Desastre em Borba |
From: Alfa
To: Beta
Date: terça, 20/11/2018 à(s) 17:17
Subject: Ministério Público abre inquérito a queda de estrada em Borba
Beta,
Viste esta notícia e as fotos aéreas? Dá-me a impressão de que a estrada estava sobre um “muro” entre dois enormes buracos. Como é possível?
Abraço,
Alfa
Ministério Público abre inquérito a queda de estrada em Borba
From: Beta
To: Alfa
Date: terça, 20/11/2018 à(s) 23:35
Subject: Re: Ministério Público abre inquérito a queda de estrada em Borba
Olá, Beta
Como calculas não sabia nada disto de Borba e até admito já ter andado levianamente nesse trecho, precisamente quando acompanhei a Gama a visitas a pedreiras em Borba, Vila Viçosa e Alpalhão.
Eu desconfio, talvez sem razão, que as pedreiras se foram aproximando da estrada… e quem vê a cara não vê o coração e com tanta rocha à volta houve, creio, o errado pensamento de que pisavam rocha, i.e. risco zero.
A Gama telefonou para um amigo na Universidade de Évora, ex-aluno, que lhe disse que havia dois Relatórios chamando a atenção para perigo, mas eu estou careca de ouvir falar de Relatórios que dizem que Monchique pode arder, que o movimento de uns blocos do quebra-mar Oeste de Sines merecia atenção, que retirar a areia próximo de Entre-os-Rios fazia perigar a fundação, que árvores apodrecem disfarçadamente e ao cair matam, que banqueiros em roda livre são criminosos, etc.
Quero dizer, após os factos há sempre quem tenha salvaguardado a consciência ou, em brasileiro, tirado o cu da recta, porque escreveram qualquer coisa, qualquer merda de um “I told you so”. Lutarem, ao ter obtido esses dados, para que algo se faça, é que vejo pouco.
A seguir todos pedem responsabilidades, aos técnicos anónimos, aos autarcas e ao Estado e aventam mil teorias de corrupção.
Eu olho para trás e vejo o quê: os técnicos experientes e muito mal pagos do Estado (falo de engenheiros e alguns economistas) foram impedidos de fazer projeto para o Estado porque prejudicaria as empresas privadas (um pouco como médicos exercendo em hospital público), deixaram de fazer fiscalização porque quebrariam a Ética retirando mercado aos privados e o Estado mediocrizou.
E eu julgo isto: os portugueses adoram criticar funcionários públicos, exceto no dia que lambem as botas do professor que lhes admita ilegalmente um filho, do médico que atenda um familiar não inscrito e passe umas receitas “irregulares”, do administrativo que o coloque à frente da fila.
E aplaudem cortes nos Serviços do Estado, sejam nas Obras Públicas, na Saúde Pública, na Segurança, ou na Educação … desde que haja mais auxiliares nas escolas, mais capacidade para aceitar alunos deficientes dos mais variados graus, menores filas para as cirurgias, mais apoio para os campeonatos de surf e badmington, muito apoio para a cultura e eliminação da corrupção. E aplaudem cursos mais curtos, menos exames, maior percentagem de canudos inúteis para brandir nas estatísticas. E protestam com as consequências.
Como eliminar a corrupção se não há mais técnicos experientes na Administração, se não sabem fazer Projeto e portanto não sabem fazer Cadernos de Encargos, só os copiam e mal, porque são feitos em Escritórios de Advocacia, Se nem fiscalizar sabem. Se é nas entrelinhas dos CE que se escondem as maracotaias e se a fiscalização se entrega a privados, contratados por incompetentes. Se os incompetentes acabam por ser vulneráveis a uns almoços, umas caixas de whisky e a umas “viagens de estudo”, para não tocar nos Laboratórios Médicos, é de admirar?
Então deixa-me terminar a minha bílis: cansei do Ministério Público, voraz conjunto de abutres inimputáveis. Cansei de Magistrados acumuladores de privilégios mais ou menos flagrantemente anti-éticos, provenientes de uma massa de medíocres e incultos formandos do Centro de Estudos Judiciários a fazerem greve o Espírito Santo saberá porquê. Ontem vi umas imagens de um mini-plenário de Lisboa, quero esquecer.
E aí está a Quadratura do Círculo: desmoralização e desguarnecimento de quadros técnicos, cultura de tirar o supradito da recta, orçamentos em que obras “invisíveis” [reforçar fundações ou quebra-mares, olhar muros de suporte (passo em Caxias a rezar o Credo), restaurar vias férreas e veículos e FAZER MANUTENÇÃO] não atraem apoio do nosso superficial eleitorado, menos ainda dos mui ilustres Advogados da nossa AR, e não permitem, de facto e em geral, evitar estas tragédias.
Às vezes sim. Um Autarca atento, com dois Técnicos capazes e amantes da terra, capazes de ouvirem e lerem um ou outro Relatório e de mandarem fazer estudos e se empenharem mais acima podem ter resultados. Ou não, mas neste caso, podem interditar estradas, proibir o funcionamento de fábricas, ser profilácticos e irem à luta.
Será que todas as nossas barragens estão mesmo seguras? Será que podem atingir a cota máxima? E não atingindo … isso chegará?
O Mineiro Alves diz coisas. Os Bastonários dizem coisas, mas a realidade, quanto a mim, exigiria Associações de Técnicos com intervenção política séria, apartidária nas propostas técnicas, não estes Grémios com microfone perto da boca. O LNEC saberia, mas foi aburguesado e remetido à função de se auto-financiar e a espasmos de pouca relevância. Sabe mas não pode. A OE é uma instituição irrelevante em questões sérias que resolveu aceitar os engenheiros com apenas 3 anos de formação para enfraquecer a Ordem dos Engenheiros Técnicos: tamanho é poder e idiotice não conhece limites na instrução!
Neste quadro, … gerimos o quotidiano: culpamos as vítimas, exigimos responsabilidades, queremos menos funcionários públicos e temos sorte mesmo que o 1.º ministro seja bunda-mole, sem a qual não seria 1.º ministro.
Não respondi, pois não? Aquela estrada devia estar interdita há anos. A exploração daquelas pedreiras devia estar limitada desde o início. A colocação de grandes superfícies na estrada Borba-Vila Viçosa só não causou mais vítimas porque Deus deixou recentemente de ser brasileiro, mas gosta da lusofonia e está temporariamente por estas bandas.
Beta
From: Alfa
To: Old Boys
Date: terça, 20/11/2018, às 23:52
Subject: Fwd: Ministério Público abre inquérito a queda de estrada em Borba
Excertos de uma mensagem de um engenheiro civil, catedrático jubilado, com enorme experiência profissional, e que curiosamente chegou a trabalhar com o meu pai.
Alfa
Origem do Texto
- Alfa e Beta em Old Boys Network.
Origem da Imagem
Etigueta Principal: Engenharia.
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