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29 de maio de 2020

Serenata - À Meia Noite Ao Luar




À meia noite ao luar
Vai pelas ruas a cantar
O boémio sonhador
À meia noite ao luar
Vai pelas ruas a cantar
O boémio sonhador
E a recatada donzela
De mansinho abre a janela
À doce canção de amor
Ai como é bela! (Ai como é bela)
À luz da lua (À luz da lua)
Ouvir-se o fado em plena rua
Sou cantador (Sou cantador)
Apaixonado (Apaixonado)
Tocando as cordas a cantar o fado
Dão as doze badaladas
E ao ouvir-se as guitarradas
Surge o luar que é de prata
Dão as doze badaladas
E ao ouvir-se as guitarradas
Surge o luar que é de prata
E a recatada donzela
De mansinho abre a janela
Vem ouvir a serenata
Ai como é bela! (Ai como é bela)
À luz da lua (À luz da lua)
Ouvir-se o fado em plena rua
Sou cantador (Sou cantador)
Apaixonado (Apaixonado)
Tocando as cordas a cantar o fado
 



Fontes e Referências
  1. "Estudantina Universitária de Coimbra - Meia Noite Ao Luar". Estudantina Universitária de Coimbra. Canal da Estudantina Universitária de Coimbra no YouTube. Publicado a 03 de Maio de 2017. Recuperado a 29 de Maio de 2020. 
  2. "À Meia Noite Ao Luar". Google Search. Sem data de publicação. Recuperado a 29 de Maio de 2020.
  3. "Estudantina Universitária de Coimbra". Facebook. Sem data de publicação. Recuperado a 29 de Maio de 2020.
  4. "Serenata – À meia-noite, ao luar". Guitarra de Coimbra V (Cithara Conimbrigensis). Publicado a 28 de março de 2013. Recuperado a 29 de Maio de 2020.







Etiqueta principal: Música.
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28 de maio de 2020

27 de Maio, Nunca Mais




27 de Maio, Nunca Mais

Ascensão de Neto ao poder as causas longínquas do fraccionismo. (…) Segundo fontes seguras, em meados do ano de 1962, dois antigos militantes do Partido Comunista português (PCP)[1], o angolano Agostinho Neto e o guineense Vasco Cabral, saem clandestinamente de Portugal com o apoio do partido, a bordo dum iate que os leva até à costa do Marrocos (Dalila Cabrita & Álvaro Mateus, Purga em Angola, ASA, página 28).

Redacção Folha 8 — 27 de Maio de 2020

Segundo uma outra fonte, a bordo do barco de recreio que os transportou, conduzido por Nogueira, um oficial da marinha portuguesa ao serviço do PCP, também tinham embarcado a esposa de Neto, Maria Eugénia, e os seus dois filhos. Quanto à chegada do barco a Marrocos, divergem as versões: Carlos Pacheco diz que foi em Junho, ou antes: (“(…) chega a Leopoldville (Agostinho Neto) e assume a presidência (honorífica) do MPLA em Junho de 1962” (C. Pacheco, “MPLA, um nascimento polémico”, nota 20, pág. 77). Mas nas suas “Memórias”, Iko Carreira assegura que o barco chegou a Marrocos a 21 de Julho de 1962.
De qualquer modo, a preocupação primeira do foragido patriota angolano ao pisar terras de África foi partir para Leopoldville, onde o MPLA tinha uma base importante.
Neto teria pois chegado à capital do Congo no final de Julho[2], e uma das primeiras pessoas com quem falou foi o então presidente do MPLA em exercício, Mário Pinto de Andrade (Agostinho Neto era presidente honorífico). Nessa conversa em tête-à-tête, este último teria feito sentir a Neto a necessidade de este assumir a presidência do movimento e tentar realizar a união de todos os movimentos de libertação de Angola (Iko Carreira, Memórias, pág.52, Nzila, 2005). Neto aceitou o repto, e data sem dúvida dessa altura, a ideia de convocar uma Conferência Nacional do MPLA, que, finalmente seria realizada em Dezembro desse ano.
Entretanto, as relações entre o presidente Mário de Andrade e o secretário geral Viriato da Cruz, não eram das melhores, embora não se possa dizer que eram más. Viriato criticava Mário por este ser um intelectual pouco activo e, sobretudo, por insistir em obter apoios de certas potências ocidentais. Mas até essa data nada de crise, o clima ainda era pacífico.
Porém, se juntarmos a estes pequenos atritos entre Viriato e Mário Pinto de Andrade a conivência deste último com o recém-chegado Dr. Neto, não era preciso ser bruxo para adivinhar o que se iria passar na prevista 1ª Conferência Nacional do MPLA, que acabou por ser realizada, como sobredito, em Dezembro de 1962: o Dr. Agostinho Neto foi eleito presidente do MPLA, e, como se tal decisão não bastasse para autenticar a derrota de Viriato da Cruz, o cargo de secretário-geral foi suprimido, quer dizer, subsequentemente este último foi evacuado “mine de rien”, como quem não quer a coisa, da direcção do movimento.
Estavam lançadas as bases de futuras roturas.

Viriato da Cruz e a primeira crise fraccionista

Viriato da Cruz, o estratega e ideólogo de sempre do MPLA, que já em 1960, em Tunes, tinha lutado contra ventos, correntes e marés para ver os seus pontos de vista adoptados pelos seus camaradas da cúpula do então MAC, em seguida FRAIN e, por fim, MPLA, sempre viu com evidente desconfiança a chegada do Dr. Neto a Leopoldville em meados de 1962, e, sobretudo, nutriu de imediato uma repulsa instintiva pela presença da sua esposa no campo da guerrilha, Maria Eugénia, uma cidadã lusa que apenas lhe inspirava dúvidas quanto ao apego pessoal pela causa dos pretos de Angola. Lógico, mas mesmo assim considerado como uma detestável manifestação de racismo por parte da delicadíssima senhora Neto.
Essa temática do racismo também serviu para separar os dois homens. Ciente de dificuldades acrescidas decorrentes dos ataques da FNLA a propósito da presença de brancos e mestiços no quadro dos seus órgãos directores, Viriato da Cruz propôs, no decorrer da Conferência Nacional do MPLA de Dezembro desse mesmo ano, um “recuo táctico” dos não negros dos órgãos de direcção, sacrificando-se a si próprio para dar o exemplo. Mas Agostinho Neto não concordou, fazendo valer o princípio de o MPLA não poder tolerar qualquer concessão ao que pudesse violar os seus princípios fundamentais, designadamente a prática de uma absoluta repulsa ao racismo.
Havia outros pólos de discórdia, por exemplo, as contradições entre universitários e não universitários, a inexistência de qualquer tipo de acção armada em território angolano, a desvalorizar o movimento em relação à FNLA, a tentativa de dar corpo a uma Frente Democrática de Libertação de Angola (FDLA), a incompatibilidade de carácter entre os dois homens, o antagonismo China e a União Soviética com Viriato de um lado e Neto outro do outro… enfim, tudo muito complicado.
Diga-se também, para melhor compreender o que aconteceu, que até à chegada de Agostinho Neto a Leopodville, melhor dizendo, até à sua chegada à presidência do MPLA, o relacionamento entre os membros da direcção do movimento nacionalista pautavam pela simplicidade: o Mário tratava por tu o Lara, o Menezes fazia o mesmo com Eduardo Macedo dos Santos e vice-versa. Mas Neto impôs um certo distanciamento e passou a ser tratado por camarada presidente.
Parece um quase-nada, mas é um tudo de diferença, que de mal não augura nada, é verdade, mas muda muita coisa; antes de Neto, a preocupação dos militantes da cúpula do MPLA, Mário de Andrade, Lara, Viriato, Hugo de Menezes e Dr. Eduardo dos Santos, mau grado os arranhões que se deram uns aos outros, especialmente no que diz respeito ao relacionamento complicado entre Lúcio Lara e Viriato da Cruz, a preocupação principal, dizíamos, era a de obedecer a uma certa democracia interna, com cada um a dar a sua opinião em vista de se conseguir chegar a um consenso, evidentemente tarefa muito mais difícil do que impor a sua vontade, como Agostinho Neto passou a fazer, por vezes, quando tomou em mão as rédeas de comando do MPLA.
Depois da sua eleição como presidente do MPLA, a filosofia do comando foi cambiada, e este último em pouco tempo passou de colegial a opacamente centralizado, com papel preponderante atribuído a Agostinho Neto.
Assim, se até 1962 o MPLA tinha um presidente, um secretário-geral e um tesoureiro, a partir da eleição de Agostinho Neto à presidência do movimento, na 1ª Conferência Nacional, todas essas funções passaram a ser prerrogativas suas. A partir dessa data é a Agostinho Neto que incumbe convocar o Comité Central, nomear e demitir responsáveis, fazer transferências de quadros, atribuir meios financeiros para as tarefas dos diferentes departamentos, definir e mesmo alterar a política e a estratégia do movimento.

A EXALTAÇÃO E A CONTROVERSA LIDERANÇA

Ao seu lado, a contribuir para a afirmação da sua liderança, estão dois mestiços que o acompanharão a vida inteira, Lúcio Lara e “Iko” Carreira. Dois trunfos da sua tranquilidade, pois nenhum deles poderia jamais afastá-lo do poder, por ser nessa altura impensável um mestiço obter apoios para liderar um movimento de libertação dum país da recém-libertada África Negra.
Mas, mesmo assim, a posição de líder que Agostinho Neto ocupava então nem por isso se consolidou, pelo contrário, suscitou, pela sua actuação de tendência centralizadora, comentários críticos de alguns camaradas, aproveitados num primeiro tempo por Viriato da Cruz – na medida em estavam lançadas as divergências entre os dois homens, este último maoísta e Neto pró-soviético – com o objectivo de denunciar abertamente um regime incompatível com a prática da democracia interna. Rapidamente as coisas azedaram e chegou-se mesmo – mas mais tarde -, ao extremo de Viriato se posicionar abertamente do lado da FNLA, ou seja, o avesso do MPLA. Era a primeira vez que se manifestava um grave fraccionismo no seio do movimento.
Agostinho Neto resolveu-o à sua maneira, mal, pela exclusão pura e simples dos seus adversários políticos. Num primeiro tempo graças a uma manobra no seio do Comité Central que levou à sua eleição como presidente e à supressão do cargo de secretário-geral do movimento, exercido até ai por Viriato (resultado dum escrutínio que nunca foi aceite pelo secretário-geral até aí ainda em exercício), mais tarde à agressão física, mais tarde ainda à eliminação física (assassinato) dos seus principais adversários políticos.
Segundo a historiadora portuguesa, Dalila Cabrita Mateus, as divisões no MPLA percorrem toda a história do movimento. E vai daí a dar um exemplo, datado deste período, «(…) no início dos anos 60, um informador conta à polícia ter assistido a uma cena de pugilato em que teriam estado envolvidos dois grupos: de um lado, Viriato da Cruz, Matias Miguéis e outros; do outro lado, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Henrique Carreira (Iko), Domingos da Silva, Aníbal de Melo, Deolinda Rodrigues, Eduardo Macedo dos Santos, Gentil Viana e Américo Boavida. Este grupo consegue dominar o primeiro, cujos membros se refugiam em casa de simpatizantes (Dalila Cabrita Mateus, PIDE/DGS na Guerra Colonial, 1961-1974, Terramar, 2004, página 249)».
Dino Matrosse, nas suas “Memórias”, fazendo referência às visitas que Viriato da Cruz fazia à residência de Ndolo, onde ele residia após ter chegado à capital do Congo, relembra essa passagem da história do MPLA, situando-a a 7 de Julho de 1963[3].
Deolinda Rodrigues, na realidade prima de Agostinho Neto, ou melhor, na tradição africana, irmã, e isso porque o pai de Neto era irmão de pai e mãe da mãe de Deolinda, cujo pai era natural de Kissembe/Kalomboloca, e a mãe oriunda do Kwanza-Sul, também se refere a esta penosa época da história do MPLA.
Por exemplo, alguns meses depois da cena de pancadaria em Leopoldville, Deolinda, sempre preocupada com a formação duma Frente Nacional de combate ao colonialismo, assegura, numa carta endereçada a Maria, datada de 29.09.63, que «alguns camaradas sugerem uma reconciliação com Viriato» e questiona, «(…) Qual a vossa opinião? Que bases deve haver para tal reconciliação? (D.R. ibidem, pág. 141)». A querer unir.
Mais tarde, sempre na primeira linha de combate para criar uma Frente Unida de libertação de Angola, Deolinda lamenta, em carta datada do 5 de Novembro de 1963, enviada ao seu cúmplice amigo Ismael, o facto de Viriato ter distribuído um panfleto a acusar a ala de Neto de estar a informar os Portugueses. No dia seguinte, 6 de Novembro de 1963, envia outra carta ao camarada Miguel João, exortando-o a lutar pela união de forças, «Cada militante deve resistir à repressão de angolanos para com angolanos e todos juntos exigiremos a Unidade de todos os angolanos (D. Rodrigues, ibidem, pág. 155)», mas logo a seguir, na mesma carta, repete o que tinha escrito a Ismael e lamenta, «Ontem, o grupo de Viriato-Matias (Matias Miguéis) distribuiu outro panfleto em que insistem que nós estamos ao serviço dos Portugueses. Esta é a faceta mais dura da nossa luta aqui: constatar que entre militantes dum MPLA antigo, surgem estas insinuações desastrosas, oportunistas e enganadoras».
Sabe-se que de nada valeu o empenho das bases do MPLA para forçar o diálogo entre as duas alas rivais, de nada valeu o esforço de Deolinda Rodrigues para mudar nem que fosse um quase-nada o curso dos acontecimentos, fracasso do qual ficou o registo de um certo e visível arrefecimento das suas relações como seu tio Neto. Nada valeu de nada. Neto manteve-se insensível a todos os apelos e a rivalidade sino-soviética, que já era o catalisador das desavenças entre a FNLA e o MPLA, roía agora nas entranhas do MPLA os alicerces da sua própria sobrevivência.

O assassinato de Matias Miguéis

Por altura da passagem, ou, como sói dizer-se, a cavalo de 1965 para 1966, Agostinho Neto ver-se-á envolvido, mesmo comprometido e acusado de ser o mentor do assassinato de Matias Miguéis, em circunstâncias que em nada dignificam o seu nome e a áurea de líder imortal que o distingue dos demais patriotas angolanos.
Evidentemente que essa versão é rejeitada em bloco pelo MPLA oficial, não obstante a existência de múltiplos testemunhos concordantes oriundos de várias e diferenciadas fontes.
“Iko” Carreira, por exemplo, sempre afirmou sem medo de ser desmentido que pouco ou nada sabia do caso. Nas suas “Memórias”, referindo-se ao facto de Matias Miguéis ter sido eleito vice-presidente do MPLA na 1ª Conferência Nacional de Leopoldville em Dezembro de 1962, “Iko” alude ao destino trágico desse nacionalista numa única frase: «(…) dizem ter sido mais tarde detido pela polícia congolesa (pág. 61)».
É tudo, nem mais uma vírgula escreveu sobre o caso, como se fosse possível um acontecimento tão importante ser do desconhecimento do responsável da Segurança de um MPLA. que, ao tempo, controlava a par e passo as actividades do fraccionista Matias Miguéis! É enorme, mas corresponde à opacidade difusa que envolve quase todas as actividades do MPLA. Uma faceta muito sua, talvez resquício da política seguida nos tempos da guerrilha, de desconfiança de tudo e de todos que ainda nos dias de hoje se verifica no desempenho do partido dos camaradas.
Tal atitude de manifesta ignorância sobre o “caso Miguéis” estende-se naturalmente a todas as personalidades que assumem alguma responsabilidade no Movimento. Ninguém sabe nada, ou então muito pouca coisa, sempre sob a forma de “ouvi dizer”. E no entanto Matias Miguéis foi mesmo assassinado por homens do MPLA. É um facto!
Dino Matrosse, ele, não se refere à morte trágica de Matias Miguéis, mas dá conta da sua intervenção na algarada do 7 de Julho de 1963.
Nesse dia tinha sido organizada nas instalações do Corpo de Voluntários Angolanos de Ajuda aos Refugiados (CVAAR), por convocação do então do segundo vice-presidente do MPLA, reverendo Domingos da Silva, uma reunião de dirigentes e militantes do MPLA, com excepção dos elementos da ala de Viriato da Cruz. Quando a reunião já estava a decorrer apareceu um grupo de militantes fraccionistas à cabeça do qual se podia ver Matias Miguéis, que, a páginas tantas, tentou entrar à força na sala, «tendo sido impedido pelo sentinela, o camarada Salvador (conhecido por “Uaxile”, de seu nome de maquis) gerando-se uma grande confusão no local (…) De repente, assistiu-se a uma troca de tiros e escaramuças no exterior da sala e a reunião foi interrompida. Semeou-se o pânico generalizado no nosso seio. Entretanto, alguns de nós conseguiram escapar da zona do conflito, em busca de áreas de maior segurança. Tudo isso aconteceu em pleno dia, entre as 10 e 11 horas da manhã (Dino Matrosse, ibidem, pág. 46, Nzila)».
Citamos esta passagem porque ela testemunha e marca a rotura definitiva entre as duas tendências rivais do MPLA de 1963.
Daí em diante, a ala dissidente de Viriato da Cruz, Matias Miguéis, José Miguel e outros, criou um estrutura paralela dentro do MPLA e passou a exercer actividades no sentido de se opor com firmeza à direcção de Agostinho Neto, não hesitando a denegrir todas as suas iniciativas, táctica que conheceu a sua máxima expressão por altura da adesão de Viriato, Matias e outros dissidentes à FNLA/GRAE, em Abril de 1964, numa tentativa, diziam eles, de «(…)convencer Holden Roberto a receber auxílio da República Popular da China e aliar-se a este país (C. Pacheco, ibidem, nota 20, pág.77)».
«Neto era muito teimoso e não gostava de críticas (…) Era autoritário», declarou “Iko” Carreira em entrevista a José Pedro Castanheira, na revista Expresso de 19 de Outubro de 1996. «Neto perseguia os que não estavam de acordo com ele (idem)». Os que o conheceram bem, acordam-se para dizer que embora ele pudesse entender-se pontualmente com este ou aquele grupo, era a sua vontade que tinha que se impor. Não admira pois que chegassem até aos dias de hoje testemunhos segundo os quais quem não estivesse de acordo com Neto podia ser preso. Mas o pior de tudo é que a partir da sua intolerância viria a nascer uma estratégia de eliminação física, talvez lavrada não por ele, mas sim por alguns dos seus mais fiéis servidores, mais papistas que o “papa”, sem escrúpulos e não olhando a meios para atingir os objectivos traçados pelo chefe.
Em Novembro de 1965, no regresso duma longa viagem à cidade de Jacarta, capital da Indonésia, depois de escalas em Paris e Argel, Matias Miguéis chegava a Brazzaville em companhia do seu companheiro José Miguel (outro dissidente do MPLA). Na realidade, ali, na capital do Congo, os dois amigos também se encontravam em trânsito, pois o seu destino final era Leopoldville. Dirigiram-se para o cais fluvial e quando estavam à espera de poder embarcar numa dessas vedetas que fazem regularmente a travessia do rio, foram interceptados por um grupo da ala de Agostinho Neto. Imediatamente foram presos e mais tarde torturados e executados da maneira mais bestial, enterrados até ao pescoço e com direito a receberem jactos de urina, lançados por antigos companheiros de luta pela libertação de Angola, a regarem-lhes a cabeça!!… Mais tarde, Deolinda Rodrigues, vítima duma emboscada urdida por soldados da UPA, foi violada, torturada e assassinada em retaliação da morte cruel de Matias Miguéis.
De tudo o que está escrito aqui atrás, há testemunhas.
Segundo a PIDE/DGS, o motorista da viatura que levou os dois homens depois da sua captura de Brazzaville a Dolisie, era um chamado Francisco, Ferro de Aço, mais tarde abatido a tiro, porque ameaçava falar. O seu companheiro de missão era um tal Fernando Manuel Paiva, aliás, Bula Matadi. Um dos executores é Agostinho Morais, Kalé, também assassinado em Cabinda. O outro é Aristides de Sousa Mateus Cadete, Kavunga, natural de Catete premiado com a ascensão a membro do Comité director e a comandante da 4ª Região Militar (cf. Cabrita, Purga em Angola, pág. 36, ASA, 2007).
[1] Segundo Júlio Pequito, na década de 1950, viviam em Lisboa, na mesma casa, quatro membros do PCP, ele, Pequito, Veiga de Oliveira,, o engenheiro Pereira Gomes e o Dr. Agostinho Neto, in “Agostinho Neto, uma vida sem tréguas” (nota 40, Cabrita, opus ibidem, pág.28)
[2]
Deolinda Rodrigues assinala a sua chegada a Leopoldville numa carta datada do 6 de Agosto de 1962, enviada ao seu prezado Kanhamena, privilegiado correspondente (seu camarada de luta, Ismael Martins): «há agora uma semana que o Dr. Neto já está connosco a trabalhar activamente aqui. (…) (Deolinda Rodrigues, “Cartas de Langidila e outros documentos”, pág. 135, Nzila, 2004)»)
6 No dia 10 de Julho de 1963 os membros de um comité da OUA chegaram a Leopoldville. O MPLA, dividido e desacreditado, deu a pior das impressões à missão, que de per si já era pro FNLA/GRAE, a despeito de o seu objectivo ser pelo essencial unir as forças nacionalistas angolanas à volta duma organização efectiva e credível. «Primeiro, ao conceber uma tentativa mal amanhada de criar uma frente comum rival da FNLA, a Frente Democrática da Libertação de Angola (FDLA), apoiada pelo governo do Congo (Brazzaville), o que resultou no descrédito do MPLA, por se ter associado directamente a dois partidos de que se suspeitava serem colaboradores dos portugueses. Segundo, Mário de Andrade saiu nessa altura do movimento, aparentemente em protesto à iniciativa da FDLA. O seu abandono danificou ainda mais a imagem do MPLA. Terceiro, Viriato da Cruz fez revelações embaraçosas sobre a ineficácia da força militar do MPLA, indicando que, ao contrário dos 10.000 elementos armados que se afirmava ter, uma capacidade deliberadamente exagerada para obter apoios, o MPLA contava apenas com cerca de 250 combatentes (Tese de doutoramento de J.M: Mbah, Nzila)».
(…) «Quando chegamos a Leopoldville, o saudosos presidente Agostinho Neto tinha acabado de ser eleito, na Primeira Conferência Nacional do Movimento (em Dezembro de 1962), onde foi eleita igualmente uma nova Direcção sob a sua presidência e extinto o cargo de Secretário Geral até ali desempenhado por Viriato da Cruz» (Dino Matrosse, “Memórias”, pág. 44, Editorial Nzila, Luanda, 2005)». Por outro lado, note-se que nessa altura Matias Miguéis ainda não era personna non grata, pois foi eleito primeiro vice-presidente do MPLA, cargo que desempenhou meia-dúzia de meses, nem isso, demitindo-se por se manifestarem incompatibilidades notórias entre ele e Agostinho Neto.
[3]
«(…) Ele contactou, a sós, apenas alguns elementos que connosco viviam, abordando-os sobre questões então por nós desconhecidas. Só mais tarde soube que Viriato se deslocara para aquela residência a fim de contactar e aliciar certos camaradas, cujos nomes dispenso mencionar e que mais tarde viriam a fazer parte do primeiro fraccionismo no seio do MPLA, que culminou (!?) com a pancadaria e divisão no seio do MPLA, a 7 de Julho de 1963, em plena cidade de Leopoldville (Dino Matrosse , ibidem, pág. 44)».
Este texto transcreve passagens do livro de William Tonet, a editar brevemente.





Fontes
  1. 27 de Maio de 1977 – Em Nome da Memória da História e da Justiça”. Folha 8. Sem data de publicação. Recuperado a 28 de Maio de 2020 às 19:45.
  2. 27 de Maio, Nunca Mais”. William Tonet. Folha 8. Publicado a 27 de Maio de 2020. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 15:30.
  3. 27 de Maio de 77 nas páginas do Jornal de Angola”.Quimbanze. Quitexe. Publicado a 27 de Maio de 2012 às 07:43. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 20:59.
  4. 27 de Maio de 77 nas páginas do Jornal de Angola -2”.Quimbanze. Quitexe. Publicado a 31 de Maio de 2012 às 07:31. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 21:13.
  5. Angola 77”. Nicolau Santos, Alexandra Simões de Abreu e Gustavo Costa. Expresso. Publicado a 04 de Junho de 2017 às 9h00. Recuperado a 28 de Maio de 2020 às 21h18. 
  6. Fraccionismo”. Wikipédia, a enciclopédia livre. Esta página foi editada pela última vez às 06h53min de 3 de maio de 2020. Recuperada às 21h23min de 28 de maio de 2020.
  7. 27 de Maio: Onde estão os corpos das vítimas?”. AngoNoticias. Publicado a 25 de Maio de 2020. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 21:26.
  8. Angola assinala 43 anos da tragédia do 27 de Maio”. Jornal de Angola. Publicado a 27 de Maio de 2020. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 21:29.
  9. 27 de Maio: Recordar para prevenir”. Santos Vilola. Jornal de Angola. Publicado a 27 de Maio de 2020. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 21:31.
  10. 27 de maio de 1977”. Deutsche Welle. Publicado a 27 de Maio de 2020. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 21.33.
  11. “O 27 de Maio foi uma sucessão de erros políticos históricos lamentáveis” - Min. da Justiça”. Angola24Horas. Publicado a 28 de Maio de 2020. Recuperado a a 28 de Maio de 2020 às 21:37.







Etiqueta principal: História de Angola.
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27 de maio de 2020

Luanda, 27 de Maio de 1977

Presidente Neto, Minist.da Relações exterior JES e Nito, Minist. da Administração Interna



José Eduardo dos Santos: 
o principal vencedor do 27 de Maio de 1977?

Foi José Eduardo dos Santos que convenceu a direcção soviética de que a estabilidade de Agostinho Neto era melhor para a URSS do que a confusão que seria inevitável se Nito Alves tivesse êxito.

Por José Milhazes no Observador a 22 de Maio de 2020, às 00:02. Tem comentários.

Normalmente, quando se fala do 27 de Maio de 1977 na história de Angola, dois nomes surgem no centro da luta pelo poder no Movimento Popular: Agostinho Neto, então Presidente da República, e Nito Alves, dirige da oposição radical no seio do MPLA. Porém, é preciso prestar atenção à figura de José Eduardo dos Santos, então ministro dos Negócios Estrangeiros daquela antiga colónia portuguesa, nesses acontecimentos.

Parece não haver dúvidas de que os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 foram o corolário sangrento da luta entre fracções políticas dentro do MPLA, uma prática historicamente normal no seio de movimentos e partidos marxistas-leninistas. Mas há ainda muitos episódios que esperam o seu esclarecimento cabal, o que só se tornará possível com o acesso a arquivos angolanos, soviéticos e cubanos.

Um desses episódios é o do papel da União Soviética na luta política no seio do MPLA. Alguns dirigentes angolanos acusaram a cúpula do Partido Comunista da União Soviética de ter apoiado o “golpe” de Nito Alves com vista a derrubar Agostinho Neto, por considerar que este se estava a afastar do “marxismo-lenismo”, ou seja, da “linha soviética”.

Uma das fundamentações dessa tese é o facto de Nito Alves ter representado o MPLA no XXV Congresso do Partido Comunista da URSS, que se realizou entre 24 de Fevereiro e 5 de março de 1976. Mas esse facto ainda não é prova do apoio do Kremlin ao revolucionário angolano. Recordamos, porém, que ele foi nomeado pelo movimento angolano para o representar no fórum máximo dos comunistas soviéticos e não por estes.

Por outro lado, segundo alguns investigadores, nomeadamente Alexey Jarov, veterano soviético da guerra civil em Angola, Nito Alves poderia ter utilizado a sua visita a Moscovo para sondar a direcção soviética sobre ­a sua acção e teria ficado convencido do seu apoio. Oleg Arkataev e Stanislav Frenorov escrevem mesmo que “na Secção Internacional do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética simpatizavam com Alves e olhavam com desconfiança para Neto e Carreira devido à demasiada iniciativa própria”.  Sublinhe-se também que, do ponto de vista ideológico, as ideias de Nito Alves como a aceleração do processo revolucionário em Angola estavam mais próximas dos ideólogos soviéticos do que as de Agostinho Neto.

Porém, como é sabido, os soviéticos não foram em apoio dos “nitistas”, deixando aos cubanos a salvação do regime de Agostinho Neto.

Isto pareceu dever-se, entre outros factores, à febril actividade de José Eduardo Santos, então ministro angolano dos Negócios Estrangeiros. Segundo Alexey Jarov, foi esse dirigente angolano que convenceu a direcção soviética de que a estabilidade de Neto era melhor para a URSS do que a confusão que seria inevitável se Alves tivesse êxito.

Oleg Arkataev e Stanislav Frenorov apoiam esta posição, sublinhando que “ajudou o facto de o ministro [JES], na sua juventude, ter recebido a sua instrução de engenheiro de petróleos na capital da República Socialista Soviética do Azerbaijão”. Além disso, ele teve um curso intensivo anual de preparação militar num dos institutos da URSS, tendo obtido a especialidade de oficial de comunicações.

José Eduardo dos Santos ficou sob a mira dos serviços secretos soviéticos após o seu regresso da URSS. O agente Boris Putilin recorda vários contactos com o futuro Presidente de Angola: “Em Fevereiro de 1974, eu cheguei ao Congo (Brazzavile). Trabalhava ai como primeiro secretário da embaixada: a direcção fundamental do trabalho eram os contactos com o MPLA.

Nos primeiros tempos, eu aí contactava, fundamentalmente, com o segundo homem no movimento: Lúcio Lara. Ele era o representante do MPLA…

Agostinho Neto apareceu (em Brazzavile) no início de 1975. Em 1974, José Eduardo dos Santos tornou-se o dirigente oficial da representação de Angola em Brazzavile. E visto que ele era o representante oficial, eu mantinha relações com Lúcio Lara e José Eduardo dos Santos. Este, nessa altura, estava casado com uma russa, já tinha nascido a filha. Por isso, ele, de quando em quando, vinha visitar-me”.

Outro encontro teve lugar num dia histórico para Angola: “A direcção soviética enviou à cerimónia oficial de 11 de Novembro de proclamação da independência do Estado de Angola uma delegação dirigida por Afanasseko, embaixador soviético em Brazzavile, eu também fazia parte. Da delegação faziam parte também embaixadores dos países socialistas no Congo. Chegámos a Luanda e no aeródromo não havia ninguém. O nosso avião Antonov-12 (sob a bandeira da Aeroflot) aterrou. Baixaram-se as escadas. Saí e vi perante mim, a cerca de dez-quinze passos, um soldado angolano com uma espingarda americana, pendurada por um fio. Os olhos do soldado estavam vazios. Ele segurava a mão no gatilho e apontava para a minha barriga. Não se sabia quem mandava no aeródromo. Além disso, eu não podia correr até ao sentinela, porque ela abriria fogo e, a dez metros, furava-me todo. Nos seus olhos não havia qualquer sentido e penso que ele não sabia português. Fui salvo pelo chefe da segurança do aeroporto, um angolano que me conhecia perfeitamente. Ele correu 150 metros aos gritos: “Boris!”. Isso ajudou-me. Depois fomos levados para o hotel. Nessa altura estava lá ao já falecidos Alexei Ivanovitch Dubenko e Igor Uvarov”.

“Às 11 horas da manhã”, continua o agente soviético, “chegámos do hotel à sala do município para a cerimónia. Ele foi iniciada pelo nosso embaixador no Congo, que enviou saudações da direcção soviética. Ele falava da varanda, debaixo da qual tinha lugar um comício na praça. José Eduardo dos Santos foi o tradutor de russo para português. Então, ele era ministro dos Negócios Estrangeiros”.

Os estudiosos russos consideram que a carreira de José Eduardo dos Santos deu um grande salto precisamente depois da derrota dos “nitistas”.

“A partir desse momento, a carreira política do MNE de Angola sofreu um brusco crescimento. As relações com a URSS concentraram-se completamente nele. Os fornecimentos daí: fosse de tanques, bustos de Lenine ou outros objectos necessários para a estabilidade do Estado e para o papel dirigente do partido” – consideram Oleg Arkataev e Stanislav Frenorov, acrescentando que a actividade de JES no 27 de Maio de 1977 contribuiu em grande parte para ele se tornar o herdeiro de Agostinho Neto.

Comentários
  1. Adelino Lopes [22 de Maio de 2020, às 18:41]:
    Chamou-me particularmente à atenção  a frase ““na Secção Internacional do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética simpatizavam com Alves e olhavam com desconfiança para Neto e Carreira devido à demasiada iniciativa própria””. Elucidativo.
  2. Venezuela Livre [22 de Maio de 2020, às 20:09]:
    Jes vai direto ao inferno.
  3. Álvaro Aragão Athayde [25 de Maio de 2020, às 23:05]:
    Gostei.
    O PCURSS estava com o Nito Alves e depois virou… “isto” talvez o explique.
    Os Soviéticos não gostavam nem do Neto nem do Lara porque eram muito “independentes”… Titistas no calão da época.
    E que depois do 27 de Maio os Soviéticos achavam que eram donos do ZeDu qualquer cego via.
    Enganaram-se, mas isso são outros entretantos.
    Devagarinho, devagarinho, vai acabar por se saber tudo.





LANÇAMENTO DO LIVRO

FRACCIONISMO: 
QUEM DISSE O QUÊ NO «JORNAL DE ANGOLA» ANTES E DEPOIS DO 27 DE MAIO DE 1977

Dia 27 de Maio | 16H |
Local: Jardim das Francesinhas, sito na R. Francesinhas, 1200-661 - Lisboa  
(perto da Assembleia da República)

Este ano o 27 de Maio de 1977 voltará a ser lembrado. Será assinalado pela ELIVULU Editora com o lançamento do livro Fraccionismo – Quem Disse o Quê no Jornal de Angola Antes e Depois do 27 de Maio de 1977 da jornalista e investigadora Leonor Figueiredo. Uma obra que se junta à nossa colecção «Biblioteca de Cárcere». 
Numa altura em que o governo angolano saiu do silêncio com a criação da «Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos», contestada por familiares e vítimas do 27, faz todo o sentido dar à estampa as declarações então proferidas no jornal do poder. 
Passados 43 anos do massacre que ceifou a vida de milhares de angolano(a)s, Leonor Figueiredo aborda o tema, lembrando os discursos directos de Agostinho Neto, Lúcio Lara, Iko Carreira, Beto Van Dúnem, Saidy Mingas, Dino Matross, Lopo do Nascimento, José Eduardo dos Santos e outros.

«Este trabalho pretende espelhar as páginas do Jornal de Angola entre 1 de Janeiro e 11 de Dezembro de 1977, tendo como moldura os acontecimentos que se iniciaram a 27 de Maio. Trata-se de interrogar o passado recente, percorrendo o caminho do “fraccionismo” traçado pelo jornal do poder. Quisemos saber, no período pré-27, quem falou de “fraccionismo” e como se lhe referiu, além de verificar como este órgão de comunicação social noticiou, adjectivou e comentou, directa e indirectamente a «fracção» discordante da direcção do MPLA. No pós-27 de Maio, o foco incidiu no que foi noticiado e nos dados oficiais que daí se podem inferir, quer sobre o MPLA, quer sobre os “fraccionistas”». A autora especifica.

O livro será apresentado a 27 de Maio, às 16H, num jardim de Lisboa, pelo sociólogo Manuel dos Santos. Estarão presentes pouquíssimos convidados, devido à pandemia da Covid-19. 
Se as condições técnicas permitirem, tentaremos a transmissão online a partir da nossa página em https://www.facebook.com/elivulu/.

PARA COMPRA ANTECIPADA

Em Portugal a compra realiza-se por encomenda e enviado por correio CTT. Basta ligar ou enviar mensagem para +351920540815, também conectado ao WhatsApp, ou ainda por email: comercial@elivulu.org

A obra pode ser adquirida na livraria Komutú, em Luanda, localizada no Nova Vida, rua 54, edifício Kissama, loja 3B, contactável a partir do número +244936763484.




Fontes
  1. Imagem: "JES – Apoiou Nito Alves". Nguituka Salomão. Angola24horas. Publicado a 21 de Maio de 2015, às 19:06.
  2.  Texto: "José Eduardo dos Santos: o principal vencedor do 27 de Maio de 1977?". José Milhazes. Observador. Publicado a 22 de Maio de 2020, às 00:02.
  3.  Livro: Old Boys Network.







Etiqueta principal: História de Angola.
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24 de maio de 2020

Shoshana Zuboff em “Capitalismo de Vigilância”

podem pôr-se legendas em português



A professora de Harvard, Shoshana Zuboff, escreveu um livro monumental sobre a nova ordem económica que é alarmante. “A Era do Capitalismo de Vigilância” revela como as maiores empresas de tecnologia lidam com nossos dados. Como poderemos recuperar o controle de nossos dados? O que é o capitalismo de vigilância?

Neste documentário Zuboff levanta a cortina do Google e do Facebook e revela uma forma impiedosa de capitalismo no qual, não os recursos naturais mas o próprio cidadão, é a matéria-prima. Como poderão os cidadãos recuperar o controle de seus dados?

Estamos em 2000 e a crise do dot.com fez profundas feridas. Como sobreviverá a startup Google ao estouro da bolha da Internet? Os fundadores, Larry Page e Sergey Brin, já não sabem pra onde se virar. Mas, por acaso, o Google descobre que os “dados residuais” que os utilizadores deixam para trás nas suas pesquisas na Internet são preciosos e negociáveis.

Estes dados residuais podem ser usados para prever o comportamento do utilizador da Internet. Os anúncios na Internet poderão pois ser direcionados, o que é muito mais eficaz. Nasceu assim um modelo de negócio completamente novo: “capitalismo de vigilância”.





Fonte e Referências
  1. Shoshana Zuboff on surveillance capitalism | VPRO Documentary”. VPRO Documentary's YouTube Channel. Published on December 20, 2019. Retrieved on May 24, 2020. 
  2. Shoshana Zuboff”. Wikipedia, the free encyclopedia. This page was last edited on 26 March 2020, at 16:21 (UTC). Retrieved on 24 May 2020, at 14:09 (UTC).
  3. The Age of Surveillance Capitalism”. Wikipedia, the free encyclopedia. This page was last edited on 21 May 2020, at 06:32 (UTC). Retrieved on 24 May 2020, at 14:12 (UTC).
  4. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power by Shoshana Zuboff”. Goodreads. No publication date. Retrieved on 24 May 2020, at 14:17 (UTC).
  5. High tech is watching you”. John Laidler. The Harvard Gazette. Published on March 4, 2019. Retrieved on May 24, 2020.







Etiqueta principal: Capitalismo de Vigilância.
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23 de maio de 2020

O Covid-19, a DGS e o Leviatã

Frontispício da edição original do Leviatã (1651)



Para quem ainda não tenha percebido, a Direcção Geral de Saúde (DGS, não confundir, não obstante as parecenças, com a DGS que sucedeu à Pide) é, de momento, o mais intrusivo e potencialmente totalitário instrumento de poder do Estado português. 



A procissão da Senhora dos Passos da Graça

A DGS chegou ao cúmulo de determinar, com aquela autoridade divina que recebeu do alto, os seis novos mandamentos da comunhão higiénica.

Por P. Gonçalo Portocarrero de Almada no Observador às 00:06 de 23 de Maio de 2020.

Em boa hora, a Direcção-Geral da Saúde, editou umas normas sanitárias a que muito sugestivamente apelidou Passos necessários para comungar. Este título parece inspirado na multisecular e veneranda procissão do Senhor dos Passos da Graça, que agora passa a ter, nos ditos Passos, uma versão feminina: a procissão da Senhora dos Passos da (Drª) Graça (Freitas).

Para quem ainda não tenha percebido, a Direcção Geral de Saúde (DGS, não confundir, não obstante as parecenças, com a DGS que sucedeu à Pide) é, de momento, o mais intrusivo e potencialmente totalitário instrumento de poder do Estado português. A DGS, não só impôs 78 regras a observar pelos banhistas nas praias, como diariamente faz um comunicado sobre o estado da nação, em que opina sobre todo o tipo de matérias, até sanitárias, de que aliás pouco sabe, como ficou provado quando, por ocasião das primeiras notícias sobre a actual pandemia, disse que o vírus não era transmissível entre seres humanos, nem provavelmente chegaria a Portugal … Infelizmente, a DGS, usurpando competências que são próprias e exclusivas da Santa Sé, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e, mais propriamente, de cada bispo na sua diocese, decidiu resolver, por sua conta e risco, algumas questões de natureza litúrgica.

Com efeito, a DGS divulgou recentemente um conjunto de orientações para o culto católico. Algumas de estas regras receberam a denominação Oração Segura, ao estilo das operações da GNR, geralmente apelidadas com designações análogas, tipo Natal em segurançaPáscoa tranquilaFim-de-ano feliz, etc. Oração Segura não é, contudo, um nome apropriado, não só porque a oração é sempre segura – insegura é, pelo contrário, a falta de oração – mas também porque a oração, quando é individual, não implica qualquer risco de contágio.

A questão sanitária só se põe em relação ao culto público, sobretudo a Missa, que é, decerto, a acção litúrgica mais frequente e que mais pessoas reúne, todas as semanas, no nosso país. É óbvio que o risco de contágio existe e que, portanto, deve-se ser prudente na forma como se realizam essas liturgias, como já devidamente acautelou a CEP, sem necessidade de que a DGS viesse agora, com os Passos necessários para comungar, ensinar o Pai-nosso ao vigário, ou seja, aos senhores bispos e padres.

Por este andar, qualquer dia a DGS, tão zelosa no que respeita à saúde espiritual dos portugueses, edita normas sobre a Confissão inócua, para evitar que, com a absolvição dos pecados, se transmita o novo coronavírus. Com Solução final poderia estabelecer regras para a Unção dos doentes, quando administrada a pessoas em situação terminal. Casamento à linha permitiria os noivos católicos, colocados à distância sanitariamente prescrita, trocar as alianças através de uma cana de pesca de dois metros. Para o Baptismo fixe, a DGS poderia prescrever o uso de uma mangueira, que permitisse ao celebrante lançar, a dois metros de distância, um esguicho de água sobre o neófito, utilizando seus pais e padrinhos, por precaução, escafandro, ou a toilette de surf

Em relação à Eucaristia, que outra coisa não é do que o Corpo, Sangue, Alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, real, verdadeira e substancialmente presente, a DGS chegou ao cúmulo de decretar – como Deus, no monte Sinai, deu a Moisés os dez preceitos da Lei de Deus – os seis novos mandamentos da comunhão higiénica.

Estes Passos necessários para comungar são: “1. Manter dois metros de distância na fila; 2. Baixar a máscara duas pessoas antes da sua vez de comungar; 3. Higienizar as mãos com uma solução à base de álcool; 4. Receber a hóstia e levar de imediato à boca; 5. Voltar a colocar a máscara; 6. Higienizar as mãos com uma solução à base de álcool.

Para o cumprimento da primeira regra, que exige os dois metros de distância na fila da comunhão, a DGS poderia obrigar o uso de uma vara com esse cumprimento, pois nem sempre será fácil determinar, a olho nu, se a distância é de 1,99 ou 2,01 metros. Fiéis mais sofisticados poderiam até utilizar um mecanismo análogo ao das viaturas que, quando detectam a proximidade de um obstáculo, apitam.

A indicação para “baixar a máscara duas pessoas antes da sua vez de comungar” é confusa porque, desde que se forma a fila, quem estiver duas posições à frente, estará sempre “duas pessoas antes da sua vez de comungar”, como é óbvio, a não ser que alguma de essas duas pessoas entretanto desista, ou uma terceira se intrometa, dando o golpe. Mais do que “baixar a máscara”, teria sido mais correcto dizer que a mesma deve ser removida, total ou parcialmente, quando estiver a comungar a antepenúltima pessoa à sua frente na fila da comunhão, como se diria em português escorreito, em vez do que se escreveu na novilíngua sanitária, o DGSês.

A regra que obriga a “higienizar as mãos com uma solução à base de álcool” implica necessariamente que, antes da Comunhão, se proceda à lavagem das mãos, como fez Pôncio Pilatos. É muito salutar que só se comungue com as mãos limpas, mas não parece adequado que essa operação tenha lugar imediatamente antes de se receber a Sagrada Eucaristia. Se os fiéis já o tiverem feito no início da celebração, não necessitariam de o fazer neste momento, quando toda a sua atenção deve estar centrada na recepção iminente do próprio Jesus de Nazaré.

É de uma incrível ligeireza a forma como estes Passos necessários para comungar se referem à Sagrada Comunhão, que é o acto mais excelso que é dado a alguma criatura realizar. Comungar não é, como nestas instruções se diz, “receber a hóstia e levar de imediato à boca”, como quem consome um alimento qualquer, mas receber o próprio Deus, ainda que oculto sob a espécie do pão consagrado.

Quero crer que a DGS, com esta linguagem, que mais do que infeliz é indelicada, não teve o intuito de injuriar a fé eucarística dos católicos, mas a verdade é que utiliza termos que não são aceitáveis, porque ofendem a sensibilidade dos cristãos. Não se pede à DGS que faça um acto de fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, mas que respeite os milhões de católicos que nela crêem e se abstenha de dar palpites sobre o que manifestamente não sabe. O que tão desajeitadamente recomendou, podia e devia ter sido dito de forma muito mais simples e respeitosa: comungue imediatamente, sem mais.

Depois, a DGS manda “voltar a colocar a máscara”. Esta disparatada recomendação recorda uma orientação que era dada nos aviões da TAP. Ao dizer-se que, em caso de despressurização da cabine, as máscaras de oxigénio cairiam automaticamente à frente de cada passageiro, acrescentava-se depois, com um sorriso forçado, que cada um deveria ajustar a sua própria máscara e respirar “normalmente”. É fácil de imaginar a normalidade de uma tal situação, se calhar com o avião a cair em poços de ar, ou a pique … O mesmo se diga, mutatis mutandis, de repor a máscara depois de comungar: com certeza que qualquer fiel, com um mínimo de devoção, terá, nesse momento, coisas muito mais importantes em que pensar, do que na máscara…

A última regra é também, desgraçadamente, insultuosa para os fiéis: “higienizar as mãos com uma solução à base de álcool”. Com efeito, ao recomendar um segundo momento PP (Pôncio Pilatos), sugere-se que a Santíssima Eucaristia possa ser ocasião de contágio, pois imediatamente antes de a receber, os fiéis já tinham lavado as mãos.

Felizmente, como o povo é estúpido e os católicos ainda o são mais, cada um destes Passos da procissão da Senhora Graça é ilustrado com um pedagógico desenho, tal qual as instruções de segurança das companhias aéreas. Infelizmente, não dá para pintar, porque já estão coloridos. Não teria sido má ideia que os contornos das figuras aparecessem a tracejado e sem côr, para os coitadinhos dos católicos se entreterem a unir os traços e pintar. Fica a sugestão.

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O Papa Francisco e a CEP têm pedido aos padres e leigos que acatem as normas sanitárias em vigor e assim têm feito, de forma aliás exemplar, não obstante a compreensível contrariedade dos que, por terem uma fé mais esclarecida e uma maior devoção, mais sofrem com esta penosa situação. Pede-se à DGS, e demais instituições do Estado, que respeitem também a Igreja católica, nomeadamente reconhecendo a sua justa autonomia em matéria litúrgica, e que se abstenham de publicar orientações que, obviamente, ofendem a liberdade da Igreja, bem como a fé, a inteligência e a sensibilidade dos fiéis.

Bob cartoon, May 23
Telegraph Cartoons – May 2020
May 22 2020






Etiqueta principal: Fascismo Pós-Moderno.
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