Contada por Ana Loureiro, o rosto da petição pública para a Legalização e Regulamentação da Prostituição em Portugal, meio no qual é também conhecida por Andreia Montenegro, esta é a história de uma mulher que encontrou na profissão mais velha do mundo o caminho para a sua sobrevivência e a dos seus filhos.
Oriunda de uma família lisboeta de classe média, Ana viveu uma infância e adolescência marcadas pela violência física e psicológica. Após uma tentativa de suicídio, foi acolhida por instituições do Estado, onde conheceu aquele que viria a ser o pai dos seus filhos – e que, tal como sucedera com os seus pais, não a pouparia a maus-tratos.
Nestas páginas, conta-nos como chegou à prostituição, como despertou para um universo de segredos, cumplicidades e perversões que desconhecia em absoluto e como se habituou a um trabalho que, de início, lhe provocou a mais profunda repulsa, ou não tivesse sido um padre o seu primeiro cliente.
Cru, genuíno, corajoso e direto, este livro põe a descoberto um meio em que o perigo, a incerteza e o absurdo estão sempre ao virar da esquina, obrigando-nos também a refletir sobre a necessidade de regulamentar uma profissão que permanece na sombra da clandestinidade.
Andreia Montenegro, a julgar pela sua história que neste livro conta, não foi, nem é, uma Acompanhante de Luxo, foi, e é, uma Mulher de Armas e uma Sacerdotisa do Amor. Foi em tempos, uma menina numa Casa da Mariquinhas, é, actualmente, uma Mariquinhas nas suas próprias casas.
O que a autora conta, a situação que descreve, não me surpreendeu minimamente. Nasci em Julho de 1947 e desde cerca de 1960, desde os meu 12, 13, anos que, ouvindo “coisas”, vendo “coisas”, lendo “coisas”, tenho vindo a construir um modelo mental da situação, modelo desse que, nas suas grandes linhas, coincide com quanto é descrito.
Nas suas grandes linhas, friso, não fazia ideia do que era «fazer praças» nem de que, como «praças», Aveiro era má e Braga boa.
Acresce que, sendo do sexo masculino e vivendo no ambiente dos Clientes das Mariquinhas, não no das próprias Mariquinhas, via a situação de um outro ponto de vista, um ponto de vista em que mais importantes do que as Mariquinhas, ou os Clientes das Mariquinhas, eram as Esposas, Filhas e Filhos, dos Clientes das Mariquinhas.
Quanto à questão da Regulamentação da Prostituição, questão que, suponho, terá sido o que levou Ana Loureiro a expor-se como se expõe, acho que ela está cheia de razão e que a actividade deve ser regulamentada.
O mercado de trabalho da prostituição – feminina ou masculina – é um mercado de trabalho dinamizado pela procura, não pela oferta. Enquanto houver homens e mulheres que queiram, e possam, pagar os favores sexuais de outrem haverá quem, por uma razão ou por outra, esteja na disposição de prestar esses mesmos favores sexuais.
Que os favores sexuais sejam prestados na borda de uma estrada, na cabine de uma viatura, na casa de banho de um centro comercial, no saguão de um prédio, num quarto – de bordel, de hotel, de residência –, na cama de dormir da, ou do, cliente, é irrelevante, o que é relevante é que uma das partes compra os favores sexuais que a outra parte lhe presta, favores sexuais esses que a outra parte lhe não prestaria se não fosse remunerada. E o valor da remuneração é, pela mesma razão, irrelevante. Nuns casos será baixo, ou baixíssimo, noutros razoável, noutros elevado, ou elevadíssimo, dependerá de imensas coisas.
O Projecto-Lei de Regulamentação da Prostituição em Portugal proposto pela autora nas páginas finais deste seu livro resolve todas as questões que se prendem com Prostituição em Portugal?
É evidente que não!
Não resolve, por exemplo, as questões que se prendem os que casam por dinheiro mas, parece-me, resolve, ou contribui para a resolução, de muitos dos problemas das Casas das Mariquinhas, das próprias Mariquinhas e, espero bem, contribuirá para desincentivar fortemente a prostituição juvenil feminina, a prostituição das moças entre entre os quatorze e os vinte e um anos.
Etiqueta principal: Regulamentação da Prostituição em Portugal.
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