de outra forma qualquer, é querer-lhe dar aquilo que ele não pode ter.

Por Luzia Moniz no Jornal de Angola a 10 de Fevereiro, 2019

O legítimo é obrigá-lo, visto que não é gente, a servir aos fins da civilização. Escravizá-lo é que é lógico. O degenerado conceito igualitário, com que o cristianismo envenenou os nossos conceitos sociais, prejudicou, porém, esta lógica atitude”.

Em 1917, aos 29 anos continua: “A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem que cumprir-se, sem revolta possível. Uns nascem escravos, e a outros a escravidão é dada.”

Aos 40 anos consolida a sua ideologia racista, escrevendo: “Ninguém ainda provou que a abolição da escravatura fosse um bem social”. E ainda: “Quem nos diz que a escravatura não seja uma lei natural da vida das sociedades sãs”?

Fernando Pessoa, dono desse ignóbil pensamento, é a figura escolhida pela CPLP para patrono de um projecto de intercâmbio universitário no Espaço de Língua Portuguesa. Essa iniciativa, cópia do programa europeu Erasmus, visa a educação, formação e mobilidade de jovens do espaço de língua portuguesa, oferecendo-lhes oportunidades de estudo, aquisição de experiência e voluntariado por um período curto num dos países da CPLP à sua escolha. Que Portugal, país onde a mentalidade esclavagista fascista ainda é dominante, tenha escolhido promover, branquear essa figura sinistra não me espanta. Agora, o que verdadeiramente me deixa perplexa é a aceitação pelos países africanos, as vítimas da escravatura.

Se foi para a isso que Portugal fez a guerra para assumir o secretariado executivo da CPLP, tudo indica que a coisa começa mal.

Denunciei isso mesmo, esta quarta-feira, na Assembleia da República de Portugal, durante a cerimónia de abertura do ano da CPLP para a Juventude, onde estavam deputados portugueses, governantes dos Estados da CPLP, jovens, activistas, intelectuais e académicos afro-descendentes, brasileiros, portugueses e africanos.

Não sei se Pessoa é ou não bom poeta. Isso pouco interessa para o caso. A minha inquietação é o uso da CPLP para branquear o pensamento de um acérrimo defensor do mais hediondo crime contra a Humanidade: a escravatura.

Atribuir o seu nome a um projecto que envolve jovens, descendentes dos escravizados, configura um insulto fascista.

Na AR alguém, para tentar justificar o injustificável, alegou que as convicções esclavagistas fascistas de Pessoa reflectem o pensamento da sua época, ignorando que, por exemplo, Eça de Queirós, contemporâneo de Pessoa, era contra a Escravatura e que, quando Pessoa escreve tais alarvidades, já a escravatura tinha sido abolida oficialmente. Outros diziam que precisamos de olhar para o futuro, esquecendo o passado. Como se Pessoa fosse futuro. Pessoa representa o que é preciso combater hoje para defender o futuro. Como construir um futuro salutar sem olhar para os erros do passado?

E se nos cingirmos apenas ao “pensamento da época”, qualquer dia temos o nome de outro colonialista-fascista António de Oliveira Salazar atribuído ao Conselho de Finanças da CPLP, com o argumento de que “tinha as contas em ordem” e de que foi “fascista à época”.

Se se pretende criar uma comunidade envolvendo as populações e não se limitando aos políticos, mais ou menos distraídos, é imperativo que o nome de Fernando Pessoa não figure em projectos comuns. Em sua substituição, sugeri Mário Pinto de Andrade, académico, um dos mais brilhantes intelectuais do espaço de língua portuguesa. Angolano que iniciou o seu percurso académico em Angola, passando por Portugal antes de ser ministro da Informação e Cultura na Guiné Bissau, que teve passaporte cabo-verdiano e deu aulas em Moçambique.

Espera-se dos países africanos membros que revertam essa situação, opondo-se ao nome de Fernando Pessoa, mesmo que com esse digno gesto se crie um novo irritante. Os irmãos de Cabo verde, que neste momento presidem a CPLP, têm uma responsabilidade acrescida nesta questão. Se Portugal olha para a CPLP como um instrumento de dominação dos outros, cabe-nos a nós, africanos, impedir que isso aconteça.



Emigre para os EUA, cara Luzia Moniz

Por Álvaro Aragão Athayde em Angola, Debates & Ideias a 11 de Fevereiro de 2019, às 00:33 

Que Luzia Moniz afirme, cito Não sei se Pessoa é ou não bom poeta. Isso pouco interessa para o caso., diz quanto necessita de ser dito.

Recomendo vivamente a Luzia Moniz que emigre para os Estados Unidos da América onde, estou certo, se sentirá menos descriminada.



Fontes
  1. "CPLP escolhe escravocrata racista para projecto juvenil", Luzia Moniz, Jornal de Angola a 10 de Fevereiro, 2019.
  2. "Luzia Moniz contesta figura de Pessoa | CPLP escolhe escravocrata racista para projecto juvenil", G. Patissa, Angola Debates e Ideias, 10 de Fevereiro, 2019.


Etiqueta principal: Pós-Neocolonialismo.
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9 de fevereiro de 2019

História Científica versus História Ideológica

Tenente-Coronel ‘Comando’ Marcelino da Mata
apadrinhou o seu neto nos Pupilos do Exército.



Porque é Marcelino da Mata uma grande ameaça?

Porque é a História Científica uma tão grande ameaça?

A História Científica é uma tão grande ameaça porque é incompatível com a História Ideológica. E é-o porque têm objectivos bem diferentes. 

A História Científica tem por objectivo apurar o que efectivamente aconteceu e, na medida do possível, explicar porque aconteceu o que aconteceu.

História Ideológica tem por objectivo legitimar historicamente o poder de quem está no poder ou, alternativamente, deslegitimar historicamente o poder de quem está no poder.

Marcelino da Mata é uma grande ameaça porque a sua história desmente a História Ideológica sobre a qual se baseia a legitimidade da Terceira República Portuguesa. 

E, também, porque se os factos forem mesmo apurados e narrados cientificamente… muito santo vai tombar abaixo do altar.



Os Donos da História de Portugal

Uma das razões por que não há nada sobre Marcelino da Mata prende-se com gente como Vasco Lourenço e Carvalho da Silva, que confundem o campo da História com os seus quintais ideológicos.

Por João Miguel Tavares no PÚBLICO a 09 de Fevereiro de 2019, às 06:18


O meu artigo sobre Marcelino da Mata deu origem a várias reacções, entre as quais as de Vasco Lourenço, aqui no PÚBLICO, e a de Manuel Carvalho da Silva, no Jornal de Notícias. Ambos aproveitaram para fazer referências jocosas à minha nomeação para presidir ao 10 de Junho (Vasco Lourenço, engraçadíssimo: “Confio que não tenha a tentação de promover qualquer farsa semelhante a essas jornadas de Salazar e Caetano!”), um divertimento pícaro por esta altura já demasiado batido, e ambos fizeram um grande esforço para tresler tudo aquilo que escrevi. Ainda assim, e apesar de a luta ser renhida, a escolher um vencedor no campeonato da desonestidade intelectual ele teria de ser Carvalho da Silva: conseguiu confundir citações com afirmações, suposições com factos e concluir que transformei “a personagem Marcelino da Mata quase em exemplo”. É obra.

Reparem: como qualquer pessoa com a quarta classe poderá verificar, o meu texto sobre Marcelino da Mata tinha como argumento a necessidade de conhecer o papel dos africanos na História de Portugal, dando como exemplo a sua extraordinária história de vida, desconhecida da generalidade do público. Em qualquer país civilizado já haveria uma série de televisão, dois filmes, três livros e quatro documentários sobre Marcelino da Mata. Em Portugal, não há nada. E uma das razões por que não há nada prende-se com gente como Vasco Lourenço e Carvalho da Silva, que confundem o campo da História com os seus quintais ideológicos.

O país está cheio de donos da História de Portugal, prontos a distribuírem reguadas por quem se atreve a sair da linha oficial. Como é óbvio, é possível que Marcelino da Mata tenha sido um herói de guerra, é possível que tenha sido um criminoso de guerra, e é até possível que tenha sido ambas as coisas, em momentos diferentes. Mas o meu texto nem sequer era sobre isso. Era sobre o desconhecimento generalizado de uma figura absolutamente invulgar, e sobre o que isso diz sobre o nosso lastimável trabalho de memória. Foi um herói? Contem-me. Foi um criminoso? Contem-me também.

Há dias comprei o livro de Irene Flunser Pimentel Os Cinco Pilares da PIDE. O capítulo introdutório intitula-se “Por que apresentar biografias de torturadores da PIDE/DGS?”. A autora afirma aí que quando publicou a biografia do inspector Fernando Araújo Gouveia foi criticada por estar “a dar importância ou até a enaltecer um torturador”, pois muitos consideraram que quem cometeu “actos de violência sobre presos políticos deveria ser remetido ao silêncio”. Recordar tais vidas – diziam – faria sofrer as vítimas. O argumento é estapafúrdio, mas Pimentel leva-o a sério, dando-se ao trabalho de explicar pacientemente que não, que não é assim, que escrever sobre um torturador até “contribui para denunciá-lo”, e patati patatá, como se os seus leitores estivessem no jardim-escola, e Hannah Arendt não tivesse escrito sobre Eichmann, Ian Kershaw sobre Hitler ou Robert Conquest sobre Estaline.

O problema não está nas explicações de Irene Pimentel, que estão certas. O problema está no facto de ter sentido necessidade de explicar-se. Essa necessidade demonstra bem o paternalismo na abordagem da História contemporânea, com um bando de historiadores armados em mestre-escola, empenhadíssimos no devido enquadramento das almas, não vá alguma delas lembrar-se de ressuscitar o cadáver de Salazar. Por amor da santa. Uma história é uma história é uma história. É para ser contada. Não é para ser pregada. 


Fontes
  1. Os donos da História de Portugal”, João Miguel Tavares, PÚBLICO, 9 de Fevereiro de 2019, 6:18.
  2. Tenente-Coronel ‘Comando’ Marcelino da Mata apadrinhou o seu neto nos Pupilos do Exército”, UTW: Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, sem data.


Etiqueta principal: História.
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7 de fevereiro de 2019

Joana, a Louca… com juízo!

Joana Amaral Dias… aos 43 anos e pico.



¿ Joana Amaral Dias é Louca ?

¡ É !


¡ mas é uma louca com juízo !



¿ Existe Democracia em Portugal ?

¡ NÃO !


Em Portugal existe uma Oligarquia
de pobres que tentam enriquecer
à Custa do Estado
à Custa dos Contribuintes
à Nossa Custa



Esta entrevista ilustra bem a diferença entre o inconformismo, a irreverência, dos Antigos Estudantes de Coimbra que se não venderam, e o conformismo, a reverência, dos Antigos Estudantes de Coimbra que se venderam.  E, note-se, há vendidos de todas as cores.



segue a entrevista



Joana Amaral Dias. 

“Não existe democracia em Portugal” | Fotos


Apareceu na política pela mão do BE, mas agora é na TV que a sua voz se faz ouvir. Ao divulgar o relatório secreto da CGD, agitou o país. E é com o seu Agir que quer mudar a AR.

Por Sónia Peres Pinto e Vítor Rainho no Jornal i a 03 de Fevereiro de 2019, às 13:18

Nasceu a 1 de janeiro de 1975. Como é festejar o aniversário depois da passagem de ano?

Não nasci a 1 de Janeiro, é uma gralha da Wikipédia. Nasci a 13 de Maio e é bom festejar nesse dia porque toda a gente se recorda do meu aniversário e me associa a uma santinha.

Sendo filha de pai e mãe ligados à Psicologia, o que a marcou mais na infância?

Os meus pais não são bem ligados à Psicologia, os meus pais são médicos psiquiatras e psicanalistas. Aquilo que mais me marcou foi definitivamente a liberdade com que fui criada e que os meus pais me deram para fazer as minhas escolhas.

As escolhas sempre foram as melhores?

Toda a gente tem coisas que, se voltasse atrás, faria diferente, mas, de uma maneira geral, as escolhas foram minhas e gosto das escolhas que fiz. As outras pessoas é que podem não gostar.

Vivia aonde?

Em Coimbra, a minha família quer materna quer paterna são de Coimbra, são famílias típicas de Coimbra por razões diferentes. Do lado da minha mãe são todos universitários, o pai da minha mãe era professor catedrático de Medicina. E do lado do meu pai são mais ligados ao fado e à Académica, um lado mais popular. Nasci em Angola, mas cresci em Coimbra.

Nasceu onde em Angola?

Em Luanda, porque o meu pai já era médico, integrado nas estruturas militares, foi chamado a cumprir serviço militar. 
A minha mãe acabou por ir para lá porque, na altura, também já era médica e esteve a trabalhar num hospital em Luanda. 
Depois viemos para Coimbra, onde fiz a minha vida toda, e já na idade adulta e com um filho é que vim viver para Lisboa.

Os seus pais davam consultas em casa e li um episódio onde se diz que a Joana gostava desde muito cedo de se pirar de casa...

Ainda hoje gosto de me pirar de casa. (risos)

Às vezes havia situações estranhas em que não era muito normal os doentes verem sapatos a saltar pela janela e depois verem alguém a descer.

Sempre fui uma filha bastante responsável no que diz respeito à escolaridade e àquilo que eram cumprimentos familiares, etc., mas nunca quis que os meus pais me cortassem a liberdade. Não que eles cortassem muito, mas queria sair à noite naquela fase dos 13/14 anos e os meus pais achavam que naquela idade ainda era precoce. Mas eu decidia que saía na mesma, e quando decidia isso tinha de arranjar forma de sair. Morava numa vivenda grande, os meus pais tinham o consultório numa subcave, depois havia o rés-do-chão e depois o primeiro andar, que era o andar dos quartos, que ainda tinha uma altura – correspondia quase a um segundo andar, mas como sempre fui atleta saltava do quarto para a rua.

Saltava?

Sim, mandava primeiro os sapatos para não me magoar no impacto no solo e depois saltava. A janela do meu quarto era no alinhamento vertical da janela do consultório do meu pai. Num desses episódios há um paciente que diz ao meu pai que vê uns sapatos a cair no chão. O meu pai, provavelmente, interpretou analiticamente essa situação e a seguir o paciente disse que viu a sua filha.

O seu pai não acreditou?

Não acreditou, mas no fim da consulta foi ao meu quarto e constatou que eu não estava. Quando cheguei a casa, às duas ou três da manhã, não me recordo bem das horas, tinha o meu pai à espera.

O que lhe disse?

Não me disse grande coisa, disse-me para não fazer isso. Como disse, os meus pais davam-me muitas responsabilidades, mas também me davam muita autonomia. 

Como, por exemplo?

Tínhamos de ser atletas de topo, alunos de topo, ser tudo de topo. Tínhamos de fazer as tarefas de casa, tínhamos de ajudar os mais fracos.

Também li outro episódio engraçado em que pegaram fogo à cozinha enquanto o seu pai atendia um grupo de esquizofrénicos…

Era um grupo que o meu pai tinha aos sábados de manhã. Era um grupo de psicóticos, um grupo pesado, e há um dia que eu e meu irmão – que é um ano e meio mais velho que eu, éramos e somos cúmplices – decidimos que íamos fazer o pequeno-almoço, e era daquelas cozinhas que tinha exaustores com filtros tipo lã de vidro e que, se estiverem com gordura, são altamente combustíveis, e foi o que aconteceu. Pegou fogo, mas ainda tentámos controlar aquilo, não conseguimos, entrámos em pânico e rompemos pelo consultório adentro. O meu pai tinha dez ou 12 psicóticos a ouvir que a casa estava a arder.
E, realmente, aquilo era uma situação perigosa porque a botija estava ali ao lado, mas foi uma situação bastante caricata com aquele aparato todo: os bombeiros, os esquizofrénicos na rampa, porque a vivenda tinha uma rampa de acesso à garagem, e depois gerou-se um grande aparato com os pacientes, alguns descompensaram, descomplexaram não sei, mas certamente ficaram um pouco mais inquietos. E eu e o meu irmão a acharmos que tinha sido uma manhã muito divertida.

Aos 14/15 anos já ganhava o seu dinheiro…

Sim, porque como os meus pais nos incutiram muito esse espírito de autonomia, e como gostava de ter dinheiro para fazer aquilo que me apetecia, como as férias que queria, ir aos sítios que queria, aos festivais que queria e para as viagens que queria, fiz de tudo um pouco. Comecei a dar explicações porque era muito boa aluna, fazia baby-sitting, traduções. A verdade é que tinha sempre muito dinheiro, muito mais do que os outros da minha idade. A primeira grande viagem que fiz tinha uns 16 anos, fomos de carro com uns amigos mais velhos, fizemos quase toda a Europa e tive dinheiro para me sustentar durante dois meses.

Faziam grandes festas quando os pais não estavam em casa?

Fazíamos. Eram famosas essas festas em Coimbra. Conseguíamos meter 60 a 70 miúdos no jardim durante um sábado sem que os pais dessem conta. Eles saíam na sexta-feira para os congressos, nós começámos a recusar ir, chegavam no domingo e a casa estava impecável. Um brinco.

Bebiam álcool?

Bebia-se, mas nunca foi essa onda. A onda dessas festas e o que marca a minha adolescência e a do meu irmão é mais o convívio, as viagens, a música, a dança. Havia álcool, claro, e mais tarde os charros. Mas nunca foi uma coisa importante nas nossas vidas, foi sempre uma coisa marginal, e na vida dos nossos amigos.

As imagens da sua vida nessa idade são estas?

É isso. Um dos aspectos que tenho dito é que o desporto foi fundamental para a minha educação. Aliás, uma batalha que tenho relativamente ao sistema educativo é o desporto, porque foi neste que desenvolvi as minhas melhores qualidades: disciplina, humildade, esforço, perseverança.

O que fez?

Muita coisa. Fiz ballet clássico durante 12 anos e levava aquilo à séria, os meus pais também exigiam que levasse isso a sério. O meu irmão fazia ténis, foi campeão regional, e isso era visto não como uma coisa suplementar. Era visto como uma disciplina importante e, às vezes, mais do que as outras.

Fez ballet e mais o quê?

Fiz e faço muito desporto. Fiz hóquei em patins na Académica, faço e sempre fiz desportos de combate, joguei futebol. Fizemos o primeiro campeonato feminino interliceus em Coimbra, com mais umas miúdas da José Falcão. Mas o desporto-base que fiz na minha formação foi o ballet, que é particularmente muito exigente e rigoroso.

Como era ser “filha de”?

É sempre uma faca de dois gumes: quando se é competente e se faz bem – e eu era muito boa aluna, a melhor aluna do curso – é porque é “filha de”; quando não se é tão bom ou se fica um pouco aquém, ai que vergonha porque é “filha de”. Fiz muitas outras coisas. A faculdade, não assumia; embora me dedicasse à faculdade e fosse marrona, não era a única coisa que fazia da vida.

Que outras coisas?

Fazia trabalho de voluntariado, que fiz sempre. Comecei logo a trabalhar na rua com prostitutas e com toxicodependentes, fazia troca de seringas. Nessa altura, os programas de prevenção de risco eram muito hard-core. Nos anos 90, isso era uma coisa bastante forte. Fazia desporto e depois fui mãe aos 22 anos, tinha mais com que me preocupar do que com o que os outros pensavam.

E a Psicologia foi uma escolha natural?

Foi mais ou menos natural. Gostava mais de Filosofia, mas tirava melhores notas a Física. Estava um bocado dividida, e a Psicologia acaba, às vezes, por ser a confluência de uma parte mais das Humanidades com uma parte mais Científico-Natural.

Sai de casa aos 19 anos, continua em Coimbra?

Sim, só vim viver para Lisboa com 26 ou 27 anos.

Como foi ser mãe aos 22 anos?

Foi uma escolha minha. Toda a gente me dizia que era uma escolha errada porque estava no terceiro ano da faculdade, e algumas pessoas da família, mas mais pessoas de fora, diziam-me que não ia conseguir acabar o curso, que ia ser uma desgraçada e que ia estragar a vida. Mas queria muito ser mãe e já tinha posto isso na cabeça, ninguém me ia demover, e assim foi. E foi ótimo, foi maravilhoso, completamente diferente de ser mãe mais velha.
É claro que tem vantagens e desvantagens como tudo na vida mas, de facto, foi muito bonito porque o Vicente cresceu comigo e eu com ele. Isso também nos traz uma cumplicidade muito especial.

A Joana e os seus pais tinham uma visão diferente da política?

Tinham, embora tenham tido o seu momento. Os meus pais fizeram parte da crise estudantil de 69, o meu pai foi várias vezes preso pela PIDE, a minha mãe esteve presa enquanto estava grávida do meu irmão Henrique. O meu pai chegou a comer documentos em frente à polícia para não ser incriminado. Não eram propriamente uns copinhos de leite. Penso que a seguir ao 25 de Abril introduziram algum fator de moderação nas suas escolhas políticas, mas de personalidade e constitucionalmente são ambos mais conservadores do que eu. São pessoas politizadas. O meu pai, hoje em dia, não é muito de esquerda, tem uma visão económica liberal, muito mais do que a minha. A minha mãe é de esquerda, mas de uma esquerda muito mais moderada. Diria que na maior parte das vezes votará PS, terá um ou outro momento em que votou noutro partido, nomeadamente em mim.

Na sua profissão teve algum episódio fora do normal?

Claro que sim. Faço clínica privada, os pacientes marcam uma primeira consulta e não há propriamente um processo de triagem. Nunca sei quem é que amanhã às 11h da manhã se vai sentar no gabinete comigo. Pode ser uma vítima, mas também pode ser um agressor; pode ser uma pessoa bem-intencionada, mas também pode ser uma pessoa mal-intencionada. Nestes 20 anos de prática clínica já tive situações complicadas – felizmente, nenhuma grave.

Complicadas como?

Já tive pacientes agressivos, descompensados, já tive pacientes que me ameaçaram de morte. Já tive pessoas que desmaiaram, outras ficaram histéricas. O meu avô psiquiatra, Nunes Vicente, dizia sempre que o maior risco de qualquer clínico era levar com uma secretária na cabeça de um maníaco ou ter uma histérica apaixonada por si.

Já teve os dois casos?

Já. Já tive a minha dose.

Por aparecer na televisão, poderá haver pessoas a irem ao consultório por causa disso?

Claro, qualquer clínico que esteja exposto publicamente, procuram-no precisamente por isso. Veem isso como uma validação das suas competências, e isso, depois, são questões que têm de ser trabalhadas com o paciente: porque é que prefere uma pessoa com exposição mediática e se isso quer dizer alguma coisa da personalidade dessa própria pessoa, e isso deve ser elaborado durante as consultas.

Como entra na vida política?

Era muito activa em Coimbra, principalmente a trabalhar com franjas de exclusão social muito graves e, na altura, quando surgiu o Bloco de Esquerda, surgiu muito associado a essas questões. E como era uma activa e tinha montado uma organização não governamental que tinha cerca de 100 voluntários na Região Centro – era uma coisa muito grande e dinâmica, e organizava muitos encontros e debates –, o Bloco fez praticamente um recrutamento, que é aquilo que os partidos fazem. Começaram a convidar-me para estar presente em debates e em conversas.

Como acha que chegou a deputada?

Porque tinha a experiência muito desenvolvida nas áreas de exclusão social, porque tenho facilidade na parte oratória, porque sou combativa em debate.

E por ser bonita…

Talvez, mas raparigas bonitas há ao pontapé, felizmente. 
Não estou a dizer que isso não tem influência, tudo tem influência, mas foi um conjunto de circunstâncias.

Falei em ser bonita porque já disse várias vezes que o corpo também é um instrumento político…

O corpo é um instrumento político. 
Ainda hoje não percebo muito bem o que as pessoas querem dizer da pior herança da filosofia cartesiana, da separação mente/corpo. 
A mente também é corpo, os órgãos produzem as suas funções, o estômago faz a digestão, o cérebro faz o pensamento, é tudo corpo, é tudo matéria.
E como não sou animista nem católica, não percebo muito bem essas diferenças. 
Corpo são e mente sã é um dos lemas da minha vida e vejo corpo e mente como uma só coisa. 
Alguém há de me explicar porque é que cabeça não é corpo.

Qual foi a grande experiência no Parlamento?

Lembro-me do meu primeiro debate parlamentar. 
O Bloco tinha a tradição de lançar um pouco as pessoas às feras, no sentido de não preparar muito, e até bem, de certa forma. 
Não reagi mal porque isso fazia parte da tradição da casa dos meus pais: desenrasca-te. 
Lembro-me que esse primeiro debate foi sobre a liberalização das drogas leves, seria um tema que era mais ou menos da minha área e com que estaria familiarizada. 
Lembro-me de ter corrido bem.

Como se sentiu no Parlamento?

Achei que era um ambiente extremamente conservador, ainda hoje acho, com ar viciado e muito pouco saudável. 
Recordo--me melhor do dia em que saí da Assembleia do que do dia em que entrei porque no dia em que saí, e isso faz parte do protocolo, o Presidente da Mesa tem de dizer o nome completo do deputado, a dizer que sai e que será substituído pelo deputado x, e lembro-me de, quando foi lido o meu nome, ter havido uma ovação mais ou menos digna do 8.º D. 
Já não ouvia apupos desse género desde a minha turma do 8.º D, e esse ambiente marcou-me mais.
É um ambiente de que não gosto.

Mas foi apupada à saída?

Sim, no sentido como se fosse “a gaja gira vai-se embora”. 
Acho ridículo, patético.

Mas não é por causa disso que quer lá voltar…

Não sei se quero lá voltar ou não. 
Luto pelo direito de lá voltar, é diferente. 
Uma das coisas que tenho introduzido ou tentado introduzir no debate político é a limitação dos mandatos aos deputados. 
Não acho aceitável que estejam lá deputados desde que nasci. 
O princípio da alternância em democracia é um dos princípios fundamentais para a existência da própria democracia. 
Se não há alternância, não há democracia. 
Não é aceitável que estejam lá deputados sentados há 40 anos, isso é tóxico e venenoso. 
Um bom barómetro para auferir a qualidade de uma democracia é a facilidade com que se entra e quando se sai dos exercícios dos quadros públicos.
É por esse espaço que luto, não acho saudável que estejam lá pessoas a criar raízes. 
As pessoas que se dizem verdadeiros democratas e pugnam pela ética republicana deviam ser os primeiros a dizer que um deputado não devia fazer mais do que três mandatos consecutivos. 
Três mandatos parece-me razoável, já são 15 ou 12 anos, caramba, não chega para desenvolver um trabalho para serem avaliados?
E depois voltam naturalmente à sua vida civil e ao exercício das suas profissões.

É essa rebeldia que a levou a apoiar Mário Soares para a Presidência contra a opinião do Bloco de Esquerda?

Fui mais esteticista e os resultados estão à vista porque, nessa altura, o que se configurava no horizonte – cresci no cavaquismo, abominava aquela densidade de nevoeiro que se abateu sobre a sociedade portuguesa nos anos 90 – era levar com o Presidente da República Cavaco Silva dez anos. 
Achei que a esquerda tinha de se unir em torno de um candidato que pudesse ser uma figura de convergência, onde pudessem fluir várias vontades, e a verdade é que o Bloco e outras forças não quiseram nessa época, mas anos depois já quiseram com Manuel Alegre. 
Foi pena, porque foi noutro tempo e já foi inoportuno porque, entretanto, Cavaco Silva já tinha firmado os pés em Belém e depois é muito mais difícil derrubar uma figura que já está enquistada do que alguém que está a disputar a entrada no poder. 
Achei que era errado a esquerda fazer a fragmentação habitual dos candidatos – era Jerónimo de Sousa, era Francisco Louçã – e que nos devíamos concentrar num candidato só, eventualmente Mário Soares.

Acabou por se desfiliar em 2014…

Não sei bem em que ano é que me desfiliei porque, na prática, passei a ser observadora internacional, deixei de pagar quotas, deixei de ir a reuniões.

A seguir entra no movimento Juntos Podemos…

Esse movimento foi criado de propósito para ser temporário porque era uma congregação de vários movimentos e resultou numa plataforma para fazer deliberação sobre uma série de aspetos que estavam a inquietar a sociedade portuguesa na altura. 
Foi no rescaldo do “Que se Lixe a Troika”. 
Tenho um movimento político de que já fazia parte nessa altura, que era o Agir, e o Agir o que tem feito é participar e tem feito coligações em várias frentes de vários partidos. 
Nessa altura pertencemos ao Juntos Podemos, depois fizemos uma coligação com o Partido Trabalhista para concorrer às eleições legislativas em 2015, e depois com o Nós Cidadãos nas autárquicas. 
Isto para dizer que o Agir continua a existir.

E quem é o líder?

Não há um líder. 
Há uma figura pivô que dá a cara. 
Há uma linha de intervenção que adotámos em 2015, que é ação direta. 
Nessa campanha fomos nós que subimos à Assembleia da República para pôr a placa a dizer “vendido” e a bandeira da Grécia no Castelo de São Jorge, etc. 
E continuamos a fazer a nossa ação política direta.

Isso pode ser considerado como uma brincadeira de rapazolas.

Acho que a divulgação da auditoria da Caixa Geral de Depósitos não é uma brincadeira.

Isso é uma questão diferente…

É uma ação direta na mesma. 
Há muitas formas de ação direta.

A Joana diz-se de esquerda.

Digo que sou de esquerda, embora tenha muitas dúvidas relativamente a isso.

Identifica-se de alguma forma com os governos totalitários, como o da Venezuela?

Não, aliás, repudio qualquer forma de totalitarismo ou ditadura de esquerda ou de direita.

Como há pessoas tão díspares nos seus movimentos?

No PS também há pessoas que são díspares e no PSD nem sem fala. 
O Agir tem uma agenda com três ou quatro pontos que são altamente aglutinadores, que penso que são importantes e mais ou menos transversais e comuns a toda a sociedade portuguesa. 
E é isso que junta algumas pessoas, também não somos assim muitos, mas somos bastantes para já termos feito algumas coisas com algum impacto. 
Um desses denominadores comuns e que é muito importante é o combate à corrupção, que continua a ser, em Portugal, visto como uma causa populista, embora todas as organizações internacionais coloquem Portugal muitíssimo mal classificado em todos os rankings oficiais. 
Não entendo como é possível que qualquer partido, desde o Bloco de Esquerda ao CDS, não tenha isso como prioridade na sua agenda. 
Isso foi sempre uma prioridade para o Agir e continua a ser. 
Outra é a reforma do sistema político, que vai desde a reforma dos sistemas nominais até haver avaliação, rankings dos deputados, como há em muitos países europeus. 
Sabemos que Ricardo Sixto é o deputado mais produtivo em diplomas sobre a pobreza em Espanha porque há avaliação do trabalho dos deputados.

Também defende a diminuição dos deputados?

Não. 
Acho que isso é uma medida facilitista. 
Se compararmos com a média europeia, não temos deputados a mais. 
Há países que têm o mesmo número de cidadãos e têm muito mais deputados – é o caso da Suécia, que tem 300 e tal deputados. 
Essa é uma medida fácil. 
Não quer dizer que a Assembleia da República passe a ficar mais elegante, podemos cortar na Assembleia da República, mas estamos a cortar no músculo e no osso, e não na gordura. 
Não é por ter menos deputados que a Assembleia da República vai passar a ser mais ágil ou mais produtiva. 
Acho que há outras medidas muito mais exigentes e que realmente dão muito mais trabalho, mas que dignificariam e ofereceriam mais garantias, como é o caso do ranking dos deputados e do registo biométrico. 
Não se percebe como não se aceita o registo biométrico no parlamento, acabaria certamente com esta postura absolutamente indecorosa das faltas, das viagens. 
Repare, temos um Orçamento do Estado que foi votado em falsidade, mas o que é isto? 
É uma República que se dá ao respeito? 
Isto é absolutamente inaceitável. 
Estes são os dois pontos principais da agenda do Agir, são denominadores comuns e aglutinam muitas boas pessoas da direita à esquerda, de norte a sul, de leste a oeste, e não tenho, ao contrário de algumas pessoas puristas e virgens, a análise de que as pessoas de esquerda são superiores moralmente às pessoas de direita ou outra coisa qualquer. 
Embora me identifique muito mais com as ideias de esquerda, acho que há ideias interessantes em vários quadrantes políticos e que devem ser valorizadas. 
Essa é a justificação para haver alguma composição híbrida e multivariada no Agir.

Em ano de eleições, o Agir vai avançar?

É surpresa. 
Gosto de surpreender.

É um ano atípico…

Pois, nós já começámos o ano e achámos que devíamos marcar o ano eleitoral.

Deixe-me voltar atrás e falar da famosa foto em que se despiu. Quais as críticas que mais sofreu quando se despiu em plena campanha eleitoral?

Sei lá, diziam que estava nua. (risos)

Joana Amaral Dias grávida… aos 40 anos e pico.

O que a levou a fazer aquilo?

A história é muito simples. 
Estava à espera de engravidar uns meses depois, mas engravidei mais rápido. 
A culpa é da minha ginecologista (risos), porque engravidei mais rápido do que era suposto e pura e simplesmente estávamos em plena campanha, em Setembro. 
Engravidei em Junho, em Julho percebi que estava grávida, em agosto a barriga cresceu e, quando voltei, em Setembro, achei que era melhor comunicar às pessoas que estava grávida. 
Até porque tive ali um pequeno percalço; depois as coisas resolveram-se e não sabia, se por acaso elegêssemos – o que não era muito provável –, se podia cumprir o mandato. 
Achei, por uma questão de transparência e de honestidade, comunicar. 
Ia estar a esconder a barriga? 
Ia estar à espera que um jornalista me perguntasse se estava grávida? 
Então dou uma conferência em Setembro a dizer que estava grávida e, se elegêssemos, seria o Nuno Ramos de Almeida a fazer a minha licença de maternidade. 
Achava que era uma coisa normalíssima e que era a minha obrigação para com os eleitores. 
Qual não é o meu espanto quando, depois desta conferência de imprensa – sobre a qual há registo e é fácil verificar –, várias pessoas da esquerda à direita se levantaram a dizer que estava a instrumentalizar a minha gravidez. 
Achei isso incrível porque sabemos como as mulheres em Portugal são tratadas a propósito da maternidade. 
Há muitas pessoas a carpir o facto de não haver crianças a nascer mas, depois, a primeira coisa que fazem quando as mulheres chegam às empresas é perguntar se são mães ou não, se vão engravidar ou não. 
Achei tudo isso absolutamente incrível neste nível em que uma mulher diz que está grávida e tem de levar com meio mundo a criticá-la. 
E, portanto, a capa da revista “Cristina” surge neste contexto. 
Pois estou grávida, so what? (risos)

E depois quis repetir…

E repeti.

Gostou…

Gostei porque ficaram todos muito incomodados. 
Da esquerda à direita, ficam sempre muito melindrados quando veem o corpo da mulher. 
Se está vestida é porque está vestida, se está despida é porque está despida. 
Marcelo Rebelo de Sousa pode aparecer a nadar no Tejo ou em Pedrógão. 
António Costa pode andar com a sua barriga à vontade na orla marítima e ninguém faz comentários, porque é o corpo do homem.
Quando é o corpo da mulher, da esquerda à direita, ai aqui d’el-rei que ela devia estar de burca. 
Temos pena, isso não vai acontecer. 
A segunda leva de fotografias foi capa da revista “Domingo” do “Correio da Manhã”. 
Mais uma vez não mostrava nada, ninguém via maminhas, nem perninhas, nem rabinho, viam, de facto, uma barriga que mostrava mensagens escritas. 
Fiz aquilo que achei que devia fazer e estou de consciência tranquila relativamente a isso.

Mas sente que isso prejudicou os resultados?

Não sabemos. 
Um dos problemas da política é que atingimos um nível primaveril em que só se pensa nos resultados. 
E diz-se tudo ao contrário para atingir determinados resultados, e perdem-se convicções, perdem-se ideias, perde-se a postura. 
Uma coisa a que não estou disposta, em troca de quê? 
De um prato de tremoços? 
Não estávamos dispostos a isso, defendemos a paridade entre homens e mulheres. Achámos essa ideia de controlo do corpo das mulheres absolutamente ridícula, inaceitável num país do séc. XXI.

A Joana não tem problemas nenhuns em dar uso ao corpo…

Mas porque haveria de ter problemas? 
Porque se fosse uma actriz e estivesse de biquíni já não haveria problema?

Estava a dizer que não tem medo que isso afecte a credibilidade política numa sociedade tão conservadora…

Porque haveria de afectar a minha credibilidade política? 
Não tenho de me adaptar camaleonicamente à sociedade em que vivo, tenho de me adaptar, sim, à sociedade em que vivo. 
Não acho que isso seja um aspeto positivo na nossa sociedade e, por isso, não tenho de o defender.

Qual foi a melhor votação que teve até hoje?

Não sei. 
Tive sempre votações muito fraquinhas. (risos) 
Quatro votos? 
Não sei de cor, juro. (risos)

Isso não desmotiva?

Não. 
O que me motiva não é a cenoura. 
Se quisesse ser deputada, já o era. 
Se quisesse uma via verde para o sucesso, isso já estava resolvido.

Por falar nisso, o que se passou com o convite do PS em 2009? Embora Paulo Campos tenha dito que não a tinha convidado, Sócrates disse o mesmo… Poderia ter feito parte do governo de Sócrates…

Nunca quis fazer parte do governo de José Sócrates, mesmo quando todos queriam fazer parte da vida de Sócrates. 
Sinto-me de consciência tranquila em relação a esse aspeto. 
Paulo Campos ligou-me, propôs-me ser deputada e propôs-me inclusivamente que, se não quisesse ficar na Assembleia da República por muito tempo – porque já tinha sido deputada –, poderia ir dirigir um instituto como o Instituto Português da Juventude ou da Droga e Toxicodependência, que era a minha área, convite que recusei. 
Recusei de uma forma gentil e educada, e achei que, embora a minha relação com o BE já não fosse a melhor, devia ter a hombridade de comunicar ao Francisco Louçã o que tinha acontecido, não fosse ele saber de outra forma. 
Comuniquei e Francisco Louçã resolveu divulgar à comunicação social.

Num estudo divulgado aparece como a nona pessoa mais influente do Twitter e Rui Tavares como a primeira. Sendo dos mais influentes, como interpreta terem poucos votos nas urnas?

Não me admira, acho que os políticos não conseguem votos nas urnas. 
Temos 50% de abstenção, que é outro problema gravíssimo, e daí termos como segunda prioridade a reforma do sistema político.

Mas os 50% que vão votar votam noutros partidos…

E há 50% que não vão votar e, se calhar, preferem estar nas redes sociais porque consideram que o sistema político está completamente descredibilizado.

Não vamos mandar no país através das redes sociais…

Pois não. 
Por isso mesmo é que precisamos de fazer alterações profundas, e há aspetos práticos, alguns deles já mencionei, podia apontar mais 50.

Não acha que há alguma coisa que falha aí?

Acho. 
O que falha é o sistema político, que está totalmente descredibilizado. 
As pessoas não acreditam nos partidos, não querem votar nos partidos, não querem eleger para a Assembleia da República, estão totalmente afastadas, e isso tem consequências.

Acha que há uma dificuldade em falar com o povo?

Não sinto nenhuma dificuldade em falar com o povo. 
Acho que há muitos aspetos que podem interferir aí e, sinceramente, não é aquilo que mais me preocupa na análise política.

A Joana tem mais de 40 mil seguidores no Instagram. Acha que, nas futuras eleições, alguns desses seguidores irão votar em si?

Não é diretamente revertível o número de seguidores no Facebook, no Instagram ou no Twitter para a urna.

Mas a Joana tem hoje uma visibilidade muito superior à que tinha há três ou quatro anos…

Não me posso queixar. 
Faço por isso, trabalho para isso.

Por falar em redes sociais, anunciou aí que iria divulgar uma “bomba” e revelou depois a auditoria à Caixa Geral de Depósitos. Acha que havia falta de vontade de divulgar essas informações?

Certamente porque esse relatório passou pelas mãos de muitas pessoas. 
A versão definitiva foi entregue em agosto de 2018 e, por alguma razão, o regulador não a divulgou, o governo não a quis ver, os deputados não tiveram acesso. 
Como é que isto é justificável?

Mas agora a polémica anda à volta do facto de o relatório ser preliminar e não definitivo…

Isso não existe. 
Aconselho cuidado e caldos de galinha a quem diz isso porque uma das coisas que justamente o Ministério Público está a investigar é o ocultamento do passivo e das imparidades e a tentativa de branqueamento das contas do banco. 
A informação a que tenho acesso – além de ter acesso ao relatório também tenho acesso a outra informação – é que o relatório final, pelo menos na altura que foi entregue, não diferia em nada substantivo dessa versão.

Os valores não diferem muito?

Acha? 
Então como é que as pessoas que dizem isso vão justificar os seis mil milhões de euros que foram injetados desde 2012 na Caixa Geral de Depósitos? 
Vão justificar com que razão? 
Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. 
Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da Troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria.
Agora não há imparidades no banco? 
Vão justificar esses 6 mil milhões como? 
E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. 
Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. 
A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.

Ficou surpreendida ou pensava que ainda haveria mais prejuízos?

Fiquei sobretudo desgostosa porque, quando li o relatório, no dia em que me foi entregue, fiquei com muitas dúvidas e críticas quanto à democracia portuguesa e ao regime. 
Nunca pensei em dizer isto, mas deixei de acreditar na democracia portuguesa. 
Não existe democracia em Portugal.
É uma ficção. 
Nunca pensei chegar a isto, porque quando ouvia as pessoas a dizerem isso achava que elas eram populistas, exageradas e radicais. 
Depois de ver aquele relatório, não tenho dúvidas que isso é mesmo assim. 
Não há mesmo democracia em Portugal. 
O que houve estes anos na Caixa Geral de Depósitos, de chegarem lá amigos de gestores ou de administradores ou de deputados ou de ministros e dizerem que querem milhões, para o que não têm quaisquer garantias e a avaliação de risco é claramente negativa, mas levam esses mesmos milhões e, obviamente, não cumprem, atesta aquilo que estou a dizer. 
Aquilo é um banco público.

Por ser público, ganha outros contornos…

Recapitalizámos o BPN, o BES, o BCP, o BPP, mas isto é o banco público. 
O que se passou neste banco nunca poderia ter acontecido em nenhuma escala.

O facto de as nomeações serem políticas não contribui para a sua transparência?

As nomeações devem ser políticas fazendo da Caixa Geral de Depósitos um instrumento a favor da alavancagem e da dinamização da economia portuguesa, e não propriamente para encherem os bolsos a meia dúzia de piranhas de um sistema.

Mas é por isso que não vivemos numa democracia?

Perante estes dados não estamos numa democracia, porque não é aceitável.

As democracias têm lacunas…

Isto não são lacunas. 
Há 17 gestores desta altura que continuam a ter cargos máximos de relevância. 
Faria de Oliveira preside à Associação Portuguesa de Bancos, Carlos Costa foi administrador da Caixa Geral de Depósitos e preside ao Banco de Portugal, Tomás Correia está à frente da Associação Mutualista Montepio. 
Há não sei quantos gestores que continuam dentro da banca. 
Aliás, destes, só dois é que não entraram, não foram reciclados outra vez no sistema bancário porque foram impedidos pelas instâncias europeias, senão também continuavam. 
O que acontece neste momento é que não há democracia porque a equipa que está a jogar contra a outra equipa é exatamente da mesma cor, e o árbitro e o VAR também. 
Não há jogo político, não há jogo democrático, estão todos exatamente a comer da mesma gamela e a agasalharem-se nos mesmos lençóis – obviamente, não há democracia. 
Não acha que é legítima a dúvida quando olhamos para esta situação? 
Porque é que o Banco de Portugal até hoje não emitiu sequer um comunicado sobre aquilo que aconteceu? 
Não acha que é legítimo que um cidadão que leia jornais e que esteja minimamente informado olhe para isto e pense que ele está a proteger-se a si mesmo? 
Esteve na Caixa Geral de Depósitos, não viu nada, não se passa nada.

Tem a noção de que todos sabiam o que se passava?

É claro que todos sabiam.

Por isso é que fala no tal regabofe?

Todos sabiam o que se passava de certeza, uns melhor do que outros. 
Até jornalistas sabiam pelas investigações que foram fazendo. 
O que este relatório traz é, de facto, uma visão panorâmica de conjunto e um atestado a muitas informações que foram sendo levantadas, porque há aqui muitos dados que já eram motivos de suspeita ou até mesmo de investigação.

O caso de Vale do Lobo?

Por exemplo. 
Como era possível financiar quando toda a gente sabia que aquilo era um poço sem fundo? 
Como é possível essa insistência?

E um banco que também foi usado para uma guerra interna num banco privado…

O BCP, em que são oferecidas como garantias as próprias acções.
Acha que isso é sequer imaginável num regime democrático? 
Penso que não é. 
Este tipo de promiscuidade é que nos faz questionar todo o sistema.

Recebeu algumas ameaças?

Sim. 
São sobretudo de anónimos, os cobardes gostam de máscaras.

Mas isso é mais no Facebook?

Facebook e não só. 
Todos os meus contactos são mais ou menos públicos. 
É muito fácil aceder.

Mas recebe muitas ameaças?

Sempre recebi, desde a extrema-direita até ameaças isoladas. 
Nunca me preocupei com isso e palavra de honra que não perco dois minutos a pensar sobre isso.

Não seria desejável alargar o leque após 2015?

Acho que sim. 
Além disso, é preciso atribuir outro tipo de responsabilidades.
A Deloitte, que foi a auditora da Caixa não sei quantos anos, também não viu nada. 
Todos estes actores supostamente credíveis e com créditos firmados na sociedade portuguesa e até internacional nunca souberam de nada e nunca viram nada do que se passava na Caixa Geral de Depósitos. 
Se isto não merece responsabilidades e se não merece consequências, então não sei o que é que merece. 
Não consigo imaginar, sinceramente, tirando crimes como envenenar os cidadãos através de um saneamento público de ar, uma coisa mais grave do que esta. 
Tivemos de cortar no Sistema Nacional de Saúde, tivemos de cortar na Escola Pública, tivemos de cortar numa série de dinamização de pequenos e médios empresários, e depois acontece isto. 
Sabe quanto é que, em média, os portugueses dão por ano para a corrupção? 
1800 euros. 
Gastamos 8% do nosso PIB em corrupção, Luanda, por exemplo, gasta 0,7%.

Gasta como?

O que os índices de corrupção mostram é que custa a cada português isto: 1800 euros por ano. 
É mais do que gastamos em medidas de combate ao desemprego.
Cada euro gasto em corrupção – e isto não é populismo – é tirado a um apoio de um velhote ou à educação de uma criança. 
Quais são as responsabilidades políticas? 
Vejo com um crime de lesa-pátria porque não consigo imaginar – talvez a fantasia pródiga de alguns psicopatas à frente do país o consiga fazer – um crime mais grave para o país do que este, do que roubar o dinheiro diretamente às pessoas, do seu trabalho, do seu esforço diário e da sua construção, porque a Caixa Geral de Depósitos é também a construção de todos os portugueses.

Mas o facto de as auditoras não saberem de nada não é inédito em Portugal.

Aqui, o que é inédito é que se trata de um banco público. 
Por exemplo, a comissão de avaliação de risco da Caixa reunia-se à quinta-feira de manhã e à quarta eram entregues os documentos. 
Ou são todos uns génios da finança ou gostava de saber como é que de quarta para quinta conseguiam fazer a avaliação do risco. 
Claro que não faziam, era uma reunião de fachada e de fantoches.

O que contava era a pessoa que pedia o empréstimo?

Óbvio, e as ligações que tinha, os contactos que tinha, o poder que tinha, o prestígio que tinha, a influência que tinha. 
Isto chama-se tráfico de influências, chama-se corrupção. 
Chama-se crise de lesa-pátria com esta magnitude e regularidade porque o crime também se mede pelo aspeto reiterado, e ao longo destes anos todos é um crime contra o país, contra a nação. 
E tem nomes e rostos, estão lá no relatório, está à vista de todos.

Acha que há mais algum banco em estado crítico?

O Montepio é um deles. 
É uma bomba que está prontinha para nos explodir na cara. 
E agora que Tomás Correia está outra vez à frente, acho muito perigoso.

A ideia que se tem de si é que estava ligada a partidos de esquerda. Acha que essa imagem ainda hoje existe?

Acho que as pessoas, hoje em dia, têm uma visão menos dicotómica do que é esquerda e direita, e acho que há uma série de outras dualidades que entraram no cenário político e de que as pessoas têm mais consciência – por exemplo, se calhar, entre mais produtiva ou mais ambientalista, identidade, raça, género – que entraram de facto no debate político e que não se reduzem à ideia de esquerda e de direita. 
Em relação à esquerda há muitos aspetos em que me revejo, mas não me identifico com aquela imagem de índios e cowboys, com essa divisão tão simplista da realidade. 
Esquerda e direita não é a realidade, é a leitura da realidade, é uma forma de ler a realidade. 
Se há pessoas que não me identificam apenas como esquerda, ainda bem.

Não tem receio de ser considerada uma populista de direita?

Não tenho receio de nada, as minhas posições são públicas, justifico-as. 
Podem rever-se ou podem não se rever. 
Podem gostar, podem concordar, podem discordar.

O que pensa de Francisco Louçã?

É um excelente ponta-de-lança, é um homem muito inteligente, muito capaz. 
Acho, contudo, que tomou algumas decisões políticas erradas e a pior de todas, na minha perspetiva, foi a geringonça.

Acha que é o ideólogo da geringonça?

Claro, disso não há dúvidas.

E o que pensa de ele estar no Banco de Portugal?

Acho que faz parte deste processo de institucionalização e normalização do BE, o qual vejo com algum desgosto. 
Acho que o papel de crítica social aguçada e também de alguma rebeldia do BE era muito importante na sociedade portuguesa e ficou um enorme vazio. 
Outra coisa que está a enfraquecer a nossa democracia é que António Costa governa como se tivesse uma passadeira vermelha a descer pela Avenida da Liberdade porque a direita não existe, está totalmente esfrangalhada, e a esquerda está metida no bolso direito de António Costa. 
Neste momento não há oxigenação na vida política portuguesa e isso é mais um facto perigoso.

Imagina-se na Assembleia da Republica?

Imagino-me a fazer aquilo que gosto de fazer, que é lutar por uma sociedade mais justa e mais transparente. 
Foi por isso que avançámos agora com a divulgação do relatório da Caixa Geral de Depósitos. 
Certamente, 2019 é um ano político extremamente importante e continuo a defender-me como uma activista política como sempre fui, desde os tempos da faculdade.

O que tem a dizer sobre Fernando Medina?

Vejo-o como um político monárquico, alguém que herdou o poder.
Acho-o fraco politicamente, pouco ousado, não acho grande orador nem que tenha feito nada de especial pela cidade de Lisboa. 
Acho-o um mau presidente da câmara e um político com pouca espessura, com pouca densidade, mas a verdade é que ganhou.

Como viu os acontecimentos no Bairro da Jamaica?

Portugal é um país racista, sobre isso não há dúvidas nenhumas. 
Só quem não anda nas ruas e não fala com as pessoas é que não ouve os comentários xenófobos e violentos contra pessoas não caucasianas, apesar de os portugueses não serem assim tão caucasianos como pensam que são. 
Isso é herança de várias coisas, de uma educação pobre, de um espírito colonial que ainda está muito aceso em muitas regiões do país, mas acho que uma leitura simplista do que se passa no Bairro da Jamaica só serve para motivar ódios, nomeadamente ódio racial.
Aquilo que se passa no Bairro da Jamaica é uma história de terror em que a Câmara do Seixal teve grandes responsabilidades durante muitos anos, porque aquilo é um bairro de ocupação pós-25 de Abril que já não devia existir, devia ter sido demolido há muito tempo e aquelas famílias realojadas. 
Qualquer leitura simplista de polícias contra pessoas afrodescendentes é uma leitura de insuflar espíritos malévolos, porque é muito mais complexo do que isso.  
E as pessoas que trabalham e que são honestas e que vivem no Bairro da Jamaica sabem disso muito bem.

Como acha que os intelectuais a veem ao estar no “Correio da Manhã” a defender…

Acho que me veem com preconceito e com estereótipo. 
Acham que o “Correio da Manhã” é um pasquim sensacionalista e que todas as pessoas que lá escrevem são sensacionalistas. 
Isso é tão cínico. 
Quando o António Costa tinha lá uma coluna e já era autarca em Lisboa, o Partido Socialista batia palmas ao “Correio da Manhã” todos os dias (risos), agora é o Belzebu. 
Acho só cínico e disparatado, são quase infantis algumas avaliações desse género. 
Não estou na vida pública para ser amada, desejada e acarinhada.
Para isso, estou em casa, onde sou muito desejada e muito amada.
Estou na vida pública porque tenho coisas para dizer, porque me convidam e me pedem para dizer coisas, mas não estou propriamente à procura de autoestima. 
Por isso, não vejo as críticas e os ataques como sendo pessoais, estão a atacar uma persona pública. 
Estão no seu direito.

E gosta desse reconhecimento, dessa fama?

É o meu trabalho, é a minha actividade. 
Aí está, a fama tem coisas boas e más: pessoas que odeiam e que atacam e pessoas que adoram e mimam. 
Vejo isso como parte integrante do processo. 
Não é nenhuma dessas coisas que me move propriamente, isso são efeitos colaterais.



Fontes
  1. Joana Amaral Dias. “Não existe democracia em Portugal” | Fotos”, Sónia Peres Pinto e Vítor Rainho, Jornal i Digital, 03/02/2019 13:18. Recuperado a 07 de Fevereiro de 2019 entre cerca das 14:00 e cerca das 17:00.
  2. Marta Rebelo critica Joana Amaral Dias: "Prostituição político-partidária””, Jornal i Digital, 08/09/2015 12:58. Recuperado a 07 de Fevereiro de 2019 entre cerca das 14:20.

Referências
  • Joana Amaral Dias”, Wikipédia, a enciclopédia livre. Publicado a 25 de Novembro de 2018, às 17:59. Recuperado a 07 de Fevereiro de 2019, às 17:11.


Etiqueta principal: Política.
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