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19 de março de 2020

“A Água”, segundo Bocage


A Água



Manuel Maria Barbosa du Bocage








Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.

Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau rasca
que bebe o homem, que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.

Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelrras ao caralho

Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche

Recebido de um Kamarada Setubalense em tempos de Coronavirus e de Açambarcamento de Papel Higiénico.
Coimbra, Portugal, 2020-03-17.




Etiqueta principal: Poesias Eróticas, Burlescas & Satíricas.
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2 comentários:

  1. Partilhado no Twitter.
    https://twitter.com/athayde_a/status/1240760935293345793

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  2. Uma versão, descarregável, desta publicação (em pdf).
    https://www.dropbox.com/s/mkso7738vauythd/A%20%C3%81gua.pdf?dl=0

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