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Economia real versus economia virtual. O ultraliberalismo global e a crise europeia.
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Economia Real e Economia Virtual
Álvaro Aragão Athayde, Universidade de Coimbra
15 de Junho de 2012, versão 3
Dizem que A CRISE é económico-financeira... e eu sou engenheiro... logo estou fora da minha área de especialidade.
Estou portanto fora da minha área de especialidade... mas não sou propriamente parvo... nem inculto... e há mais de um ano a esta parte que ando a ouvir e ler sobre a economia, as finanças, a banca, a dívida, enfim, sobre A CRISE!
E a maneira como empresas e países têm perdido valor é uma coisa que verdadeiramente me maravilha!
Para explicar o que verdadeiramente me maravilha vou considerar o caso da empresa ALFA (a nossa CIMPOR, por exemplo) que vou supor que tem património, produção, clientes, vendas, receitas, depósitos bancários, enfim, tudo aquilo a que uma empresa que funciona tem direito, e, também, as respectivas acções cotadas em Bolsa.
Portanto, na minha visão de engenheiro, a empresa funciona e tem valor, VALOR REAL.
Entretanto como está cotada as suas acções têm na Bolsa um dado valor, que é o valor a que são transaccionadas, valor que vai oscilando no tempo em função da dinâmica do mercado bolsista: Se aparecerem muitos investidores interessados em comprar as acções o valor sobe, se aparecerem muitos investidores interessados em vender as acções o valor desce.
Portanto, na minha visão de engenheiro, a empresa cotada tem na Bolsa um valor diferente do VALOR REAL de que atrás falei, que designarei por VALOR BOLSISTA.
O facto de o VALOR REAL e o VALOR BOLSISTA serem diferentes é uma das coisas que permite aos investidores fazerem bons negócios em Bolsa…
Como?
Antecipando, por exemplo, uma valorização. As acções estão baixas mas a empresa tem capacidade instalada que lhe permite expandir a produção... e está a lançar-se em novos mercados. Logo tem potencial. Logo vale a pena comprar, aguardar que a empresa expanda, que as acções valorizem e, depois, vender. Ou então não vender, ficar com as acções e receber os dividendos.
Se bem percebi a mecânica é esta.
Suponhamos agora que a empresa ALFA está fisicamente localizada no país ZETA (o nosso Portugal, por exemplo), que o rating do país é cortado e que, por arrastamento, as acções da empresa ALFA desvalorizam.
Desvalorizam como?
Desvalorizam se os investidores que as possuem as colocarem no mercado para venda, fazendo com que o seu preço baixe.
Logo o VALOR BOLSISTA da empresa ALFA baixou devido ao corte do rating do país ZETA, mas o seu VALOR REAL não baixou, ficou na mesma!
Aparentemente, e mesmo que não se verifiquem quaisquer transacções, as acções podem ainda desvalorizar... só que desvalorizam em termos meramente nominais, passam a ser contabilizadas a um valor mais baixo... e esse facto acarreta que digam que o valor da empresa baixou!
Parece-me a mim que este valor, que não é o VALOR REAL da empresa ALFA, nem o seu VALOR BOLSISTA, porque não houve transacções, é um novo valor, o VALOR VIRTUAL, que só existe na cabeça das pessoas que estão enfronhadas neste assunto e nos programas de computadores que essas pessoas mandam escrever para tentarem gerir informaticamente as carteiras de investimentos.
Portanto parece que estamos na curiosíssima situação de termos programas de computadores a gerirem carteiras de investimentos e de esses programas e quem os manda fazer terem perdido o contacto com a realidade.
Entretanto devo dizer que se tivesse dinheiro consideraria esta situação de redução do VALOR VIRTUAL, seguido de pânico bolsista, seguido de redução do VALOR BOLSISTA, como a oportunidade de eleição para adquirir por tuta e meia acções de empresas com efectivo VALOR REAL…
Comentário
Segundo o
Público de ontem, 14 de Junho de 2012,
Juros espanhóis batem novo recorde após mais uma baixa de rating
«Os juros implícitos das dívidas de Itália e Espanha continuavam a subir, nesta quinta-feira, um dia após a agência
Moody's ter baixado o
rating espanhol. As taxas prosseguem assim a subida dos últimos dias para níveis insustentáveis, com os juros espanhóis a dez anos a atingir um novo recorde, a roçar o limiar psicológico dos 7%.»
E, segundo a
Antena 1 às 9 horas, os juros das obrigações de Espanha a 10 anos ultrapassou os 7% e o risco os 500 pontos base.
Mas, que eu saiba, não foi feita nenhuma emissão de obrigações por Espanha…
Logo, aparentemente, Espanha vai ter de pagar mais de 7% por obrigações que não foram emitidas... logo que não existem.
Não me digam que isto não é verdadeiramente maravilhoso!
Notas
• PDF de
Economia Real e Economia Virtual, versão 3, de 15 de Junho de 2012.
•
Economia real versus economia virtual. O ultraliberalismo global e a crise europeia.
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