Não me envergonhe, dr. António Costa!!!
Por Camilo Lourenço no Jornal de Negócios a 27 de Janeiro de 2019 às 21:30
Portugal não é um país racista; é um país onde, isoladamente, acontecem casos de racismo. Aliás, seria estranho qualificar de racista um país que tem governantes oriundos das ex-colónias (já olharam para a ascendência de Marcelo?), o primeiro negro (Mário Coluna) a capitanear uma seleção europeia e um negro como militar mais condecorado da sua História…
Há uns anos recebi uma chamada da jornalista Fernanda Câncio que, a propósito da ascensão de António Costa, queria falar sobre goeses em destaque na sociedade portuguesa. Antes de continuar, fica o esclarecimento: eu sou um produto do Império, filho de pai branco (Benedita, Portugal) e mãe indiana (Pangim, Goa).
O meu pai foi fazer serviço militar para a antiga Índia portuguesa e casou-se por lá (a diferença entre mim e António Costa é que ele é filho de pai goês e de mãe branca). Quando a União Indiana invadiu Goa, o meu pai fez parte do grupo de 800 militares presos num campo de concentração, de onde seria mais tarde recambiado para a "metrópole"… e de onde seguiu para Moçambique, para combater o terrorismo.
Voltemos à conversa: a certa altura, a Fernanda perguntou-me pelo racismo em Portugal e se não era afetado por ele. Expliquei-lhe que salvo casos isolados, em finais dos anos 70 quando regressei à "metrópole" (por causa de uma descolonização vergonhosa que só a Esquerda chama de "exemplar"), não sabia o que era racismo. Julgo que lhe expliquei também que esporadicamente ainda sou mimoseado com expressões racistas, maioritariamente vindas de radicais de esquerda, quando escrevo textos críticos no "Negócios" ou no FB. Mas como a Fernanda insistia no racismo (pareceu-me que acreditava ser Portugal um país racista), expliquei-lhe que uma coisa é racismo como política ou como problema endémico da sociedade e outra, totalmente diferente, o comportamento isolado de algumas pessoas (a quem chamo de energúmenos).
Nunca percebi se a Fernanda chegou a publicar alguma coisa, mas vou repetir o que lhe disse então: Portugal não é um país racista; é um país onde, isoladamente, acontecem casos de racismo. Aliás, seria estranho qualificar de racista um país que tem governantes oriundos das ex-colónias (já olharam para a ascendência de Marcelo?), o primeiro negro (Mário Coluna) a capitanear uma seleção europeia e um negro como militar mais condecorado da sua História…
Marcelino da Mata, fardado.
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Voltando ao meu pai, com quem desde cedo comecei a discutir a inevitabilidade da independência das colónias, ele costumava lembrar-me que Goa fora a única colónia a ter um vice-rei (o Brasil teve Rei, mas fugido de Lisboa…). E dizia que o melhor exemplo de que Portugal não discriminava as colónias, e quem lá vivia, era o investimento que lá fazia: ainda hoje quem vai a Maputo, 43 anos depois da independência, fica pasmado a olhar para uma cidade e um modo de vida muito à frente de Lisboa ou de outra cidade portuguesa da época…
Quando ouvi o primeiro-ministro responder a Assunção Cristas com referências à cor da pele, fiquei estupefacto: o político que não teve problemas em chegar a ministro, a líder do PS e a primeiro-ministro inventa discriminação racial? Porquê? Por recalcamento? Para se fazer de coitadinho e capitalizar o voto da extrema-esquerda, que precisa de causas novas para ser notícia? Lamentável. António Costa é o melhor exemplo de que isso não existe. Tem críticos a chamar-lhe "chamuça", "indiano" ou "caneco" (como se chamava em Moçambique aos oriundos de Goa) em tom depreciativo? Sim, mas são casos isolados.
Não há coisa pior numa sociedade do que inventar "causas" que não têm qualquer correspondência com o sentir coletivo. António Costa, o homem que tem o PS e o país rendido a seus pés, não pode cair nessa esparrela. É por isso que deve um pedido de desculpas ao país.
Para o final fica um pedido: não volte a fazer aquela figura. Já me chega a vergonha que me fez sentir no debate quinzenal.
Sinalização da Própria Virtude
Por Álvaro Aragão Athayde em coisas & loisas a 30 de Janeiro de 2019 às 15:38.
O texto de Camilo Loureço, que acima transcrevi, e o de Gabriel Mithá Ribeiro, de que abaixo forneço referência, destacam-se entre todos os que li sobre este tema por os autores não fazerem Sinalização da Própria Virtude (Virtue Signalling), isto é, não afirmarem algo do tipo “Eu não sou Racista… mas Portugal é Racista.”
Parece-me evidente que o Bloco de Esquerda e a Ala Esquerda do Partido Socialista, grupos que representam em Portugal a Esquerda Cultural, Esquerda Identitária, Marxismo Cultural, ou Nova Esquerda, estão empenhadíssimos em convencer o Mundo, e Portugal, de que Portugal é Racista.
Porque será?
Origem do texto
- “Não me envergonhe, dr. António Costa!!!”, Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 27 de Janeiro de 2019 às 21:30.
Origem da fotografia
- “M358 – Homenagem ao TCOR Marcelino da Mata”, Eduardo J.M. Ribeiro, Rangers & Coisas do MR, 20 de Agosto de 2011 às 20:52.
Referências
- “Costa ‘caneco’”, Gabriel Mithá Ribeiro, Observador, 26 de Janeiro de 2019 às 00:03.
- “Jamaica. “Câmaras comunistas não querem o ónus de deitar barracas abaixo””, Sónia Simões, Observador, 29 de Janeiro de 2019.
- “Virtue signalling”, Urban Dictionary.
- "A esquerda “identitária” diz adeus a Marx", José Pacheco Pereira, Público, 26 de Janeiro de 2019 às 06:45.
- "Nova Esquerda", Wikipédia, a enciclopédia livre.
- "Rudi Dutschke", Wikipedia, the free encyclopedia.
Etiqueta principal: Política.
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