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9 de fevereiro de 2020

A Pacaça e as Hienas

A empresária angolana Isabel dos Santos. 
Fotografia: Eneias Rodrigues / LUSA.


Dois artigos de opinião.

O um publicado no português Observador, o outro no angolano Folha 8.


Hienas caçando, e comendo uma Pacaça. 
Vida Selvagem - Reino Selvagem.


Ainda há por aí mais heróis
para baterem numa mulher no tapete?


Se compreendo que faça a sua defesa com os meios a que tem direito, com uma argumentação digna da mulher inteligente que é, o que me choca e decepciona é que se tenha afirmado vítima de... racismo!

Por Guilherme Valente no Observador às 00:27 de 08 Fevereiro 2020.

“I am a poor lonesome cowboy”
Lucky Luke

Frágil e velho, eu que nunca vi a Senhora em causa de um mundo onde nunca entraria, num país aonde nunca irei e em que só não me indigna e me preocupa a imensa gente pobre, boa e explorada que lá sofre e sobrevive, eu, digo que Isabel dos Santos não é só monstro, seja lá o que de condenável e chocante tenha feito.

Entre os vários irmãos a quem caíram no regaço os milhões de que se fala, foi ela a única que criou milhares de empregos também em Portugal, para inúmeros portugueses. O que não teria precisado de fazer para gozar e tentar estoirar essa fortuna toda.

Milhões que alguns aqui debicaram, de que toda a gente sabia a origem, mas que raríssimos tiveram a dignidade e a coragem de sempre revelar.

E de que outra maneira num regime revolucionário, anti-colonialista e anti-capitalista, como o de Angola poderia ter sido conseguida a acumulação que lhe permitiu esses investimentos? Corrupção, corrupção organizada, apoiada e consentida pelo Estado. Num nível só possível quando não há separação de poderes, quando os tiranos e a sua clique mandam na Justiça, e em tudo. Modelo e regimes aberrantemente cantados, aliás, na Assembleia da nossa livre, tolerante, República democrática-liberal.

Pelo que leio e ouço, também eu não posso deixar de fazer o meu juízo sobre as peripécias em que a Engenheira Isabel dos Santos surge envolvida. Mas seja qual for esse juízo não esqueço o que de combate sujo pelo poder haverá misturado nisso tudo. Nesse mundo onde nada garante que de repente uns tenham passado a ser melhores do que os outros. E Isabel dos Santos, quiçá, até poderá ter sido ou vir a ser melhor.

E esse juízo que faço não pode apagar também a apreciação pessoal, as visíveis capacidades de inteligência, espírito empreendedor, liderança, que muitos seguramente lhe invejaram e invejam. E noutro plano, a elegância, o charme dela…sou sensível a isso.

Pelo contrário, se compreendo que faça a sua defesa com os meios a que tem direito e pode dispor, com uma argumentação digna da mulher inteligente que é, o que me choca e decepciona é que se tenha afirmado, disseram-me, vítima de… racismo!

Racismo? Uma mulher que foi e ainda será modelo de sucesso para tantas mulheres — e homens — de todas as cores?!

E os empresários e governantes aqui merecidamente encharcados por rios de notícias sobre as suspeitas fundamentadas ou as condenações mais humilhantes? Brancos, Engenheira Isabel dos Santos, sem a sua — quanto a mim, anémico extremo ocidental — belíssima cor de pele. Feia, muito feia, é a única cor de pele e de carácter que vejo neles.

Uma mulher com o seu estatuto e história não pode querer confundir-se com os que inventam racismos, os que exploram a vitimização e a miséria que aprisiona tantos africanos num absurdo complexo, contribuindo para que se mantenham em guetos de exclusão. (De que cumpre, aliás, ao Estado democrático liberal, aos Governos, ao empenho dos homens de boa vontade ajudá-los a sair.)

Vitimização que tem ajudado ditadores e regimes ignóbeis a manter a generalidade da África na dependência e na pobreza. Projectando sobre o outro, o “branco”, hoje cada vez mais inventado, o que é responsabilidade dos africanos, antes de mais dos tiranos que os dominam. Tudo em nome das tretas revolucionárias, socialistas, anti-colonialistas e anti-capitalistas que se sabe.

Deixe a exploração repugnante da vitimização e invenção de racismos para os negros e os brancos (que assim aqui são mais) que lucram ou pensam vir a lucrar com esse negócio sujo, que ameaça o verdadeiro combate que é imperativo travar contra todas as formas de discriminação.

A Senhora Engenheira é uma mulher cosmopolita, adulada por todos com quem quis conviver no mundo. Mundo que teve aos seus pés (até em Davos), e que se a Senhora tivesse dado outro destino a esses biliões até a poderia justamente admirar.

Racismo?! Não se coloque ao nível de Joacine Katar Moreira, que idêntica à Senhora só tem, vagamente, a cor de pele.

Repare o que puder reparar e… caia de pé, igual a qualidades que vi em si. Seja lá o que for de imperdoável em que tenha incorrido.



Repare o que puder reparar e… caia de pé, igual a qualidades que vi em si. Seja lá o que for de imperdoável em que tenha incorrido.

Para o meu amigo João Soares


Original





João Lourenço e os Ninjas, ou vice-versa.


Alemanha vai ajudar a
pôr o Reino (e África) em ordem


O Presidente de Angola, também Presidente do partido no Poder desde 1975 (o MPLA) e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, desafiou hoje a Alemanha a investir nos sectores dos transportes, energia e agricultura, entre outros, sublinhando que existe agora um ambiente favorável ao sector privado.

Por Redacção F8 no Folha 8 a 07 Fevereiro 2020.

Falando após uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, que cumpre hoje uma visita de algumas horas a Angola, João Lourenço focou o interesse recíproco dos dois países no sentido de intensificar as relações empresariais e económicas.

“Angola ao longo destes anos tem beneficiado de linhas de crédito da banca comercial alemã para projectos de infra-estruturas públicas, mas quase nenhum investimento privado de destaque, o que pretendemos hoje, uma vez que estamos a criar com algum sucesso um ambiente de negócios favorável ao investimento privado”, salientou João Lourenço.

O chefe de Estado destacou ainda algumas preferências, que vão ao encontro das capacidades do sector industrial alemão, como a siderurgia e o aço, a agricultura e pecuária, a ciência e a saúde, o sector automóvel e o turismo.

João Lourenço indicou que durante a visita da chanceler alemã vão ser apresentadas várias iniciativas que visam ampliar o quadro de cooperação bilateral entre os dois países na área da capacitação e formação de quadros.

O aprofundamento da relação com instituições bancárias para financiamento de projectos de gás, energia e águas, parcerias público-privadas para estradas, ferrovias e portos, centrais hidroeléctricas e apoio à vigilância marítima, sobretudo no Golfo da Guiné, são outras áreas a explorar.

Por seu turno, Angela Merkel assinalou que a Alemanha quer dar a sua contribuição para o desenvolvimento de Angola e pretende contribuir com a sua presença para iniciar um novo capítulo da cooperação entre os dois países que se traduzirá na assinatura de acordos concretos.

Trata-se da segunda visita da chanceler Angela Merkel a Angola, tendo a primeira ocorrido em 2011, ocasião em que foi acordado com José Eduardo dos Santos uma parceria alargada entre os dois países.

João Lourenço visitou a Alemanha em Agosto de 2018 e voltou a encontrar-se com a chanceler Merkel em Nova Iorque, no mês de Setembro.

Na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores angolano, Manuel Augusto, referiu que a Alemanha é já um “parceiro tradicional” de Angola, onde tem instaladas um “conjunto de empresas que têm um impacto directo” na economia angolana e nas condições de vida da população.


Ninjas biométricos, milho e Alemanha

O Governo do MPLA determinou a entrada em funcionamento, no reino de que é proprietário (Angola), dos Conselhos e Vigilância Comunitários (CVC), previstos na lei desde 2016, para auxiliar os órgãos de defesa e segurança no combate e prevenção da criminalidade. Na verdade, importa reconhecer, os CVC serão uma espécie de “ninjas biométricos” que também vão ajudar o milho a crescer e os laranjais a florescer.

Analisando a proposta, um verdeiro Ovo de Colombo – segundo MPLA, verifica-se que o Presidente João Lourenço tinha toda a razão quando, no dia 22 de Agosto de 2018, disse numa conferência de imprensa conjunta com a chanceler alemã Angela Merkel, em Berlim, que queria atrair investimento alemão na área da Defesa, na “vigilância e segurança marítima”. Nesse dia, o Folha 8 perguntou: Que outra prioridade poderiam os angolanos querer? Isto porque investir na Defesa faz crescer o… milho!

Na verdade, João Lourenço – com a sua única e divina capacidade de antecipação – já sabia que os CVC iriam ser fundamentais para essa campanha agrícola que nos levará para o paraíso da auto-suficiência alimentar.

O chefe de Estado sublinhou na altura a “necessidade de atrair investimento privado alemão para praticamente todos os domínios da economia”. Mas deu destaque à área da defesa, revelando que Angola tem “uma costa marítima bastante extensa” que é preciso “cuidar”. E quem melhor do que os “ninjas biométricos” para cuidar dessa vertente da segurança? Sim, quem?

“Um país que se desenvolve e descura da sua defesa, não age de forma correcta”, reconheceu o ex-ministro da… Defesa, hoje Presidente da República, certamente convicto que a razão da força é bem mas decisiva do que a força da razão dos nossos 20 milhões de pobres. Pobres que, contudo, vão ser estimulados pelos CVC a serem mais assertivos na sua luta diária para aprenderem a viver sem… comer.

“Estamos a convidar os investidores alemães a trabalhar com o estado de Angola (leia-se MPLA) na protecção da nossa costa, com o fornecimento de embarcações de guerra, tal como de outros meios eléctricos, para podermos controlar melhor esta vasta fronteira marítima que é uma parte do Golfo da Guiné, uma parte que é cobiçada pelos piratas, pelos terroristas como forma de atingir os nossos países, de atingir as nossas populações, as nossas economias”, recordou o chefe do Estado do MPLA.

Na conferência de imprensa conjunta, Angela Merkel confirmou o “interesse de Angola em cooperar com a Alemanha no domínio da defesa”, acrescentando a chanceler que há muito interesse em que “a costa angolana seja segura”, porque “não existe desenvolvimento sem segurança, nem segurança sem desenvolvimento”. O Folha 8 “sabe” que já nessa altura Merkel foi informada por João Lourenço sobre o grande trunfo da sua governação: a implementação dos Conselhos e Vigilância Comunitários.

Por isso Merkel garantiu que a Alemanha tem disponibilidade em cooperar desde que exista interesse por parte das empresas, congratulando-se com o “novo vento” que sopra de Angola.

João Lourenço, que visitava pela primeira vez a Alemanha desde que foi (digamos) eleito, assegurou ter gostado muito do “ambiente das negociações” que manteve com a chanceler, convidando Angela Merkel a visitar Angola, em 2019.

Questionado sobre a visita que logo a seguir iria fazer a Pequim, e uma eventual cooperação militar com a China, o chefe de Estado angolano declarou que “os laços de amizade e cooperação são sempre diversificados e quantos mais amigos, mais parceiros, melhor”.

Em 2009, o antigo chefe de Estado de Angola e patrono de João Lourenço, José Eduardo dos Santos, esteve na Alemanha e, em retribuição, a chanceler alemã, Angela Merkel, visitou Angola em 2011.


Presidente, general e ministro (da Defesa) dos “ninjas”

Recorde-se, por exemplo, que em Fevereiro de 2015 as marinhas da Alemanha e de Angola realizam, ao largo de Luanda, um exercício naval conjunto que marcou o alargamento das relações entre os dois países à cooperação militar, já então com os “ninjas biométricos” em fase de quase gestação.

O exercício decorreu da presença em Angola de quatro navios da Marinha alemã, nomeadamente três fragatas de guerra, no âmbito da Força Operacional e de Formação 2015 daquele país europeu, visando o combate à pirataria.

De acordo com o anúncio feito a bordo da fragata ‘Hessen’ – que estava atracada no porto de Luanda -, pelo capitão-de-mar-e-guerra Andreas Seidl, que liderava esta força, o exercício constou de uma abordagem das forças navais angolanas a um dos navios da frota da Alemanha, tendo lugar a duas milhas da costa.

“A visita desta força da Alemanha pode ser vista como o primeiro passo visível na intensificação da cooperação militar entre as nossas duas nações”, sublinhou Andreas Seidl.

O oficial esclareceu que a cooperação entre as marinhas de ambos os países estava na altura centrada na formação de operacionais angolanos (já com uma vertente embrionária dos Conselhos e Vigilância Comunitários), mas que era intenção das duas partes alargar a base desse entendimento à cooperação na área técnica.

A inclusão de Angola na rota dos navios alemães seguiu-se à visita, em Novembro de 2014, do ministro da Defesa angolano, o general João Lourenço, à Alemanha, ocasião em que foi assinado um acordo de cooperação de Defesa entre os dois países.

Na apresentação dos meios navais em Luanda, o embaixador alemão em Angola, Rainer Müller, assumiu “o orgulho” da Alemanha em ter Angola “agora também como parceiro na área da Defesa”. E se já havia esse orgulho antes da existência dos CVC, o que dizer agora?

“Angola é um parceiro muito poderoso e influente em África e que tem uma bela história para contar”, afirmou Rainer Müller. Na altura – diga-se de passagem – José Eduardo dos Santos ainda não tinha passado de bestial a besta. E não tinha porque, pura e simplesmente, era quem estava no Poder.

Em cima da mesa, entre outros aspectos, esteve o envio de conselheiros técnicos das Forças Armadas alemãs para assistir as forças angolanas.

“Cabe aos ministérios da Defesa dos dois países decidir, mas a Alemanha está disposta a fazer muita coisa”, enfatizou o embaixador da Alemanha em Luanda.

A missão operativa, com incursão pelo mar do norte, oceano Atlântico, Golfo da Guiné, Cabo Esperança, oceano Índico e do Canal de Suez para o mar Mediterrâneo, tinha como objectivo a formação do núcleo de participação alemã nos grupos de intervenção internacionais, no âmbito de tarefas marítimas.

Contudo, o comandante desta força descartou acções de envolvimento directo pela Marinha alemã no combate à pirataria, sendo a prioridade a capacitação das marinhas dos países afectados.


Original





a pacaça é nova e ainda não caíu

¿ será que vira leão ?





Fontes
  1. Isabel dos Santos quer Efacec líder internacional na mobilidade elétrica”. Paulo Julião, Agência Lusa. Dinheiro Vivo. Publicado às 07:25 de 14 de Outubro de 2019. Recuperada às 11:03 de 09 de Fevereiro de 2020.
  2. Hienas comendo a carne de um Búfalo - Vida Selvagem - Reino Selvagem“. YouTube Channel “Reino Selvagem”. Publicado a 07 de Junho de 2018. Recuperado a 09 de Fevereiro de 2020.
  3. Ainda há por aí mais heróis para baterem numa mulher no tapete?”. Guilherme Valente. Observador. Publicado às 00:27 de 08 Fevereiro 2020. Recuperado às 15:47 de 09 Fevereiro 2020.
  4. Alemanha vai ajudar a pôr o Reino (e África) em ordem”. Redacção F8. Folha 8. Publicado a 07 Fevereiro 2020. Recuperado às 17:47 de 09 Fevereiro 2020.



Etiqueta principal: Guerra Híbrida.
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