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31 de agosto de 2020

Os Militares Portugueses na República Centro-Africana


«Foi assim que Al Venter, um dos autores e investigadores militares anglo-saxónico mais reconhecidos do mundo, descreveu a Força de Reacção Rápida, das Forças Armadas Portuguesas, em missão na República Centro-Africana ao serviço das Nações Unidas desde 2017.»

Independentemente do parecer pessoal, mais positivo ou negativo, que se tenha sobre as Nações Unidas, é possível valorizar estas palavras pelo aquilo que representam, tão assustadoramente idênticas às que encontramos em crónicas de séculos de antanho.



1. K1 para o grupo
O vídeo acima.

2. K2 comenta o vídeo que K1 publicou
A tropa portuguesa ainda é assim tão boa!?
Nós já saímos de lá !

3. K1 em resposta a K2
Acho que está no sangue camarada K2!!!

4. K2 para o grupo
Algum de vocês se lembra do EP, que morreu há uns anos? 
Formou-se em Electrotecnia em Luanda. Não me lembro se fez tropa, acho que não.
Trabalhou na ONU e esteve em Timor, onde o encontrei. O EP contou-me que um colega da ONU, indiano, sem saber que ele era português, comentou a tropa portuguesa que lá estava. 
Disse que era a melhor tropa que tinha visto! E contou que noutra missão da ONU, na Bósnia ou assim, havia uns rebeldes que era preciso ir desarmar.
Foram lá os Americanos, cheios de jipes e de parafernália, foram recebidos a tiro e retiraram. Foram outras nacionalidades e aconteceu o mesmo. No fim foram os portugueses, a pé, sem grande aparato.
Aproximaram-se devagar. Chamaram os rebeldes sem antagonismos. Chegaram à fala. Conversaram e conversaram. Daí a um bocado, estavam a comer todos juntos.
E no fim trouxeram as armas!

5. K3 para o grupo
No nosso tempo tínhamos umas unidades muito boas, outras nem tanto.




Militares portugueses enfrentaram grupos armados na República Centro-Africana, nas últimas semanas de setembro. No vídeo é possível ver como sofreram uma emboscada. Não houve vítimas mortais.




Fontes
  1. Al J. Venter Describes The Portuguese Military”. Sylva Hodracyrda’s Youtube Channel. Published on August 24, 2020.
  2. Old Boys Network. Publicado a 29 de Agosto de 2020.
  3. As imagens da emboscada contra militares portugueses na República Centro-Africana”. Canal do Observador no YoutubePublicado a 09 de Outubro de 2019.
  4. Militares portugueses na República Centro-Africana recebem medalha da ONU”. ONU News. Publicado a 10 de Setembro de 2019.







Etiqueta principal: Forças Armadas Portuguesas.




24 de agosto de 2020

António Gil: A Grande Macaquice de Imitação




Há macro-factos e micro-factos. Não é por achar que a “crise do corona” foi cavalgada com propósitos MUITO EVIDENTES que vou dizer que TODAS as medidas adoptadas por diversos governos foram motivadas por mais um (grande) estouro da bolha financeira, pelo programa de Davos do ‘’Grande Reinício Económico’’, pela Falsa Agenda Verde ou pelo Último Estertor do Globalismo Ocidental. 

Não, há coisas que resultaram apenas da macaquice de imitação. Seguem-se algumas delas:

Um mistério durante meses é como  tantos governos em tantos lugares diferentes da terra adoptaram políticas absurdas iguais ou muito semelhantes, não importa o nível de ameaça do vírus nem as evidências firmes de que as intervenções tivessem alguma esperança de ser eficazes. 

No decorrer de duas semanas, as liberdades tradicionais foram eliminadas em quase todos os países desenvolvidos. Mesmo algumas políticas mais tolas replicaram-se viralmente numa série de países. 

Por exemplo, experimentar roupas em lojas da Europa, no Texas, em Melbourne, em Londres ou Kalamazoo. 

Por essa altura já se sabia que era pouco provável que o COV-SARS-2 fosse amante da moda. Foi um exagero misterioso porque as pessoas continuaram a tocar em embalagens, teclados de multibanco e muitas outras coisas. 

Mas em roupas não se podia…prontuuus, ficámos assim, sem mais explicações. Curiosamente logo a seguir muita gente acreditou que um pedaço minúsculo de tecido nas fuças podia salvá-las do vírus. É de loucos, não é?  

Em seguida, houve a confusão interior/exterior. Primeiro, todos foram forçados a entrar em espaços fechados e muitas pessoas foram presas por estarem ao ar livre. 

Mais tarde, quando os restaurantes começaram a abrir, as pessoas não tinham permissão para entrar, mas podiam comer suas refeições ao ar livre, se esplanadas houvesse. Deveríamos acreditar que o vírus viveu do lado no exterior por um tempo, mas depois buscou o aconchego de um tecto? 

Ah e os toques de recolher? Muitos países os adoptaram, apesar da completa ausência de evidências de que a propagação do vírus tem hora, como se diz que a brincadeira tem: pelas regras dir-se-ia que o vírus prefere a vida nocturna.

Ou será que o verdadeiro ponto era parar com a folia e tudo o que reunisse as pessoas de uma forma divertida? Foi como se vários governos decidissem no mesmo dia que o COVID-19 se espalhava por meio de sorrisos, beijos e diversão, então foi preciso banir tudo isso.

Em Lisboa, Sydney , Los Angeles, Detroit, Miami e tantas outras cidades é preciso usar uma máscara quando entras num restaurante, mas não quando te sentas para comer. 

E essa regra do metro e meio também é bizarra porque parece sugerir que se duas pessoas se aproximam demais uma da outra o vírus vem logo, todo guloso. Pelo menos as pessoas parecem acreditar nisso. 

A Austrália, à sua maneira, até criou um slogan e um jingle para acompanhá-lo. “ Ficarmos longe mantém-nos juntos ”, diz o Orwell, perdão, a Victoria. 

Em muitos países também, duas semanas de quarentena são exigidas para quem chega de longe, embora o período de incubação do vírus não seja tão longo. O  período médio é de 6 dias , talvez, que é o que se esperaria de um coronavírus. 

Ah, também não se pode borrifar um perfume para experimentá-lo, porque certamente isso espalha COVID-19 que por outro lado morre inapelavelmente com outros produtos à base de álcool e éter. Nenhum fragmento de evidência de que haja alguma verdade nisso. Esta medida parece completamente sorteada de entre um lote arbitrário delas…mas foi amplamente imposta. 

A proibição de encontros com mais de 50 pessoas ao ar livre e 25 dentro de casa, o encerrar de ginásios num momento em que as pessoas precisam de exercício físico, o encerrar de teatros e pistas de dança, mas a manutenção de lojas grandes – essas políticas são tão omnipresentes e nenhuma ciência as apoia – seria impossível justificá-las. 

O pior caso foi o encerramento de escolas. Eles foram fechadas ao mesmo tempo em todo o mundo, apesar das evidências disponíveis desde pelo menos janeiro de que a ameaça às crianças é quase zero. Sim, elas adquirem COVID-19 quase inteiramente assintomático, o que significa que não ficam “doentes” no sentido antiquado do termo. Além do mais, é altamente improvável que eles o espalhem para adultos precisamente porque não apresentam sintomas. Isso é  amplamente admitido. 

Mesmo assim, os governos decidiram infernizar a vida das crianças por um período inteiro. 

E tudo isso parece estranhamente suspeito. Todos esses países e estados implementaram esse show de palhaço obrigatório ao mesmo tempo.

Nos Estados Unidos, foi fascinante de ver. As paralisações aconteceram em todo o país. No Nordeste, o vírus já se espalhara amplamente para a imunidade de grupo. O Sul fechou ao mesmo tempo, mas o vírus ainda nem estava lá. Quando o vírus chegou, a maioria dos estados do Sul já tinham reaberto. O vírus  não parece importar-se com nada disso, de qualquer maneira. 

Como expliquei noutros posts, podemos buscar razões no colapso financeiro e na necessidade de injectar dinheiro em todas essas coisas grandes demais para falirem.

Tantos governos no mundo perderem ao mesmo tempo toda a noção e abolirem as liberdades do povo de forma tão cruel, enquanto pisavam as respectivas constituições e leis, deve ter uma explicação e eu até admito que nem todas as medidas tiveram motivações muito profundas, ou sequer reflectidas. 

Como não devemos porém sobrestimar a inteligência de muitos governantes tenho de aceitar que em muitos casos foram apenas macaquinhos de imitação.  

Pode ter começado por um governador ou estadista esgrouviado que por uma obsessão pessoal qualquer inventou algo num pânico louco sendo, em seguida, imitado por outros que queriam dar a impressão que estavam a fazer algo contra o vírus. 

A teoria do comprometimento.

Pete Earle parece explicar por que o rigor persiste, mesmo na falta de evidências de que eles fazem qualquer coisa para suprimir o vírus. 

Mas como podemos explicar a imposição de tantas regras igualmente ridículas ao mesmo tempo em tantas partes do globo? 

Convido-vos  a examinar um estudo muito interessante publicado pela National Academy of Sciences (EUA):  Explicando a difusão homogénea das intervenções não farmacêuticas COVID-19 em países heterogéneos.

Um título mais claro poderia ser: como tantos governos se comportaram tão estupidamente ao mesmo tempo. A teoria que eles postulam parece altamente realista para mim: 
« Analisamos a adoção de intervenções não farmacêuticas nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) durante a fase inicial da pandemia da doença coronavírus 2019 (COVID-19). 

 Dada a complexidade associada às decisões de pandemia, os governos enfrentaram o dilema de como agir rapidamente quando seus principais processos de tomada de decisão são baseados em deliberações que equilibram considerações políticas. 
 Os nossos resultados mostram que, em tempos de crise severa, os  governos seguem o exemplo de outros e baseiam suas decisões no que outros países fazem. Os governos em países com uma estrutura democrática mais forte são mais lentos para reagir diante da pandemia, mas são mais sensíveis à influência de outros países. Fornecemos ideias para pesquisas sobre difusão de políticas internacionais e pesquisas sobre as consequências políticas da pandemia COVID-19. »

Isto parece encaixar-se com o que tenho visto anedoticamente. 

Os maduros no comando são, em sua maioria, advogados especializados em vigarizar eleitores. E as “autoridades de saúde pública” que os aconselham podem obter credenciais na área sem nunca terem estudado grande coisa, muito menos medicina prática. Então o que eles fazem? Eles copiam outros governos, como forma de encobrir sua ignorância. 

Como diz o estudo:
« Embora o nosso artigo não possa julgar qual seria o momento de adopção “óptimo” para qualquer país, segue-se, a partir de nossas descobertas do que parece ser  uma imitação internacional  de adopções de intervenção, que alguns países podem ter adoptado medidas restritivas antes do necessário. 
 Se for esse o caso, esses países podem ter incorrido em custos sociais e económicos excessivamente altos e podem ter problemas para sustentar essas restrições pelo tempo necessário devido à fadiga do bloqueio. »

Ou seja: os confinamentos, bloqueios e medidas de restrição impostas não eram ciência. Era mais do tipo: macaco faz o que vê os outros macacos fazerem. As experiências de psicologia social  sobre conformidade  ajudam a explicar isso melhor do que qualquer outra coisa. Eles viram alguns governos a fazer coisas e decidiram fazê-las também, como uma forma de se certificarem de que evitam riscos políticos, independentemente do custo. 

Tudo isso só aumenta o respeito pelos governos do mundo que não fecharam negócios e escolas, não impuseram máscaras e não promoveram à maluca essa dança kabuki de distanciamento social para sempre. Vêm à mente Coreia do Sul, Uruguai, Dakota do Sul, Suécia, Taiwan e (sim até) a Bielo-Rússia. É necessário um nível incomum e raro de incredulidade para evitar esse tipo de mentalidade de rebanho.



Comentários no Facebook
Guardado.
     Carlos Ataide • 22 de Agosto às 21:02

Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto, caro Antonio Gil. 
No caso das "medidas" a cada nível da “máquina burocrática” o irresponsável responsável acrescenta-lhe mais uma, para que não possa ser acusado de irresponsabilidade. 
Depois há outra questão, independente da anterior, porque é que as pessoas aceitam submeter-se?
     Duarte Pacheco Pereira • 23 de Agosto ás 08:27

Vou levar, caro Antonio Gil.
     Duarte Pacheco Pereira • 23 de Agosto ás 08:27




Fonte







Etiqueta principal: Fascismo pós-moderno.


10 de agosto de 2020

Salazar e a ICAR

Paulo IV e Salazar, em Fátima.


Um interessante, e importante, artigo de Gonçalo Portocarrero de Almada – doutor, presbítero e visconde – seguido de um breve comentário.


A santidade de Paulo VI
     e a eternidade de Salazar

Na diplomacia da Santa Sé, as dificuldades na negociação da Concordata firmaram a ideia de Salazar como sendo na prática muito político e pouco católico.

Por Gonçalo Portocarrero de Almada
     no Observador às 00:01 de 08 de Agosto de 2020.

Em 2020 ocorreram, entre outras, duas efemérides: os 80 anos da Concordata entre Portugal e a Santa Sé e os 50 anos da morte de António de Oliveira Salazar. Não obstante o meio século decorrido, ainda é cedo para fazer uma análise objectiva sobre a relação entre o ex-seminarista viseense e a Igreja católica, porque a pessoa e a obra do ex-governante continuam a suscitar reações apaixonadas. Mas, qualquer que venha a ser o veredicto da História, é já possível afirmar que a ligação de Salazar à Igreja não foi linear.

A Concordata entre Portugal e a Santa Sé foi assinada a 7-5-1940, em pleno Estado Novo. Este tratado internacional – o Vaticano foi reconhecido, em 11-2-1929, pelos Pactos de Latrão, como Estado soberano, sucessor dos Estados pontifícios – surge no seguimento desse pacto com o regime fascista, de Benito Mussolini, e a Concordata com o governo nazi, de Adolf Hitler (20-7-1933). Não se pense, contudo, que as Concordatas com a Itália fascista, a Alemanha nazi e o Portugal do Estado Novo, expressam uma especial simpatia da Santa Sé por estes regimes. Muito pelo contrário.

São dessa altura três importantes encíclicas papais, que têm um denominador comum: a defesa da liberdade contra o totalitarismo. A encíclica Divinis Redemptoris, de 19-3-1937, condena o comunismo, enquanto Mit Brennender Sorge, do dia 14 do mesmo mês e ano, denuncia a ideologia nacional-socialista germânica, razão pela qual foi redigida em alemão, como a encíclica Non abbiamo bisogno, de 29-6-1931, o tinha sido em italiano, porque nela se critica o fascismo italiano. É significativo que os dois grandes totalitarismos do século XX – o nazismo e o comunismo – tenham sido condenados pela Igreja católica com apenas cinco dias de diferença.

Os factos confirmaram o carácter profundamente anticristão destas três ideologias totalitárias. O comunismo soviético exterminou a Igreja católica na Rússia, obrigando os seus fiéis a ingressarem na igreja ortodoxa. O fascismo italiano perseguiu os católicos: o Papa São Paulo VI, então Mons. Montini, sofreu na pele a intolerância dos sequazes de Mussolini. O nacional-socialismo alemão fez dos cristãos, sobretudo dos católicos, bem como dos judeus, os seus principais inimigos.

Nestas três magistrais encíclicas do Papa Pio XI nota-se a influência do seu Secretário de Estado, o Cardeal Eugénio Pacelli, que lhe sucederá, como Pio XII, na cátedra petrina. Pacelli foi durante vários anos núncio apostólico na Alemanha de Hitler e, por isso, não tinha quaisquer dúvidas quanto à intrínseca perversidade do nazismo, não obstante as simpatias de quem via no nacional-socialismo a salvação contra o comunismo soviético e internacional. A historiografia marxista tentou, já depois da morte de Pio XII, culpabilizá-lo pela sua alegada condescendência com o nacional-socialismo, acusando-o de um ‘ensurdecedor silêncio’ que, na verdade, nunca existiu. Se o Papa Pacelli evitou declarações públicas mais contundentes, foi porque seriam inúteis e desencadeariam retaliações nazis, como a que aconteceu depois da condenação do nazismo pelo episcopado holandês. Mas, muito antes de ser Papa, já tinha uma profunda aversão pela ideologia de Hitler, o qual, aliás, também não escondia a sua antipatia por Pacelli.

A este propósito, é muito curioso o que Bruno Cardoso Reis, na sua obra sobre Salazar e o Vaticano (Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa 2006), relata de uma conversa entre o futuro Pio XII, na altura ainda Secretário de Estado, e o representante português na Santa Sé, Vasco de Quevedo, de quem constava alguma admiração pelo regime nacional socialista. “Da maior relevância é a reacção claramente antinazi de Pacelli à crítica de Quevedo em relação às posições críticas do Vaticano e de alguns bispos face a determinadas correntes nacionalistas filonazis”.

Muito antes de se iniciar a segunda Guerra Mundial e de se conhecerem os horrores dos campos de concentração – onde foram martirizados, entre muitos outros, o franciscano São Maximiliano Maria Kolbe e a carmelita Santa Teresa Benedita da Cruz – já Pio XII expressava, ao embaixador português, o seu total repúdio pelo nacional socialismo germânico: “A Igreja não pode aplaudir qualquer orientação política que se pareça com o nazismo! Veja, Excelência, o que se passa na Alemanha: além de serem negados aos católicos as liberdades mais elementares […], a imprensa alemã fez uma campanha […] contra a Igreja, campanha inqualificável, odiosa e selvagem! Não pode calcular […] até que ponto vai a perseguição que se faz, neste momento, aos católicos e à Igreja”. “Perante a objecção de Quevedo de que na Alemanha as igrejas permaneciam abertas, enquanto o clero era morto e torturado na Rússia, Pacelli replicou: Sim, diz o cardeal interrompendo-me, mas o nazismo, não matando nem incendiando, consegue o mesmo resultado, porque acaba com a Igreja e a religião”.

A atitude de Pacelli já então era de manifesto repúdio não apenas do nacional-socialismo germânico, mas também de algum nacionalismo espanhol, não obstante o sentido de cruzada de que fazia gala o exército de Franco: “se nós sabemos que entre os nacionalistas espanhóis há gente de primeira ordem, também não ignoramos que, entre os legionários, há muitos de tendências nazistas, gente inconveniente e perturbadora”.

É sabido que o processo negocial que antecedeu a assinatura da Concordata entre Portugal e a Santa Sé, em 1940, foi lento e difícil, precisamente por causa destes antecedentes. Como escreveu Bruno Cardoso Reis, “é particularmente interessante Salazar mostrar-se ofendido com as alusões do núncio ao facto de que a má experiência com o regime nazi tinha tornado os prelados vaticanos muito cautelosos. Ele considerava a comparação disparatada e ofensiva”.

É verdade que o regime autoritário do Estado Novo divergia do fascismo italiano e, mais ainda, do nazismo germânico. Salazar, que foi seminarista e esteve prestes a ser ordenado padre, era católico e amigo próximo de uma figura proeminente da Igreja portuguesa no século XX: o Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, Patriarca de Lisboa, de quem foi colega quando ambos eram professores na Universidade de Coimbra.

Apesar de católico, Salazar nunca permitiu que a sua fé interferisse na intransigente defesa do que entendia ser o interesse nacional, nem favoreceu a Igreja. Com efeito, “uma característica fundamental da personalidade e postura política de Salazar” era “a sua rigidez na defesa do seu entendimento dos interesses do Estado”. Neste sentido, a Concordata de 1940 foi o compromisso possível, mas não o desejável para a Igreja. Como afirma Cardoso Reis, “na diplomacia da Santa Sé, as dificuldades na negociação da Concordata firmaram a ideia de Salazar como sendo na prática muito político e pouco católico”.

A relação tensa entre o Estado Novo e a Igreja católica agravou-se com o Concílio Vaticano II e, entre outros, o caso do Bispo do Porto, em 1958. A abertura proclamada pelo concílio não podia, obviamente, ser vista com apreço por um regime que insistia em manter-se autoritário e avesso a qualquer reforma. Também a nível internacional, era cada vez maior o desfasamento de Portugal, isolado na sua teimosa pretensão de não reconhecer o direito à independência das suas províncias ultramarinas, muitos anos depois de as potências europeias terem concedido a autodeterminação às suas colónias africanas.

Compreende-se assim que Salazar não tenha escondido o seu desagrado pela visita, em 1964, de Paulo VI a Bombaim, poucos anos depois da anexação de Goa, Damão e Diu, o chamado Estado português da Índia. Também causaria grande irritação ao regime, embora nessa altura Salazar já não fosse presidente do Conselho de Ministros, a audiência concedida, em Julho de 1970, por Paulo VI, aos representantes dos movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Foi, portanto, num momento de crispação nas relações entre Portugal e a Santa Sé que se deu, em Maio de 1967, a brevíssima visita apostólica de São Paulo VI à Cova da Iria, no cinquentenário das aparições marianas. O Papa não quis dar carácter de visita de Estado a esta sua deslocação e, por isso, nem sequer passou por Lisboa, reduzindo a sua presença a Fátima, onde esteve aproximadamente 24 horas.
Temia-se que Salazar, que não simpatizava com Paulo VI, não fosse recebê-lo a Monte Real, até porque, sendo o Papa o Chefe do Estado da Cidade do Vaticano, seria protocolarmente suficiente a presença do seu homólogo português, o Presidente da República, Américo Tomás. Mas o velho professor de Coimbra, fazendo das tripas coração, foi pessoalmente receber Paulo VI. Citando Franco Nogueira (Salazar, vol. VI, pág. 288), Bruno Cardoso Reis narra um inverosímil episódio, que foi “contado pelo próprio fundador do Estado Novo aos seus ministros, ‘rindo com sabor’. Naturalmente” – teria dito então Salazar – “tratei o pontífice por Vossa Santidade. Sabem como me tratou o Santo Padre? Chamou-me Vossa Eternidade”!

Não é razoável supor que, de facto, assim tenha acontecido, porque o Papa Montini, ao contrário do seu predecessor, o jovial São João XXIII, não era pessoa para fazer um aparte destes, muito menos com um chefe de governo que nunca tinha visto e com o qual a Santa Sé tinha então relações tensas. Não sendo crível que Paulo VI tenha tratado Salazar por Vossa Eternidade, nem que Franco Nogueira tenha inventado esta história, talvez tudo se tenha ficado a dever a uma graça do próprio ditador, o que explicaria que o tivesse feito “rindo com sabor”. Caso para dizer, se non è vero, è ben trovato!





Gonçalo Portocarrero de Almada não acredita que, do alto da Sua Santidade, 0 tenha tratado Salazar por “Vossa Eternidade”… mas eu acredito.

Montini, que esteve na Secretaria de Estado do Vaticano entre 1937 e 1954 como “Substituto para Assuntos Correntes”, na realidade como Vice-Secretário de Estado, há de ter acompanhado a negociação da Concordata de 1940 e a agitação dos Católicos “Progressistas” Portugueses, Católicos “Progressistas” esses que, tal como Gonçalo Portocarrero de Almada, eram de opinião que se deveria seguir o exemplo de França e Inglaterra: montar um sistema de exploração neocolonial e dar ao Ultramar uma independência de faz-de-conta.

Quanto a Salazar ter achado piada à “diplomática admoestação” de Sua Santidade qual a admiração? Salazar gostava que lhe contassem as anedotas que circulavam a seu próprio respeito, anedotas de que “ria com sabor”.




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Etiqueta Principal: História de Portugal
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